domingo, 7 de setembro de 2014

Wilson Gomes e uma análise brilhante sobre a "fonte ideológica" do voto

Pesquisa do Datafolha sobre a fonte ideológica do voto confirma o que venho dizendo sobre a segmentação eleitoral brasileira em quem as campanhas deveriam prestar atenção.

1. Os estoques mais apetitosos de votos estão no centro, não na esquerda (7%) nem na direita (13%), que representam os dois menores segmentos do mercado eleitoral. Criou-se um dogma de que a "voz das ruas" do ano passado tinha uma pauta à esquerda e que, em virtude da "pressão da sociedade", o sistema político deveriam ir nessa direção. Eu sempre disse que isso não tinha fundamento, que a esquerda pode ser mais ruidosa mais eleitoralmente conta pouco e representa pouco. Aliás, representa menos que no ano passado, pois caiu de 10 para 7%, enquanto a direita avançou de 10 para 13%. Não quero infligir sofrimento a ninguém, mas as evidências indicam que os protestos de rua nos fizeram mais conservadores.

2. 80% dos votos estão no centro: 20% exatamente no meio, 28% na centro-esquerda, 32% na centro-direita. É aqui que dever-se-iam concentrar as campanhas. Há uma ligeira vantagem no vetor que vem da centro-direita para o centro (52% de votos), versus o vetor da centro-esquerda para centro (48%), mas vindo de qualquer lado dá para ganhar a eleição. Notem que a centro-direita também cresceu 3 pontos percentuais do ano passado pra cá.

3. Atualmente, a diferença entre Dilma e Marina nos três segmentos do centro é pequena, com maior vantagem de Dilma à esquerda e Marina à direita. Dilma ganha de 38 a 35% na centro-esquerda e de 37 a 33% no centro, mas perde de 32 a 35% na centro-direita. Mesmo na direita, a disputa é apertada: Marina ganha de 32 a 30%. Só no menor segmento, a esquerda, Dilma ganha com folga: 42 a 33%. A ideia de que Marina é a candidata da direita não é tão simples, mesmo que se junte direita e centro-direita, o que não é lá muito bento. Do ponto de vista da distribuição pelos cinco segmentos, Marina vai bem em quatro deles e mesmo na esquerda tem 1/3 dos votos. Na verdade, está ainda disputando o centro com Dilma. Do ponto de vista do acúmulo é que há maior número de eleitores marinistas de centro-direita do que de qualquer outro segmento, mas simplesmente porque este é o maior segmento eleitoral brasileiro. Dilma é que precisaria melhorar aí se quiser ter alguma chance no segundo turno.

4. Ao contrário do que pensam os torcedores eleitorais, que os temos em abundância por aqui, campanha é menos para você converter as pessoas, fazendo-as desejar consumir o que você tem para oferecer, e mais para você descobrir o que as pessoas desejam para oferecer um produto com chance de sucesso. Dilma Rousseff e Marina Silva não podem querer converter a centro-esquerda em esquerda - esse é o trabalho de Luciana Genro, Eduardo Jorge e os outros nanocandidatos de esquerda que falam apenas para os 7% que lhes prestam atenção. O que está em poder das campanhas é tentar falar para as pessoas onde elas já estão e convencê-las de que você tem as melhores soluções para as suas necessidades. A este ponto, falar para a esquerda ou para a direita é desperdiçar energia, o certo seria tentar aumentar os próprios percentuais no centro, e não deixar a adversária disparar. Repito uma regra básica de demografia eleitoral: quem conquista o centro, sempre ganha as eleições presidenciais.

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