SÃO PAULO - Policiais do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc), da Policia Civil, fizeram uma operação nesta quinta-feira, 23, sem comunicar a Prefeitura nem a Polícia Militar, na Cracolândia, região central de São Paulo, palco da Operação Braços Abertos, aposta do prefeito Fernando Haddad para reabilitar os dependentes de crack.
Por volta de 16h, cerca de dez viaturas cercaram os dependentes de crack que não estão inseridos no programa assistencial e estavam concentrados na Rua Barão de Piracicaba. Os policiais civis atiraram balas de borracha e jogaram diversas bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo na multidão, que correu a esmo e revidou jogando pedras. O quarteirão estava lotado de dependentes.
Agentes da Secretaria de Saúde e de Assistência Social, que também não sabiam da ação, ficaram no fogo cruzado. A ação ocorreu pouco tempo depois de policiais civis à paisana terem feito uma prisão de um dependente no local. Nesta primeira ação, uma dependente acabou ferida na cabeça com bala de borracha.
A reportagem apurou que a avaliação inicial da Prefeitura é que o programa Braços Abertos, que contava justamente com a ausência de repressão dos dependentes, foi prejudicada e terá dificuldades para prosseguir.
O Estado estava no local na hora da ação e viu a surpresa de guardas-civis, oficiais da PM e até do próprio secretário municipal de Segurança Urbana, Roberto Porto. Hoje completa uma semana que os dependentes que aderiram ao programa começaram a trabalhar e a equipe estava fazendo um balanço do período.
Foi possível testemunhar a prisão de ao menos cinco pessoas que foram também agredidas pelos policias civis ao serem obrigadas a entrar na viatura.
Entre os dependentes, o clima foi de revolta. Muitos gritavam desesperados, chorando diante da ação surpresa. "Que hotel que nada, eles querem é matar a gente", disse uma dependente grávida que corria da polícia.
Veja vídeo da ação da Polícia Civil:
Hotel. O policiamento está reforçado na Cracolândia e um casal de dependentes que preferiu não se identificar disse que a polícia entrou no hotel da operação Braços Abertos na Rua Triunfo. "Eu estava dentro do banheiro coletivo no corredor e, quando saí, eles pediram identidade. Pedi para pegar meu bebê recém nascido e tive que esperar eles levantarem se eu era fichada do lado de fora antes de amamentar o 'neném'. O bebê tem apenas 2 meses. "Nós estamos reconstruindo a vida com esse programa. Não vimos as bombas porque estávamos no curso"
O dependente J.P., que tem deficiência em uma das mãos, disse que foi agredido por policiais civis com um cassetete cromado de ferro e não está escutando com o ouvido direito por causa de uma bomba. "Estourou do meu lado. Mesmo sendo deficiente eles me agrediram. Sou usuário e não traficante" disse ele que está com cortes nos braços e nas costas.
Uma fonte próxima da Prefeitura, que preferiu não se identificar, disse que o que aconteceu não foi uma ação de inteligência e que a Prefeitura não estava sabendo. Ele disse que a orientação da polícia não era essa. "Pelo contrário" acrescentou.
Um dependente identificado como M.H.J., de 54 anos, disse que desde a manhã a Polícia Civil estava rondando o local. "Nós que estávamos no submundo sabíamos que isso ia acontecer. O clima já estava tenso", disse. Ele conta que os verdadeiros traficantes não estão sendo presos. "Traficante que é traficante não vem aqui, eles tão prendendo vapor e avião"
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