Entrevista especial com Wladimir Pomar
Uma análise da atuação do PT nessas eleições é o que faz Wladimir Pomar na entrevista que concedeu à IHU On-Line, por e-mail. Afinal: O PT errou ou acertou em sua estratégia nesse pleito? Para Pomar, em termos parlamentares e executivos estaduais, o PT se consolidou como um dos principais partidos nacionais. Porém, erros sérios, aponta ele, foram cometidos e diretamente refletidos na campanha presidencial. “O PT evitou travar uma batalha e uma discussão política em profundidade sobre o futuro das mudanças necessárias à sociedade brasileira. Isto permitiu que Marina Silva se apropriasse de bandeiras que eram tradicionais no PT, e que as apresentasse como se o PT as houvesse abandonado”, afirmou.
Wladimir Pomar é analista político. Militante político desde 1949, ajudou a fundar o PCdoB em 1962. Preso no regime militar, atuou clandestinamente durante a década de 1970. Dez anos depois, tornou-se um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores e integrou a executiva nacional do PT entre 1984 e1990. Foi coordenador-geral da campanha presidencial de Lula em 1989.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como o PT sai desse primeiro turno?
Wladimir Pomar – O PT, em termos parlamentares e dos executivos estaduais, saiu reforçado. Embora possa ser derrotado em algumas disputas estaduais do segundo turno, ele saiu das eleições consolidado como um dos principais partidos nacionais.
Por outro lado, o PT cometeu alguns erros sérios na campanha, que se refletiram negativamente na eleição presidencial. Dois deles foram erros estratégicos. Em primeiro lugar, o PT evitou travar uma batalha e uma discussão política em profundidade sobre o futuro das mudanças necessárias à sociedade brasileira. Isto permitiu que Marina Silva se apropriasse de bandeiras que eram tradicionais no PT, e que as apresentasse como se o PT as houvesse abandonado. Em segundo lugar, o PT praticamente abandonou seu tradicional método de corpo a corpo com o eleitorado e de campanha de mobilização massiva, acreditando que bastava o apoio e a popularidade de Lula para vencer no primeiro turno.
Wladimir Pomar é analista político. Militante político desde 1949, ajudou a fundar o PCdoB em 1962. Preso no regime militar, atuou clandestinamente durante a década de 1970. Dez anos depois, tornou-se um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores e integrou a executiva nacional do PT entre 1984 e1990. Foi coordenador-geral da campanha presidencial de Lula em 1989.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como o PT sai desse primeiro turno?
Wladimir Pomar – O PT, em termos parlamentares e dos executivos estaduais, saiu reforçado. Embora possa ser derrotado em algumas disputas estaduais do segundo turno, ele saiu das eleições consolidado como um dos principais partidos nacionais.
Por outro lado, o PT cometeu alguns erros sérios na campanha, que se refletiram negativamente na eleição presidencial. Dois deles foram erros estratégicos. Em primeiro lugar, o PT evitou travar uma batalha e uma discussão política em profundidade sobre o futuro das mudanças necessárias à sociedade brasileira. Isto permitiu que Marina Silva se apropriasse de bandeiras que eram tradicionais no PT, e que as apresentasse como se o PT as houvesse abandonado. Em segundo lugar, o PT praticamente abandonou seu tradicional método de corpo a corpo com o eleitorado e de campanha de mobilização massiva, acreditando que bastava o apoio e a popularidade de Lula para vencer no primeiro turno.
Estas foram as causas principais do crescimento da Marina e do insucesso relativo da eleição de Dilma no primeiro turno.
IHU On-Line – Movimentos como o MST, que há muito não se manifestavam sobre a política nacional, divulgaram documento de apoio à Dilma. O que isso pode significar?
Wladimir Pomar – O MST, assim como os movimentos sociais em geral, sabem que uma diferença fundamental entre um governo dirigido pelo PT e um governo do PSDB-DEM consiste em que um governo dirigido pelo PT pode até cometer muitos erros, em vários terrenos, mas jamais admitirá criminalizar os movimentos sociais, ao contrário do que fez o governo FHC, com Serra como um de seus principais expoentes.
As bases do MST haviam sinalizado que votariam em Dilma já no primeiro turno, em grande parte por isso, em grande parte porque reconhecem que o governo Lula havia melhorado a situação econômica dos pobres. Assim, a direção do MST apenas verbalizou uma tendência fortemente presente em suas bases.
IHU On-Line – Como o senhor vê esse embate criado entre lideranças católicas e evangélicas, de apoio aberto à Dilma e ao Serra?
Wladimir Pomar – A clivagem principal que existe na sociedade, em especial numa sociedade multicultural como a brasileira, não é a religiosa, mas sim a de classe, ditada pelos interesses econômicos e sociais, em harmonia ou em conflito. Tanto entre os católicos quanto entre os evangélicos, a divisão social é uma realidade, embora não se deva desprezar o papel que o apelo religioso exerce sobre as decisões políticas que ambos têm que tomar.
Na campanha eleitoral, a grande imprensa e o candidato Serra procuraram transformar assuntos de apelo religioso, como o aborto, em pontos centrais da disputa. Nessas condições, embora tais assuntos tenham sido apresentados de forma distorcida, parte do eleitorado católico e evangélico se sensibilizou com as denúncias, apoiando Serra, enquanto outra parte percebeu a mistificação e colocou em primeiro plano seus interesses econômicos, sociais e políticos, optando por Dilma.
