segunda-feira, 9 de maio de 2011

Tradicionalismo: patrimônio ou patronagem?

A possibilidade de tombamento do tradicionalismo como patrimônio imaterial de Porto Alegre me preocupa. Já publiquei artigo do historiador Tau Golin sobre o tema neste modesto blog. Minha preocupação aumentou ao ver artigo do Secretário Municipal de Cultura na Zero Hora de seis de maio. Aumentou porque o Secretário escreve dando por favas contadas algo que deveria estar sob apreciação do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico Artístico e Cultural (Comphac). O secretário está tão certo da aprovação da proposta do MTG, que indica, inclusive, o período em que a situação estará definida: "até o início dos festejos farroupilhas".
A banalização do tombamento do patrimônio material ou imaterial é uma das moedas da especulação política. Ao invés do critério rigoroso, opta-se pela "demagogia patrimonial". Desse modo, valoriza-se de artificialmente certas expressões culturais, olhando-se menos para a manifestação em si e mais para os seus manifestantes. No caso concreto, o MTG e sua vasta rede de patrões e capatazes.
No decorrer de seu arrazoado, o secretário confunde as estações. Trata do tombamento do nativismo, quando o que está em discussão é o tombamento do tradicionalismo. Sabedor dos matizes deiferenciados entre essas duas referências, o secretário tenta amainar o impacto do tombamento do tradicionalismo dando uma roupagem diferente. Mas é o próprio MTG que afirma que o que se deseja tombar é "o tradicionalismos e suas manifestações culturais". E aí é que está o maior problema, já apontado no artigo de Tau Golin. O Tradicionalismo é um movimento de caráter privado e que merece respeito nas suas formas de organização. O que não dá para aceitar é que se ele seja o proprietário das manifestações culturais. Ou seja, tombar o tradicionalismo por causa de hábitos como o chimarrão e o churrasco, é como tombar a Igreja Católica por causa da Procissão de Navegantes.
A voracidade patronal do MTG não tem limites. No âmbito da política é difícil por freios nas suas ambições. Espero que o Comphac tenha rigor suficiente para evitar a completa banalização e a manipulação política do instituto do tombamento.

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