Estudo no Hospital Universitário da USP aponta que 35% dos casos de intoxicação grave envolvem pacientes de 13 a 22 anos
Pediatras iniciam hoje em SP campanha para exigir mais restrições à veiculação de anúncios de bebidas alcoólicas
JAIRO MARQUES
DE SÃO PAULO, Folha de S.Paulo, 16/3/2013
A publicitária Cyntia Schiavon, 39, ficou em desespero quando recebeu um
telefonema informando que a filha de 16 anos estava passando "muito
mal" em uma festa, regada a bebida alcoólica.
"Ela tinha 13 anos na época e jamais havia bebido vodca nem tinha
recebido incentivo em casa para beber. Quando cheguei ao local, ela
estava desmaiada e tive de carregá-la no colo até o carro. Minha filha
ficou horas no hospital para se reabilitar."
Casos como o da jovem estão colocando médicos em alerta. Levantamento
feito no HU (Hospital Universitário) da USP indica que, de 2002 a 2012,
adolescentes e jovens de 13 a 22 anos compuseram a faixa etária que mais
procuraram atendimento em decorrência de intoxicação aguda por ingestão
de álcool: foram 35% dos 1.370 atendimentos.
O estudo, divulgado nesta semana, revela ainda que o pico da procura de
auxílio médico por causa de bebedeira se dá entre os 19 e 20 anos e que,
após os 25 anos, os índices começam a cair.
"O contato com bebidas alcoólicas tem sido cada vez mais precoce. Há
pesquisas indicando que a cada cinco anos aumenta-se a dosagem que eles
ingerem e diminui a idade do uso", afirma o médico pediatra João Paulo
Becker Lotufo, coordenador do levantamento no HU.
PROPAGANDA
Hoje, durante o 13º Congresso Paulista de Pediatria, em São Paulo, a SBP
(Sociedade Brasileira de Pediatria) vai aderir a uma campanha, que
envolve uma petição pública, que defende mais restrições nas campanhas
publicitárias de bebidas alcoólicas.
"No Brasil, ainda não temos estudos claros sobre a relação entre a
publicidade e o consumo de bebidas. Mas artigo recente da [revista]
'Pediatrics ', dos EUA, divulgou pesquisa que acompanhou a rotina de
estudantes adolescentes. Os dados mostraram relação íntima entre o que
eles consumiam e o que viam em propagandas, sobretudo de cerveja",
afirma Eduardo Vaz, presidente da SBP.
Segundo os médicos, o cérebro dos adolescentes ainda está em formação e o
efeito do álcool neles pode ser pior do que em adultos.
"Cada pileque representa lesão em neurônios em grandes quantidades. Isso
vai ocasionar problemas de memória e dificuldade no aprendizado. Quanto
mais jovem se bebe, maior o risco de dependência", declara Lotufo.
A menina de 16 anos do início do texto não foi reprimida por ter ficado
bêbada, mas não quis mais ter contato com álcool. "O diálogo sobre
bebida entre nós aumentou naturalmente, não a envergonhei pela
bebedeira. Não dá para afastar os filhos do debate. As famílias têm de
ter responsabilidade", diz a mãe.
Atualmente, a lei proíbe a comercialização de bebida alcoólica para
menores de 18 anos e obriga que haja alerta dos riscos de beber e
dirigir.
Hoje, há restrição à veiculação de propaganda de bebidas na TV.
Publicidade de cachaça e uísque (mais de 13 graus GL, unidade que mede
volume de álcool) não pode ser veiculada das 6h às 21h.
Médicos e entidades civis, encabeçados pelo Ministério Público, querem restrição também para a cerveja.
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