Giap em foto de Ricardo Stuckert |
Por Sergio Santeiro, de Niterói |
A China aborda a riqueza mineral e ambiental do Vietnã com a mesma avidez e desprezo que os EUA sempre dedicaram aos mais fracos. Contra isso, o general Giap volta a erguer sua voz.
Quem nos traz a notícia publicada no jornal La Repubblica, por Raimondo Bultrini, em 19/7/2010, é Silvio Tendler que, em seu magistral filme Utopia e Barbárie, tinha já recolhido o depoimento do velho general sobre a atualidade vietnamita, como em todo o mundo exposta à escalada da sociedade de consumo de massa. Sua notável resposta, o rosto iluminado, é de que agora vivemos em paz.
Certamente nós, que apenas vivemos a pequena guerra de todos os dias, não temos como aquilatar quão significativo viver em paz representa para um povo milenar sujeito a um século de guerra contra a dominação estrangeira, e mesmo para nós, como para eles a paz é tudo.
E, no entanto, lá como aqui, as novas formas da dominação insinuam-se travestidas na velha fantasia do progresso, não importa a que preço. Pois não é que ergue-se de novo como necessária sua voz contra a política do governo vietnamita, que submete a proteção das montanhas e rios de sua terra aos interesses econômicos em aliança com a China, a segunda maior potência do mundo, em vias de tornar-se a primeira, assim que os Estados Unidos sucumbirem ao desastre de si mesmos.
O governo autorizou a exploração da bauxita, de que se extrai o alumínio, em conjunto com empresas chinesas, o que não o fazem em território chinês fechadas 100 minas por medo das graves sequelas ambientais.
Lá administrarão em joint ventures os canteiros das minas na província nórdica de Cao Bang, uma encantadora cascata de montanhas e colinas cultivadas, justamente na fronteira com a China. Cao Bang faz parte também da memória histórica do país, teatro de algumas das mais extraordinárias vitórias do jovem Giap contra os franceses e, ainda antes, refúgio e quartel general de Ho Chi Minh, às vésperas da revolução antijaponesa de 1945.
Acrescenta o jornalista: é uma pena que as águas de rios importantes como o Ba e o Serepok sejam contaminadas pelos agentes químicos e tóxicos derivados da exploração em uma região habitada pelo maior número de etnias indígenas não vietnamitas, tradicionalmente deixadas para trás pelo desenvolvimento, que já coloca o Vietnã entre as economias mais fortes da Ásia, com 5,3% de crescimento anual.
Quer a China tratar o Vietnã como fazem conosco os Estados Unidos. É, sem dúvida, um feito extraordinário alimentar e manter a coesão de um bilhão e meio de seus habitantes. Mas precisava fazê-lo à custa de seu mais frágil vizinho? Não por acaso a vanguarda da esquerda no mundo e também entre nós incorporou como importante frente de luta a questão ambiental. Não há como sobreviver em paz em terra devastada, não mais pela guerra, mas pelo tal progresso a qualquer preço. Afinal, o preço somos nós ou os eventuais, em os havendo, sobreviventes.
Fonte: ViaPolítica
Leia o artigo original de Raimondo Bultrini, em La Reppublica
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por sua opinião