Esperei até a madrugada para ver se algum dos profundos analistas políticos de televisão arrumavam algum argumento sofisticado para explicar o êxito eleitoral de Dilma e, consequentemente, o fracasso de Aécio. Até agora, nada que supere o rés do chão da reação visceral dos torcedores políticos derrotados, registrada no Twitter, no Facebook e no WhatsApp: quem decidiu a eleição foi o programa bolsa família, quem elegeu Dilma foi o Nordeste. São dois argumentos e um só ao mesmo tempo, uma vez que para a percepção eleitoral disseminada nordestinos e beneficiários do bolsa família são praticamente sinônimos. Aliás, beneficiários de bolsa família são nordestinizados, para fins da equação que explica tudo. Aécio mesmo já havia dito que Minas tinha o seu próprio e particular Nordeste, no norte do estado, cheio dependentes dos programas do governo. E hoje muitos insistiram que "os bolsa família" do Rio e de Minas é que melaram o jogo no Sudeste. Tudo nordestino, claro.
Por fim, o meu arjumentista preferido, Diogo Mainardi, enunciou no Manhattan Connection o que tantos desejavam dizer: "O Nordeste sempre foi retrógrado e bovino. É uma região atrasada, pouco educada, pouco instruída" que sustenta eleitoralmente a fraude que é PT. Todos assentiram. Então, estamos combinados que foi o Nordeste, sua pobreza, sua dependência, o seu atraso, suas faltas de inteligência e discernimento e a sua falha moral a eleger Dilma, certo? A depender do aluvião de insultos aos nordestinos que foram despejados em sites de redes sociais (até mesmo por outros nordestinos) esta noite, não há sequer dúvida disso.
Será? O que dizem os fatos? Dilma Rousseff foi eleita com exatos 54.500.287 votos. Mas, vejam só, os habitantes do antigo Nordeste só lhe conseguiram dar 17.650.817 de votos. Ora, isso representa apenas 32,4% dos votos com que ela se elegeu, meus amigos. Falta ainda ainda 67,6% nessa conta. De onde vieram? O Nordeste é bovino e atrasado, "o câncer do Brasil", numas das mais amáveis expressões das mais retuitadas nesta noite simpática, mas Minas, Rio, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande Sul são lugares civilizadíssimos, não é mesmo? Vejam que nem incluí o Espírito Santo na equação, uma vez que do ES se duvida da pureza sudestina. Fiquei só com a nata, para não haver dúvida. Pois não é que dos nordestinos desses estados avançadíssimos vieram 25.715.896 votos? Pois é isso mesmo: SP, MG, RJ, PR, SC e RS, estados de puríssimas castas, deram a Dilma 47,2% dos seus votos. Contra apenas 32,4% do NE bovino, comprado à base de bolsas-esmola.
Sendo assim, gostaria de dar boas-vindas aos novos nordestinos. Aos 26,7 milhões de nordestinos das melhores castas do Sul e do Sudeste, mas também aos outros 11,1 milhões de nordestinos dos demais estados brasileiros, que se juntam esta noite aos 17,6 mi de nordestinos mal nutridos e educados do velho Nordeste, que ousaram desafiar os outros 48,4% de brasileiros e preferiram votar em Dilma Rousseff. E, o que é ainda mais atrevido e imperdoável, atreveram-se a vencê-los numa eleição justa e limpa.
A estupidez humana não conhece limites, meus amigos. Ainda mais em tempos sombrios.
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