De: BBC
Iniciado em 2005, o curto pontificado do Papa Bento 16 foi marcado por várias polêmicas e alguns escândalos.
Declarações do próprio pontífice provocaram
críticas de muçulmanos, judeus, ativistas de defesa de direitos civis e
autoridades médicas – estes últimos especialmente preocupadas com sua
condenação do uso de preservativos.
Entre os escândalos, ele teve de
lidar com acusações de que o Vaticano teria ajudado a acobertar casos de
pedofilia e, mais recentemente, um escândalo desatado pelo vazamento de
documentos sigilosos que faziam referência à corrupção nos negócios da
Igreja Católica com empresas italianas.
Abaixo, confira alguns dos mais controversos episódios do seu pontificado:
Declarações sobre Maomé
Em 2006, em um discurso na Universidade de
Ratisbona, Bento 16 fez uma declaração sobre Maomé que levou a uma série
de protestos em países e comunidades islâmicas.
Na ocasião, durante uma palestra intitulada "Fé,
Razão e a Universidade", o papa citou o que seria, segundo ele, uma
frase do imperador bizantino Manuel 2º Paleologus sobre a prática de
espalhar a fé com violência: "Mostre-me o que Maomé trouxe de novo, e lá
você encontrará apenas coisas más e desumanas, como o seu comando de
espalhar pela espada a fé que ele pregava".
A declaração foi repudiada em todo o mundo muçulmano.
Em Nablus, na Cisjordânia, duas igrejas foram
atacadas com bombas. O governo do Paquistão pediu explicações para o
embaixador do Vaticano no país e até o Parlamento europeu aprovou uma
resolução recriminando o papa.
"É lamentável que o líder religioso dos cristãos
tenha tão pouco conhecimento do Islã, e que fale sem vergonha disso",
disse na época o clérigo iraniano Ahmad Khatam.
Discurso em Auschwitz
Durante uma visita ao local onde ficava o mais
conhecido campo de concentração nazista na Polônia, em maio de 2006,
Bento 16 atribuiu a culpa do Holocausto a "um bando de criminosos" que
teriam "abusado" do povo alemão.
As declarações em Auschwitz foram censuradas por
importantes figuras da comunidade judaica, para quem as palavras do
pontífice teriam reduzido a responsabilidade de aliados e cúmplices do
nazismo.
O presidente da União de Comunidades Judaicas
Italianas, Claudio Morpurgo, se disse "perplexo" com a declaração de
Bento 16 - primeiro papa alemão desde o século 11 - e o grande rabino de
Roma, Riccardo di Segni, classificou o discurso como "problemático".
Preservativos
Durante uma visita a África, em Março de 2009,
Bento 16 criticou a distribuição de camisinha para combater o problema
da Aids no continente, que concentra 75% das mortes pela doença no
mundo.
“O problema da Aids é uma tragédia que não pode
ser derrotada só com dinheiro ou pela distribuição de preservativos -
que até pode agravar o problema”, disse o pontífice, ao conversar com
jornalistas no avião, a caminho da capital de Camarões.
A Igreja católica prega que a castidade e a
abstinência são a melhor maneira de combater a Aids e, segundo o papa,
"a única solução" para o problema seria uma mudança "espiritual" que
faria as pessoas adotarem um "comportamento correto em relação ao
corpo".
As declarações provocaram protestos de entidades médicas e organizações de combate a Aids.
Pedro Chequer, por exemplo, representante no
Brasil no órgão da ONU para o combate à doença, chegou a classificar o
discurso de Bento 16 como "genocida".
Pedofilia
As denúncias mais graves de pedofilia na igreja
atingiram seu auge em 2009 e 2010. Segundo elas, dioceses locais e o
próprio Vaticano foram cúmplices no acobertamento de inúmeros casos de
pedofilia, hesitando em punir padres pedófilos e às vezes mudando-os
para postos nos quais continuaram a praticar abusos.
Enquanto algumas autoridades católicas
inicialmente qualificaram as acusações de serem parte de uma campanha
contra a Igreja, o papa aceitou a responsabilidade pelos episódios,
falando em "pecados dentro da Igreja".
Bento 16 encontrou vítimas e emitiu pedidos de
desculpas inéditos. Enfatizou que os bispos notifiquem os casos de
abusos e introduziu novas regras para apressar a apuração de denúncias
de pedofilia.
Para os simpatizantes de Bento 16, ele foi o papa que mais agiu contra os abusos.
Críticos, porém, dizem que foi necessário um bom
tempo para que o alemão compreendesse a seriedade dos crimes que lhe
eram notificados e ele permitiu que os abusos ficassem sem resposta por
anos para evitar arranhar a imagem da Igreja.
Corrupção
No ano passado, um escândalo foi desatado pelo
vazamento de uma série de documentos do Vaticano sugerindo episódios de
corrupção e lutas internas pelo poder nas altas esferas da Igreja
Católica.
Alguns dos documentos teriam sido retirados do
apartamento do próprio Bento 16, e o mordomo do papa, Paolo Gabriele,
foi preso, acusado de conexão com o caso.
Gabriele, que teria entregue os documentos a um
jornalista, disse que sua intenção era expôr a corrupção e as
perversidades do Vaticano.
Ele foi condenado a 18 meses de prisão por roubo de documentos oficiais, mas foi "perdoado" pelo papa.
Outro empregado do Vaticano, Claudio Sciarpelletti, também foi condenado e perdoado pelo pontífice.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por sua opinião