Arquivo de coronel assassinado pode elucidar crimes da ditadura
Como vocês acompanham, sempre escrevo aqui no blog que não adianta protelar por mais tempo a tentativa de esconder os assassinatos, torturas, desaparecimento de corpos de adversários e outros crimes cometidos pela repressão durante a ditadura militar.
A verdade virá à tona um dia, é inevitável, inclusive por confissões e documentos fornecidos pelo lado que reprimiu, sejam agentes da repressão ou seus familiares. É o que acontece agora, com esta reportagem de hoje do Rubens Valente na Folha de S.Paulo sobre o assassinato de um coronel do Exército e o fornecimento, por seus familiares, de parte dos documentos de seu arquivo à polícia gaúcha.
No início
deste mês, num assassinato a tiros ainda sob investigação e sobre o
qual ainda não há conclusões, foi morto em Porto Alegre o coronel da
reserva do Exército, Júlio Miguel Molinas Dias. Ele foi comandante do
DOI-CODI-Rio em 1981, quando do desaparecimento do ex-deputado Rubens
Paiva em janeiro e do atentado no show comemorativo do 1º de maio no
Riocentro naquele ano.
Menos
de um mês depois de sua morte, a família do oficial entregou documentos
de seus arquivos à Polícia Civil gaúcha. Entre estes documentos há um
relato manuscrito do coronel sobre o Riocentro e duas guias de entrada e
saída de material explosivo do Exército na época do atentado.E
mais: há um termo do Exército que confirma apreensão de objetos pessoais
de Rubens Paiva no DOI-CODI-Rio. A parte da documentação sobre Rubens
Paiva pode apontar até os últimos agentes da repressão que mantiveram
contato com ele ainda em vida.São os primeiros documentos do
gênero mostrando vinculações do Exército com o Riocentro e com o
desaparecimento de Rubens Paiva que podem vir a público no país. O
governador do Rio Grande, Tarso Genro (PT) já mandou sua polícia
transferir os documentos à Comissão Nacional da Verdade. Repito o
nosso bordão. Enquanto a verdade, ainda que não no ritmo ideal, começa
aparecer, persiste o erro das Forças Armadas, já há 48 anos, de não
virem a público, não assumirem e nem informarem sobre os crimes
cometidos inclusive por alguns de seus integrantes naquele período.
Elas
insistem no erro de não se desculpar perante à nação e de não assumirem
sua responsabilidade por um dos períodos mais nefastos da nossa
história, o da ditadura militar. Insisto: por mais que demore, a verdade
inexoravelmente virá à tona.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por sua opinião