Operador de guindaste no Itaquerão trabalhava há 18 dias seguidos, aponta ministério
Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – O Ministério do Trabalho e Emprego informou hoje (10)
que José Valter Joaquim, operador do guindaste que tombou no último dia
27 no estádio do Corinthians, trabalhava há 18 dias seguidos, tendo
cumprido horas extras diariamente nesse período. Na avaliação do
superintendente do ministério em São Paulo, Luiz Antonio Medeiros,
embora seja legal o cumprimento de duas horas a mais de trabalho por
dia, é necessário limitá-las especialmente nos casos em que o estresse
do trabalhador possa representar risco à segurança. O acidente provocou a
morte de dois operários.
“Devido à rapidez da obra, todo o dia aqui tem duas horas extras por
dia. Estava conversando com a Odebrecht [construtora responsável pela
obra] no sentido de dar uma limitada nisso”, declarou Medeiros, após
fazer uma vistoria no estádio na manhã de hoje. Ele esclareceu ainda que
o trabalho por um período ininterrupto é legal. “Não sei o que a
empresa combinou com eles [funcionários], se esses 18 dias eram
compensados, banco de horas, não sei, mas achamos que há exaustão para
uma pessoa que opera um mecanismo tão delicado”, disse.
O operador de guindaste é funcionário da Locar, empresa contratada
pela Odebrecht para operar esse tipo de equipamento. A reportagem
telefonou para a assessoria de imprensa externa da terceirizada por meio
do número informado pela própria empresa, mas não conseguiu retorno até
o momento.
Em nota, a Odebrecht informou que, no período relatado pelo
ministério, o operador do guindaste ficou, na maior parte do tempo, em
área designada aguardando a liberação da peça para o içamento. A
construtora destacou que o equipamento foi contratado para manobrar as
peças da estrutura metálica de cobertura da arena e que esses trabalhos
nunca são contínuos.
Durante a vistoria, a superintendência iniciou a inspeção dos nove
guindastes que foram interditados pelo órgão um dia depois do acidente.
Os testes incluem, por exemplo, a verificação do peso suportado pelo
equipamento. “A máquina levantou 10 toneladas, então queremos ver se os
relógios estão marcando exatamente esse valor”, explicou. A equipe do
ministério chegou ao local por volta das 9h30 e, até as 14h30, quatro
guindastes haviam sido vistoriados. O balanço da inspeção será divulgado
ao final do dia.
A expectativa é que até o dia 16 todas as máquinas estejam
liberadas, inclusive a grua quebrada, que ainda está no local. Medeiros
informou que, além da liberação dos equipamentos, a Odebrecht deverá
firmar uma acordo com o ministério sobre horas extras, condições de
trabalho e segurança. “Para nós termos a garantia de que nada vai
ocorrer no futuro. A empresa vai ter que assinar um compromisso
conosco”, disse o superintendente.
A construtora prepara o plano que indicará como será retirada a peça
da cobertura que tombou no dia do acidente e destruiu cerca de 10% do
estádio. “Nós temos especialistas fazendo estudos para a remoção daquela
peça de 420 toneladas. É um processo que envolve uma técnica apurada. É
um documento que está em elaboração e assim que concluirmos vamos
apresentar aos órgãos competentes”, explicou o gerente comercial da
Odebrecht, Ricardo Carragio.
O mesmo documento foi solicitado pela Defesa Civil, que interditou a
área do acidente, para autorização de obras emergenciais no local.
Enquanto isso, a empresa não pode dar continuidade às obras. As
atividades nas demais áreas foram retomadas no dia 2. “Trata-se de um
plano que traga segurança para a mão de obra, porque desmontar uma
máquina dessa não é fácil. Pode ter acidente ou alguma coisa. Temos que
ter um plano aprovado também pelos técnicos do MTE”, explicou Medeiros. O
plano de remoção do guindaste, por sua vez, já foi entregue e aguarda
avaliação dos técnicos do MTE.
O Itaquerão, como é conhecido, sediará a abertura da Copa do Mundo
de 2014 e mais cinco jogos da competição, em junho do próximo ano. Antes
do acidente, a previsão para finalização do estádio era dezembro deste
ano. A entrega ficou para abril de 2014.
Edição: Carolina Pimentel//Texto atualizado às 16h22 para acréscimo da nota da Odebrecht
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