Porém, mesmo que esse tipo de assunto não tivesse entrado na disputa, seria natural a divisão entre os dois candidatos em virtude dos interesses de classe. As lideranças religiosas apenas expressam a divisão latente que existe em seu meio.
IHU On-Line – Quais as diferenças e semelhanças políticas entre Dilma e Lula?
Wladimir Pomar – Lula e Dilma possuem uma unidade política muito grande em torno dos projetos nacionais, econômicos e sociais que o Brasil necessita. Ambos sabem que só é possível elevar o padrão de vida do conjunto da população brasileira se o país desenvolver suas forças produtivas, com base nas ciências e tecnologias. O que inclui industrializar o país, tendo por base os novos parâmetros científicos e tecnológicos que permitam, ao mesmo tempo, proteger e recuperar o meio ambiente, produzir uma energia limpa, e praticar uma agricultura sustentável. E que tudo isso vai exigir um esforço considerável para colocar a educação em primeiro plano nos esforços nacionais.
Ambos também sabem que o mercado capitalista realiza uma distribuição desequilibrada e desigual das riquezas produzidas, necessitando que o Estado atue consciente e efetivamente no processo de redistribuição da renda e de amparo à saúde, através de políticas que reduzam os abismos existentes entre as classes mais ricas e as mais pobres. Nas condições brasileiras, esse é um processo complexo e novo, cujos embates ainda têm se limitado às disputas eleitorais. Se continuarem dentro desses limites, o que se pode esperar é que Dilma não só dê continuidade ao que o governo Lula implantou, como avance muito mais, porque as condições para isso foram criadas pelo próprio governo Lula.
Ambos também sabem que a luta contra a corrupção é um item importante da agenda política, assim como da agenda policial e judicial. Porém, supor que um governo eleito, tendo como aparato de Estado uma máquina, que há muito criada para servir aos interesses dos poderosos, possa mudar essa situação rapidamente e liquidar a corrupção a curto prazo, é uma ilusão. Num quadro como esse, Lula legará à Dilma um combate duro contra a corrupção e a necessidade de implantar reformas políticas, tributárias e fiscais, que fechem canos e torneiras que permitem o saque aos recursos dos contribuintes e o vazamento de dinheiro público para o bolso de aproveitadores. Mas não será fácil.
IHU On-Line – O que significa o apoio que veio do PSOL que sugere o voto nulo ou o voto crítico em Dilma?
Wladimir Pomar – Há muito tempo a esquerda e setores progressistas brasileiros sofrem da síndrome de confundir inimigos e amigos. Nesta eleição, foi dramático assistir a pessoas da esquerda ou progressistas apoiando a atual direita, representada pelo PSDB-DEM. Ou, mesmo não a apoiando diretamente, atacando Dilma e o PT como se fossem os inimigos principais. Nesse sentido, a decisão do PSOL em sugerir o voto, mesmo crítico, em Dilma, indica um bom vento de racionalidade política, que aponta para o inimigo verdadeiro.
IHU On-Line – O PT que entrou nessas eleições é o mesmo que sai?
Wladimir Pomar – Nunca se é o mesmo, seja lá quem for. O PT de 1990 não era o mesmo de 1989, o de 2003 não era o mesmo de 2002, e assim por diante. O problema consiste em saber o que realmente mudou e quais os novos desafios que há pela frente. Se Dilma vencer, as mudanças e desafios serão de um tipo. Se Dilma perder, serão de outro. De qualquer modo, o PT terá que fazer uma avaliação mais profunda de sua trajetória e, na melhor das hipóteses, analisar seriamente porque cometeu, no primeiro turno, erros estratégicos que colocaram em risco a vitória na campanha presidencial. O resto talvez seja desdobramento dessa análise estratégica.
IHU On-Line – Como o senhor define o PT de hoje?
Wladimir Pomar – O PT continua sendo a maior expressão da esquerda e dos sentimentos mais profundos dos trabalhadores e das camadas pobres da população brasileira. Nessas condições, ele deve abrigar democraticamente diferentes correntes de pensamento da sociedade brasileira, que possuem as classes populares como seu motivo de existência.
O problema é que isto não basta para dar maior organicidade, ou capacidade de resposta, ao PT. Por exemplo, em seu meio há os que ainda não acordaram para o fato de que, quanto mais o PT se torna uma alternativa de governo e de mudança no sentido democrático e popular, mais complexa e, em grande medida violenta, tende a ser a resposta da oposição de direita e, em certa medida, do centro. O PT terá que se haver com esse aumento de complexidade, tanto no caso da vitória ou derrota de Dilma.
Por um lado, no caso de vitória, a direita tentará impedir que o governo funcione a contento e avance na implantação de medidas de cunho mais democrático e popular, seja por meio de boicotes, seja por meio de barganhas com alguns aliados atuais do PT. De outro, no caso de derrota, haverá a intensificação dos esforços para simplesmente liquidar o PT como alternativa de governo. Nada diferente do que já foi tentado durante os mais de 30 anos de vida do PT, mas certamente com uma virulência bem maior.
O PT poderá, então, ser definido pelo grau de mobilização que conseguiu nesta reta final das eleições de 2010, e pelo grau de consciência que o conjunto de seus dirigentes e militantes tiverem a respeito dos desafios que terão pela frente, a partir dos resultados das urnas em 31 de outubro.
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