Do Jornal GGN - Pelo relato da correspondente do
Estadão, Cláudia Trevisan – que foi detida e algemada pela polícia, ao
tentar assistir a uma palestra do presidente do STF (Supremo Tribunal
Federal) Joaquim Barbosa na Universidade de Yale – a maior suspeita
sobre o causador do episódio recai sobre o próprio Barbosa.
A correspondente entrou normalmente em Yale, circulou pelos corredores em que circulam alunos, professores e visitantes.
Ao pedir informações a um policial, foi detida. E as declarações do
policial deixam as pistas sobre a origem das denúncias contra a
correspondente (http://glurl.co/csC):
“Foi o único momento em que me alterei. Disse que ele não podia
fazer isso. Ele respondeu que sim e teve seu êxtase autoritário: we know
who you are, you are a reporter (você sabe quem você é, você é uma
repórter). Que crime!!!! We have your picture, you were told several
times you could not come (Nós temos sua foto, você foi avisada várias
vezes que não podia vir)”.
A troco de quê a policia de Yale teria uma foto da correspondente?
Foram avisados por quem? Havia duas pessoas que sabiam de sua ida à
Universidade: a Diretora de Comunicação e o próprio Joaquim Barbosa, a
quem a jornalista telefonou pedindo entrevista.
A Diretora negou a autorização para assistir à palestra. Certamente,
não havia como lhe negar o acesso à Universidade, que é aberta a alunos e
ao público. Não há nenhum histórico entre a repórter e seu jornal e a
Universidade, para sua foto estar nas mãos de um policial, com a ordem
de detê-la.
Segundo o relato:
“Fui algemada enquanto ele dizia "you know why you are being
arrested, no?" (você sabe porque está sendo presa, não?). Ao que eu
dizia que não. "You were told several times you could not come here"
(Você foi avisada diversas vezes que não poderia vir aqui). Ao que eu
repetia que não”.
As únicas informações objetivas sobre ela eram de Joaquim Barbosa,
que já provocou conflito com outros jornalistas do Estadão, devido a
denúncias sobre gastos com passagem e a compra da casa em Miami.
“Ela também havia conversado previamente, por telefone celular,
com o próprio ministro Barbosa, a quem solicitou uma entrevista. Barbosa
disse que não estava disposto a falar com a imprensa. Claudia, então,
informou o presidente do STF que o aguardaria e o abordaria do lado de
fora do prédio” (http://glurl.co/csA).
'Não entrei escondido nem forcei a entrada'
Leia a íntegra do relato da correspondente do 'Estado' em Washington, Cláudia Trevisan, enviado ao embaixador Cézar Amaral, cônsul-geral do Brasil em Hartford (EUA)
Leia a íntegra do relato da correspondente do 'Estado' em Washington, Cláudia Trevisan, enviado ao embaixador Cézar Amaral, cônsul-geral do Brasil em Hartford (EUA)
Cláudia Trevisan - correspondente do Estado em Washington
Caro Cézar, obrigada por sua preocupação e empenho no caso. A
história começou na manhã de esta quinta-feira, 26, quando o jornal
decidiu que eu deveria tentar falar com o ministro Joaquim Barbosa na
Faculdade de Direito de Yale. Ele participava lá de um evento chamado
"Global Constitutionalism Seminar 2013".
Liguei para a diretora de Comunicações da Faculdade de Direito,
Janet Conroy, e perguntei se poderia ter acesso ao evento. A resposta
foi que não. Segundo ela, o evento era fechado e eu não poderia entrar
no prédio. Eu disse que iria mesmo assim e esperaria o ministro na
calçada.
Cheguei a New Haven por volta das 14h30 e fui para a Faculdade de
Direito. Quando entrei, me dirigi à segurança que estava na portaria e
perguntei onde estava sendo realizado o evento. Meu objetivo era ter
certeza do local para poder esperar o ministro do lado de fora. Ela
disse que não tinha informação sobre o seminário no website da faculdade
e sugeriu que eu olhasse nas salas do corredor principal do prédio. Não
pediu minha identificação nem impediu que eu entrasse. Pelo contrário.
