Garrincha faria (ou não) 80 anos nesta segunda
Botafogo lembra aniversário do ídolo no dia 18 de outubro, mas biógrafo e até túmulo indicam 28 como a data certa do nascimento
Por Alexandre AlliattRio de Janeiro
Se fosse vivo, Mané Garrincha seria hoje um senhor de 80 anos com um bocado de história para contar. Mas a dúvida é se estaria em festa nesta segunda-feira pela chegada de sua oitava década de vida ou se a comemoração teria ocorrido dez dias atrás. Acontece que o anjo das pernas tortas também tem datas distorcidas. Há uma dúvida sobre quando o mito efetivamente veio ao mundo: 18 ou 28 de outubro.
O registro mais forte sobre vida e obra de Garrincha pertence a Ruy Castro, o criador da bíblia sobre Mané, a biografia "Estrela solitária - Um brasileiro chamado Garrincha". Nela, o escritor conta que houve um equívoco no cartório de Raiz da Serra quando o pequeno Manuel foi registrado por seu pai, Amaro Francisco dos Santos. Diz o texto:
- O registro do nascimento de Manuel foi feito com atraso e errado. Amaro levou quase a primeira semana de novembro para ir ao cartório de Raiz da Serra e atrapalhou-se com a data do nascimento. Disse 18 de outubro quando deveria ter dito 28, que foi o dia em que Manuel nasceu: 28 de outubro de 1933.
Mas a dúvida persiste. Tanto que o Botafogo comemorou os 80 anos de um de seus maiores ídolos no dia 18, em vez de fazê-lo nesta segunda. O clube convocou a imprensa para uma exibição do filme "Garrincha, alegria do povo". E inclusive convidou um ex-goleiro que enfrentava o craque nos tempos de Pau Grande, distrito de Magé (RJ), onde Mané nasceu.
Ruy Castro, porém, não tem dúvidas. Ele diz que chegou ao dia 28 como data com base em farta documentação.
- Eu consultei uma série de documentos para fazer a biografia, e os dados me pareceram bastante claros de que a data é 28. O Botafogo, aliás, não é muito especialista na história do Garrincha. O clube sequer tinha a relação completa dos jogos dele - comenta o biógrafo de Mané.
A indefinição envolve até a família. Edson Silva Cardoso, genro de Mané, casado com Maria Cecília (uma das filhas de Garrincha), assegura que a data é 18.
- É 18, sim. Isso dá confusão mesmo depois de ele morrer. Mas é 18. Tenho a certidão de óbito dele, e ali está 18.
É compreensível a dúvida. Basta imaginar como eram os procedimentos burocráticos em um distrito de uma cidade interiorana no Brasil dos anos 30. Na biografia, Ruy Castro conta que o registro de nascimento de Garrincha teve apenas Manuel como nome. Só Manuel, nada mais. Seu nome completo é Manuel Francisco dos Santos.
O livro traz também a imagem da carteira de Garrincha como empregado da Companhia América Fabril, e sua data de nascimento é preenchida com 28/10. Por outro lado, uma réplica de sua carteira de identidade, exposta em Pau Grande, tem 18/10 como dia em que ele veio ao mundo.
As curiosidades só aumentam. Em Pau Grande, o túmulo onde jaz Mané traz 28 de outubro como data de nascimento. Mas erra o ano da morte: 1986, em vez de 1983. Na mesma localidade, porém, há um busto em homenagem ao filho ilustre. E lá está 18 como dia em que ele foi dado à luz
A confusão é tão grande, que nem a cantora Elza Soares, mulher de Garrincha por 16 anos (entre idas e vindas), se arrisca a determinar uma data como a certa.
- Olha, acho que é 18. Tenho dúvidas também. Mas a gente podia comemorar nos dois dias. Só o Mané mesmo para ter dois aniversários - brinca Elza.
A lenda
Personificação máxima do talento brasileiro, Mané foi bicampeão mundial com a Seleção - já como destaque em 1958, na Suécia, e como enorme protagonista em 1962, no Chile. Virou quase um sinônimo do maior Botafogo de todos os tempos. Vestiu a camisa alvinegra de 21 de junho de 1953, na vitória de 1 a 0 sobre o Avelar, com gol seu, até 15 de setembro de 1965, em outra vitória, por 2 a 1, sobre a Portuguesa-RJ.
Simples, quase infantil, levou a carreira paralelamente ao vício incontrolável pelo álcool. O passar do tempo transformou sua genialidade em decadência. E o fez sair do Botafogo. Mané defendeu ainda o Corinthians por sete meses em 1966, realizou amistosos com a Portuguesa-RJ em 1967, foi do Junior Barranquilla, da Colômbia, em apenas um jogo em 1968 e depois foi para o Flamengo.
No Rubro-Negro, foram 14 partidas e quatro gols. Foi uma passagem de cerca de seis meses. Depois, encerrou a carreira profissional no Olaria, em 23 de agosto de 1972 - em derrota de 1 a 0 para o Botafogo, ironicamente. Em seguida, fez jogos festivos por uma série de clubes pequenos Brasil afora. Em 1973, vestiu pela última vez a camisa da seleção brasileira, no chamado Jogo da Gratidão.
Mané Garrincha morreu em 20 de janeiro de 1983, consequência de uma cirrose hepática - o preço cobrado pelo excesso de bebida. Foi velado no Maracanã e sepultado em Pau Grande. Tinha 49 anos.
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