Roda de músicos no Quilombo de São Julião, localizado no distrito de Teófilo Otoni (MG).Foto: Tata Lobo |
Léo Rodrigues - Portal da EBC
Brasília - Um eldorado negro. Esse é o título da canção composta por
Gilberto Gil em homenagem aos quilombos. A referência à riqueza dessas
comunidades não é gratuita. Embora pesem as dificuldades financeiras e
econômicas, as comunidades quilombolas guardam valiosos patrimônios:
conhecimentos de plantas medicinais, técnicas produtivas de agricultura
familiar, registro oral da história de povos negros do Brasil e uma
enorme efervescência cultural que abrange a culinária, os cantos, os
cultos, as festas e diversos outros tipos de manifestações.
A Fundação Palmares, órgão vinculado ao Ministério da Cultura voltado para a preservação da cultura afro-brasileira, já concedeu certificação a 1.834 comunidades quilombolas.
Nas estimativas do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra), existem cerca de 3 mil quilombos em todo território brasileiro.
Entretanto, somente 193 dessas comunidades, distribuídas em 111
territórios, possuem título de posse de suas terras.
Consagrado na Constituição Brasileira de 1988, o direito à terra das
populações quilombolas ainda enfrenta a burocracia e a morosidade. A
luta pela demarcação do seu território é, para estes povos, uma questão
crucial: só dessa forma podem preservar com segurança sua cultura e seu
modo de vida.
Veja no mapa o número de terras tituladas por estado:
O estado com maior número de territórios quilombolas titulados é o
Pará, com 52, seguido do Maranhão, com 23. Os estados de Goiás, Sergipe,
Minas Gerais e Rondônia possuem apenas 1 território titulado e outros
11 estados não possuem nenhum.
Segundo Lúcia Andrade, coordenadora da ong Comissão Pró-Índio de São Paulo,
os quilombolas do Pará e do Maranhão foram pioneiros na luta pela
regularização de suas terras e conseguiram articular aliados na
sociedade e no interior dos governos. “O número maior de territórios
titulados deve-se, sobretudo, à ação do governo estadual. O Instituto de
Terras do Pará foi o primeiro do país a conceder o título de posse de
terra a uma comunidade quilombola. No Maranhão, todos os 23 títulos
foram outorgados pelo governo estadual”, relatou Lúcia.
A Comissão Pró-Índio de São Paulo possui hoje um dos mais completos catálogos das comunidades quilombolas do Brasil (http://www.cpisp.org.br),
fruto de um monitoramento dos registros nos órgãos responsáveis.
Fundada em 1978, a ong reuniu antropólogos, advogados, médicos,
jornalistas e estudantes envolvidos na defesa dos povos indígenas diante
das ameaças do regime militar. Atualmente, desenvolve um trabalho junto
aos índios e quilombolas para reivindicar seus direitos territoriais,
culturais e políticos. “Disponibilizamos essa informação aos quilombolas
para que eles possam acompanhar em que medida o Poder Público está
cumprindo a sua obrigação constitucional. É uma iniciativa independente
que procura ser uma ferramenta para apoiar a luta pela garantia dos
direitos”, explicou Lúcia Andrade.
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