Portanto, I did not sneaked or broke in (Eu não entrei escondido
nem forcei a entrada). Eu andei pelos corredores, olhei pelos vidros
dentro das salas, subi dois andares, comprei uma água na cafeteria,
sentei no pátio interno e conclui que o seminário não estava ocorrendo
naquele edifício.
Sai de lá e fui ao Wooley Hall, uma sala de concertos da
Faculdade de Direito onde seriam realizados os eventos de hoje do
seminário. As portas do lugar ficam abertas e a entrada é livre. Muitas
pessoas usam o hall como atalho entre uma praça e a rua que fica do
outro lado. Não havia ninguém para pedir informações na entrada.
Subi as escadas e me dirigi a um policial. Perguntei se o evento
estava sendo realizado ali. Ele não respondeu e pediu que eu o
acompanhasse, o que fiz sem protestar ou resistir. No andar de baixo,
ele começou a me fazer perguntas. Eu não disse que era jornalista, mas
falei que estava em busca do ministro Joaquim Barbosa e que pretendia
esperá-lo do lado de fora. Informei meu endereço, telefone e
voluntariamente entreguei meu passaporte quando ele pediu uma
identificação. Quando estávamos já do lado de fora do prédio, pedi meu
passaporte de volta e ele se recusou a entregá-lo.
Foi o único momento em que me alterei. Disse que ele não podia
fazer isso. Ele respondeu que sim e teve seu êxtase autoritário: we know
who you are, you are a reporter (você sabe quem você é, você é uma
repórter). Que crime!!!! We have your picture, you were told several
times you could not come (Nós temos sua foto, você foi avisada várias
vezes que não podia vir). Ao que respondi que sim, era uma repórter, mas
não havia sido alertada several times (muitas vezes) de que não poderia
estar ali. Ao que ele respondeu que eu seria presa por "criminal
trespassing" (invasão criminosa).
Duas policiais chegaram e ficaram me vigiando. Nesse momento,
consegui ligar para o Benoni na Embaixada de Washington e avisar que
seria presa. Logo depois, o mesmo policial, DeJesus, voltou, ordenou que
eu ficasse em pé de costas para ele e colocasse minhas mãos para trás.
Fui algemada enquanto ele dizia "you know why you are being arrested,
no?" (você sabe porque está sendo presa, não?). Ao que eu dizia que não.
"You were told several times you could not come here" (Você foi avisada
diversas vezes que não poderia vir aqui). Ao que eu repetia que não.
Isso ocorreu por volta das 16h15. Em nenhum momento me disseram o
"Miranda Rights" (leitura obrigatória dos direitos). Fui colocada em um
carro de polícia e esperei por cerca de uma hora. Nesse período,
apareceu uma pessoa ligada ao dean ("diretor") da Faculdade de Direito,
que falou com o policial rapidamente. Ele me viu no carro, mas não se
interessou por saber minha versão dos fatos (quando estudei Direito,
aprendemos a desconfiar de relatos policiais e a valorizar o
contraditório).
Por volta das 17h15 fui transferida para um camburão e levada ao
distrito policial. Pedi para dar um telefonema, mas não permitiram.
Disseram que eu teria que ser "processed first", o popular fichada. Fui
revistada por uma policial e colocada em uma cela, dessas que vemos em
filmes americanos. Havia um vaso sanitário e um policial fornecia papel
higiênico pela grade. Não havia nenhum privacidade e tinha que "ir ao
banheiro" com policiais passando pelo corredor. Fiquei cerca de 3h30 na
cela. No total, permaneci quase cinco horas incomunicável. Só pude dar
meu primeiro telefone às 21h20, pouco antes de ser solta.
A grande questão é por que fui presa se obedeci ao policial, não
ofereci resistência e pretendia sair do prédio. Ao que eu saiba, ser
jornalista não é crime tipificado pela legislação americana.
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