Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – A família de Vladimir Herzog recebeu hoje (15), durante ato
público da 68 ª Caravana da Anistia, organizada pela Comissão de
Anistia do Ministério da Justiça, o novo atestado de óbito do
jornalista, torturado e morto nas dependências do Destacamento de
Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna
(:DOI-Codi), em 1975, durante a ditadura militar. O novo atestado aponta
como causa da morte lesões e maus-tratos sofridos por Herzog durante
interrogatório no DOI-Codi, órgão ligado ao Exército. Na versão
anterior, sustentada pelo Exército na época, a causa apontada foi
asfixia mecânica por enforcamento, indicando que o jornalista teria
cometido suicídio.
O filho do jornalista, Ivo Herzog, disse que a primeira verdade oficial
sobre a morte de seu pai foi o enterro, porque, de acordo com a
tradição judaica, quando a pessoa se suicida, deve ser enterrada junto
ao muro do cemitério, o que não aconteceu devido à coragem do rabino
Henry Sobel, que foi contra a versão de suicídio. “Hoje, tendo um
documento oficial do Estado que relata como meu pai morreu, mostrando
que ele foi assassinado, desmontamos a versão criada na ditadura e temos
um documento expedido por um juiz, dizendo que aquilo é mentira."
No entanto, ressaltou Ivo Herzog, "há mais coisas que precisam
aparecer, como quem foram os mandantes, os agentes". É preciso
investigar o crime em si, destacou.
Durante a cerimônia, no Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP), foi dada a declaração de anistia política post mortem
ao estudante Alexandre Vannucchi Leme. Além de estudar na USP,
Vannucchi militava na Ação Libertadora Nacional (ALN). Ele foi morto em
17 de março de 1973, aos 22 anos, após ser preso na cidade
universitária. O estudante também foi torturado e assassinado nas
dependências do DOI-Codi e teve o corpo enterrado na Vala de Perus, em
um buraco forrado de cal para acelerar a decomposição.
O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Paulo Sérgio Pinheiro,
destacou a importância de os diretos de Vannucchi serem reconhecidos na
própria universidade onde ele estudou e foi capturado. Pinheiro também
considerou decisiva a mudança da causa da morte de Herzog em um
documento oficial. “É a restauração da verdade. Não é possível que, em
plena consolidação da democracia, continuemos a viver com atestados
absolutamente falsos.”
Para
o presidente da Comissão Nacional da Anistia, Paulo Abrão, declarando a
anistia de Vannucchi, o Estado pede desculpas oficiais à família e
reconhece o legítimo direito de resistência à opressão. O Estado admite
também seus erros, para que eles não se repitam mais e para que país
possa exercer de fato sua democracia, disse ele. “O Estado já reconheceu
sua responsabilidade em torno da morte de Vannucchi. Hoje vamos
reconhecer a responsabilidade com relação às perseguições políticas que
ele sofreu e que levaram a esse desfecho trágico, que foi sua morte.”
A secretária de Direitos Humanos da Presidência da República, ministra
Maria do Rosário, destacou que reconhecimentos como a nova certidão de
óbito de Herzog e a anistia de Vannucchi refletem a luta de cada membro
da família dos torturados e mortos na ditadura, que nunca permitiram que
essas pessoas fossem esquecidas. “Eles trouxeram até os nossos dias de
democracia, o brilho dos olhos dessas pessoas que foram roubadas do
nosso convívio. Vladimir Herzog e Alexandre Vannucchi poderiam estar
conosco, contribuindo ainda muito mais do que já contribuíram com o
Brasil”, disse Maria do Rosário.
Edição: Nádia Franco
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