Contagem
feita em 1873 mostra que apenas 27 dos 25 mil proprietários em 1873
tinham mais de 100 escravos. Quase a metade tinha apenas um.
Francisco Brasileiro - Da Secretaria de Comunicação da UnB
A imagem
retratada pelos livros de história e obras artísticas brasileiras de
centenas de escravos negros trabalhando nas lavouras de açúcar e café
não traduz com fidelidade a realidade da escravidão no Brasil. Apenas 27
dos 25 mil proprietários de negros escravizados registrados
oficialmente nos estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Bahia e
Piauí, no ano de 1873, tinham mais de 100 escravos. Mais da metade deles
tinha até 4 escravos e pelo menos 10 mil eram proprietários de apenas
um.
A escravidão não foi exclusividade dos grandes
latifundiários. Mais que isso. A grande maioria dos escravos
identificados nos registros da época não estava nas grandes lavouras e
sim nas casas de famílias comuns de brancos e também em pequenas
propriedades rurais. Em Pernambuco, por exemplo, mais da metade dos
senhores identificados em 3.993 inventários, durante quase um século de
escravidão, tinha menos de 20 escravos.
Os números
constam de duas pesquisas apresentadas na Universidade de Brasília (UnB)
no último dia 10 de junho, em seminário organizado pelo Núcleo de
Estudos Comparados do Escravismo Brasileiro da universidade. Uma delas,
foi desenvolvida pela UnB e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A
outra, pela Universidade de São Paulo (USP). Os estudos fazem parte de
um projeto ainda maior, que durou cinco anos e envolve outras duas
universidades, de Sergipe (UFS) e do Rio Grande do Sul (UFRGS).
VENTRE LIVRE
- Para chegar à conclusão de que apenas 27 senhores tinham mais de 100
escravos, demonstrando que se tratavam de grandes latifundiários, o
professor Renato Marcondes, da USP, analisou as matrículas e as
classificações de escravos feitas pelo Império em cinco estados
diferentes, abarcando 14 províncias. Para os 25 mil senhores haviam 100
mil negros. O ano escolhido para a coleta dos dados foi o de 1873,
porque foi quando se deram os registros por exigência da Lei do Ventre
Livre.
“Os dados contrariam a imagem que tínhamos
de que a posse de escravos predominava no grande latifúndio”, afirmou o
professor Renato Marcondes, da USP, pesquisador responsável pelo estudo.
“Evidenciam uma outra realidade da escravidão, diferente do que se via
nos modelos consagrados. A escravidão era muito mais integrada à
realidade brasileira”, completou.
INVENTÁRIOS
- A pesquisa conduzida pelos economistas Flávio Versiani, da UnB, e
José Vergolino, da UFPE, confirma que a maioria dos escravos trazidos ao
Brasil não estavam nos grandes latifúndios, mas em pequenas
propriedades. Os dois professores coordenaram o levantamento dos 3.933
inventários, registros pessoais de bens originários de cartórios de todo
o estado de Pernambuco. A pesquisa abrange o período de 1800 a 1888.
“Os dados não consideram, entretanto, pessoas que não tinham bens
suficientes para fazer um inventário”, pondera Flávio.
Os
dois estudos mostram, ainda, que os senhores de poucos escravos
exerciam praticamente todas as atividades profissionais, entre eles
lavradores, comerciantes e até artesãos.
A
apresentação dos estudos na UnB teve como objetivo colher impressões de
outros especialistas no tema para aprimoramento. Alguns pesquisadores
apontaram a necessidade de ajustes nos dados. Os resultados das
pesquisas serão reunidas em uma publicação que será lançada em dois
volumes. O projeto é financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do
Distrito Federal (FAPDF).
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