Paulo Muzzel
Finalmente a chamada “grande imprensa“ local acordou após uma longa letargia.
Estava praticamente “alheia” a uma verdadeira “chuva” de denúncias de
irregularidades que vêm sistematicamente ocorrendo no governo Fo-Fo
(Fogaça-Fortunati) desde 2005.
Em praticamente todos os órgãos da administração tivemos problemas muito
graves. Na Secretaria da Saúde um grande contrato de serviços de vigilância,
suspeita-se, tenha sido a causa da “execução” do ex-secretário Eliseu Santos. No
DMLU o diretor-geral no primeiro ano de governo foi afastado por denúncia de
irregularidades numa grande contratação de serviços de coleta. Na Carris um
diretor-presidente foi afastado por denúncia de “acerto” e superfaturamento na
pintura de ônibus da Copa. Um caso de ilícito de pequena monta, foram
“desviados” algumas (poucas!) dezenas de milhares reais. Rapinagem barata! Na
Secretaria da Juventude desvios no programa ProJovem originaram um CPI. O atual
secretário de Obras, ex-secretário da Juventude já foi indiciado criminalmente.
Continua na SMOV: “daqui não saio, daqui ninguém me tira”. Na SMAM o secretário
foi afastado, acusado pela Polícia Federal pelo suposto recebimento de propina.
Na Secretaria de Obras (SMOV), os projetos das obras da Copa foram entregues à
iniciativa privada (CIERGS). Deu “cacaca” vistoria do Tribunal de Contas
constatou um superfaturamento de 14 milhões, montante que seria pago a mais. No
maior projeto da Prefeitura, o SócioAmbiental (PISA), escutas suspeitas da
Polícia Federal flagraram secretário da Fazenda em conversas “íntimas e pouco
convencionais” com empresário de uma grande empreiteira. Resultado: rompimento
do conduto Álvaro Chaves. A antiga Secretaria do Planejamento (SPM), hoje de
Urbanismo (SMURB) retaliou o plano diretor da cidade: foram mais vinte leis
elevando índices construtivos, alturas, taxas de ocupação. Tudo sem estudos
prévios, ao sabor das pressões e dos interesses imobiliários e especulativos do
momento. Sindicância da Procuradoria do Município (PGM) constatou também
recebimento de propinas por servidores e chefias.. O Departamento de Esgotos
Pluviais (o DEP) também está sendo investigado, há fortes indícios de graves
irregularidades.
Pelo que se vê, os “pecados” do governo Fo-Fo foram e são muitos, demasiados.
Com raras e exceções – o SUL 21 e alguns blogs como o RS Urgente do Marco
Weissheimer -, que vêm há anos acolhendo e veiculando as denúncias, a briosa
imprensa “farroupilha” manteve-se quase sempre muito pouca aguerrida, pouco viu
e ouviu. Manteve-se silente. Para não dar na vista, de quando em vez veiculou
uma pequena nota, discreta, sem muito destaque registrando o afastamento de um
diretor de autarquia, de um presidente de empresa ou de um secretário
municipal.
Embora tardiamente, finalmente a imprensa local acordou. Zero Hora nas
edições de 25, 26 e 28 deste mês de maio finalmente deu destaque à denúncia de
inúmeras irregularidades que vêm ocorrendo na Procempa, a Empresa de
Processamento de Dados de Porto Alegre. Matérias de página, longo comentário na
página 10 e até um editorial.
As “barbaridades” foram demasiadas: nepotismo, escandalosos programas de
saúde pagos irregularmente, desvios de função, altos salários fixados sem
critério A empresa chegou em 2008 a ter 62 Cargos em Comissão para apenas 286
servidores concursados: um CC para cada cinco servidores do quadro .A empresa
gasta por ano quase 5 milhões com “eles”, os CCs. A Procempa. foi literalmente
“loteada” entre três partidos: o PTB, o PMDB e o PDT, virou “casa de
acolhimento.
As explicações do seu diretor presidente à imprensa beiram o ridículo. Não
teve resposta para as denúncias de ilícitos e desvios e ainda afirmou que no
governo Fo-Fo (Fogaça-Fortunati) a Procempa ganhou destaque, até foi incluída no
Conselho Político. Só não soube explicar porque a empresa foi afastada do
desenvolvimento do maior projeto de informática da Prefeitura, o SIAT, Sistema
Integrado de Administração Tributária, entregue a uma empresa privada (a
Consult, de Curitiba), com a qual a Prefeitura firmou contratos que totalizam
mais de 11 milhões de reais. E o mais grave: o sistema não está funcionando e há
fortes indícios de superfaturamento e outras irregularidades que estão sendo
investigadas pelo Tribunal de Contas (TCE). O Ministério Público já solicitou à
Justiça que determine a sustação dos pagamentos à Consult. A maior evidência do
desprestígio da empresa e do seu presidente é que Fortunati, que está nos
Estados Unidos visitando o vale do Silício não o incluiu na sua comitiva.
Cabe um registro final de fato singular, difícil de explicar e certamente
nada edificante. O presidente contratou sem qualquer processo público de seleção
uma profissional de jornalismo, pagando-lhe elevado salário, pasmem, para cobrir
as atividades da empresa à distância. Segundo consta ela mora em Florianópolis.
Ao se tornar de conhecimento público, o contrato foi cancelado, depois de terem
sido pagos quase trezentos mil reais pelos “serviços prestados”. Cabe ao TCE,
por dever de ofício, apurar se os serviços foram efetivamente prestados e qual a
sua natureza.
Paulo Muzell é economista.
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