Com a passagem do centro de decisão da Portugal
Telecom para o Brasil, "o Governo vai ficar a ver o investimento a sair
do país sem poder controlá-lo", declarou a deputada bloquista Mariana
Mortágua. O governo português não sabe se o Estado vai perder receitas
fiscais, enquanto o governo brasileiro vê com bons olhos uma nova
empresa global com sede no Rio.
A venda da
golden share permitiu a saída do controlo da PT, integrada numa nova
empresa dirigida por Zeinal Bava a partir do Rio de Janeiro. Foto José
Sena Goulão/Lusa
A fusão da Portugal Telecom e da brasileira Oi irá dar origem a uma
nova empresa, a CorpCo, após um aumento de capital de 2,7 mil milhões de
euros. No fim do processo, os atuais acionistas da PT ficarão com 38,1%
do capital da futura empresa liderada por Zeinal Bava.
O ministro brasileiro das Comunicações comentou o memorando assinado
pelos dirigentes das duas empresas, afirmando que a decisão já era
esperada. Em declarações à Folha de São Paulo, Paulo Bernardo sublinhou
que a sede da nova empresa será no Rio de Janeiro, com maioria de
capital brasileiro. "Eles me ligaram ontem, parece que têm planos de
fazer uma grande capitalização e grandes investimentos, mas precisamos
examinar o que disseram hoje na conferência. Vamos examinar, chamar a
direção [da empresa] para saber melhor os planos", afirmou o ministro ao
diário paulista. O investimento estatal brasileiro na Oi é liderado
pelo BNDES, o banco público de investimento, que detém em conjunto com
fundos de pensões de outras empresas públicas 38% da acionista
maioritária da Oi. E tal como os restantes acionistas, também vão
participar neste aumento de capital.
Para o secretário de Estado dos Transportes e Telecomunicações, Sérgio
Monteiro, "independentemente do que aconteça no futuro, a decisão é de
dois grupos de investidores privados, no mercado livre, concorrencial e
aberto que procura extrair o máximo de valor da dimensão que os dois
mercados em conjunto têm". Em declarações citadas pela agência Lusa, o
governante disse que "o Governo não tem nem tinha de ter nenhuma
intervenção ativa nem passiva" no negócio da fusão entre PT e Oi.
Questionado sobre o impacto da operação nas receitas fiscais em
Portugal, Sérgio Monteiro afirmou que ainda ninguém no Governo fez as
contas ao que o país pode perder com a passagem do controlo da PT para
fora de Portugal.
Bloco: "O Governo não pode lavar as mãos neste processo"
Para a deputada bloquista Mariana Mortágua, neste negócio "quem fica a
perder é o país". "O Governo não pode lavar as mãos neste processo, já
que teve responsabilidades ao apoiar a privatização e vendeu a golden
share que nos dava algum poder sobre esta decisão. Não pode por isso
lavar as mãos e dizer que é um negócio privado", declarou aos
jornalistas em reação ao anúncio da fusão PT/Oi e às palavras do
Secretário de Estado.
"Soubemos hoje que a Portugal Telecom vai deixar de ser portuguesa",
declarou a deputada, antevendo que "juntamente com a mudança do centro
de decisão, haja uma transferência óbvia de investimento, inovação,
postos de trabalho" da PT. Para Mariana Mortágua, esta operação veio
comprovar "que os monopólios naturais, as empresas que são cruciais para
o Estado, não podem ser privatizadas".
Comissão de Trabalhadores: "A PT vai passar a ser uma unidade de negócios da Oi"
Ouvido pela Rádio Renascença, um membro da Comissão de Trabalhadores da
Portugal Telecom afirmou não ter dúvidas "de que, a prazo vai haver
redução de efectivos, uma pressão muito grande para redução de custos e
retirada de direitos aos trabalhadores”.
“Estamos a ser confrontados com a fusão de uma grande empresa de
dimensão continental com uma empresa mais pequena de um país periférico
da Europa, chamada Portugal Telecom. Os centros de decisão vão ser
deslocados de Lisboa para o Brasil e a PT vai passar a ser uma unidade
de negócios da Oi”, explica Francisco Gonçalves.
O membro da CT da PT vai mais longe, dizendo que como "a Oi no Brasil
está organizada por regionais, dada a sua dimensão, vai passar a ter
mais uma regional, chamada Portugal Telecom, do outro lado do
Atlântico".
De: Esquerda.net
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