Novas pesquisas revelam: geração entre 18 e 24 anos já não se
encanta com mercadoria-símbolo do capitalismo — e valoriza, em
contrapartida, justiça social, ambiente, compartilhamento e comunicação
horizontal
Por Maria Fernanda Cavalcanti, no Mobilize
Um recente artigo do The New York Times,
da jornalista Amy Chozick, é mais uma prova de que os jovens mudaram. A
geração entre 18 e 24 anos está se importando mais com os outros e com o
mundo em que vivem, superando antigos valores e necessidades de consumo
que já não os convencem e, muito menos, os satisfazem. Uma dessas
mudanças importantes está no modo com que os jovens se relacionam com a
mobilidade.
Há poucas décadas, o carro representava o ideal de liberdade para
muitas gerações. Hoje, com ruas congestionadas, doenças respiratórias e
falta de espaço para as pessoas nas cidades, os jovens se deram conta de
que isso não tem nada a ver com ser livre, e passaram a valorizar meios
de transporte mais limpos e acessíveis, como bicicleta, ônibus e
trajetos a pé. Além do mais, “hoje Facebook, Twitter e mensagens de
texto permitem que os adolescentes e jovens de 20 e poucos anos se
conectem sem rodas. O preço alto da gasolina e as preocupações
ambientais não ajudam em nada”, diz o artigo.
Para entender esse movimento, o texto conta que a GM, uma das principais montadoras de automóvel do mundo, pediu ajuda à MTV Scratch,
braço de pesquisa e relacionamento com jovens da emissora
norte-americana. A ideia é desenvolver estratégias adaptadas à realidade
dos carros e focadas no público jovem para reconquistar prestígio com o
pessoal de 20 e poucos anos – público que tem poder de compra calculado
em 170 bilhões de dólares, segundo a empresa de pesquisa de mercado
comScore.
Porém, a situação não parece ser reversível. “Em uma pesquisa
realizada com 3 mil consumidores nascidos entre 1981 e 2000 – geração
chamada de millennials – a Scratch perguntou quais eram as suas
31 marcas preferidas. Nenhuma marca de carro ficou entre as top 10,
ficando bem abaixo de empresas como Google e Nike”, diz o artigo. Além
disso, 46% dos motoristas de 18 a 24 anos declararam que preferem acesso
a Internet a ter um carro, segundo dados da agência Gartner, também
citados no texto do NY Times.
O que parece é que os interesses e as preocupações mudaram e as
agência de publicidade estão correndo para entendê-los e moldá-los, mais
uma vez. Só que, agora, com o poder da informação na ponta dos dedos e o
movimento da mudança nos próprios pés fica bem mais difícil acreditar
que a nossa liberdade dependa de uma caixa metálica que desagrega e
polui a nossa cidade.
Jovens brasileiros preferem transporte público de qualidade
Essa tendência de não-valorização do carro já foi apontada também pelos nossos jovens aqui no Brasil. A pesquisa O Sonho Brasileiro, produzida pela agência de pesquisa Box1824, questionou milhares de millenials
sobre sua relação com o país e o que esperavam para o futuro. As
respostas, que podem ser acessadas na íntegra no site, mostram
entusiasmo e vontade de transformação, especialmente, frente aos
desafios sociais e urbanos como falta de educação e integração.
A problemática do transporte público se repete nos comentários dos
internautas no site da pesquisa, que mantém o espaço virtual aberto para
todos que quiserem deixar sua contribuição de desejo de mudança para o
local em que vivem. A maioria das pessoas que opina enxerga o carro como
um vilão que polui e tira espaço da cidade e acredita que a solução
está em investimento em transporte público de qualidade. Esse é o desejo
dos jovens brasileiros que também já mudaram e agora estão sonhando,
mas de olhos bem abertos para cuidar do mundo em que vivem.
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