Eugenia: uma busca de burilamento humano como se faz na Arte?
em cinema por João Lopes
"A imagem do homem revela o que o distingue dos outros seres: sua
habilidade em observar a si próprio. É a sina do homem que ele não só
se contente com o que vê, mas que se aborreça com suas imperfeições
físicas e mentais."
- Homo Sapiens 1900
'Homo Sapiens 1900' é um documentário do diretor sueco Peter Cohen,
lançado em 1998, feito com arquivos de fotos e trechos de filmes para
narrar a tentativa de 'higiene racial' que atravessou a Europa na
passagem do século XIX para o XX. Sabidamente, o século XIX foi um
século de grandes modificações para toda a humanidade, movimentos de
independência, a invenção da lâmpada incandescente por Thomas Edison, a
primeira iluminação urbana em Paris, a Revolução Liberal na França, a
publicação de Darwin de a 'Origem das espécies' que revolucionou o mundo
científico à época, a publicação do manifesto comunista de Marx etc.
Uma sensação de evolução era palpável por todos.
O racismo científico foi uma tentativa dos cientistas da época de
explicar as diferenças básicas entre os seres humanos. Em 'Homo Sapiens
1900' fica claro, os mais diversos cientistas que, em lugares diferentes
da Europa, trouxeram caráter de ciência ao pensamento comum, à época,
de que havia uma diferença biológica para a inferioridade entre as raças
humanas. Na Suécia, por exemplo, fora criado um Instituto de Biologia,
que fez reviver as pesquisas das origens raciais suscitadas inicialmente
pelos Alemães, além de seus ideais científicos, havia o orgulho de
manter limpo seu sangue nórdico, dados antropológicos e características
étnicas eram avaliadas pelo Instituto, afim de estabelecer padrões para o
posterior aperfeiçoamento da raça. Não obstante, a 'higiene racial' foi
integrada ao movimento na política social sueca, indivíduos com
características inferiores deveriam ser proibidos de se reproduzir e a
seleção de crianças também foi adotada.
No documentário, é nítida a grandiosidade que o ideário de higiene
racial havia ganhado por toda a Europa e, além dela, ganhava força no
mundo. Um dos exemplos mais gritantes dessa busca por um aprimoramento
da raça humana, é quando nos é apresentado o Dr. Haiselden que se
recusava a operar bebês recém-nascidos com deficiências ou doentes
baseado na premissa: “às vezes, salvar uma vida é um crime maior que tirá-la.” Acreditava-se, numa busca quase insana, em um surgimento de uma raça ariana, que, mais tarde, iria influenciar Hitler.
A lei de esterilização foi também um dos métodos adotados por
diversos países. Na América do Norte, Charles Davenport, biólogo e
zoólogo, defensor do pensamento eugenico pregava que era preciso
eliminar traços hereditários inferiores, foi, então, estabelecida uma
lei de esterilização compulsória que obrigava indivíduos com
características inferiores de inteligência, comportamento, entre outros,
para o padrão da época, a fazerem a esterilização.
Tal busca por aperfeiçoamento da raça humana, eliminando seres menos
dotados de capacidades físicas ou intelectuais justificava também a
escravidão dos negros e dos índios. No Brasil, por exemplo,
posteriormente, falava-se em embranquecimento como forma de salvação da
civilização que nascia. É claro que, à época, não se pensava, pelo menos
naquele momento, na incoerência que era o desejo de controlar uma raça
humana tornando-a perfeita.
No período Clássico da Arte Grega, por exemplo, buscava-se à
perfeição e a inteligência, o artista grego criava uma Arte de
elaboração intelectual em que predominava o ritmo, a busca incansável
pela simetria, pelo racionalismo e o amor à beleza. O período Clássico
influenciou tantas outras correntes artísticas ao longo dos séculos, e,
notadamente, influenciou também movimentos como o racismo científico.
Predomina na mente humana o ideal inalcançável de simetria, neste caso
manifestado expressamente no desejo de controlar a raça para
aperfeiçoá-la.
A eugenia representa, sem dúvida, uma tentativa da própria raça
humana de eliminar as imperfeições, expressando perfeição e excelência,
burilar a si mesma. Com os avanços científicos contínuos a eugenia
perdeu sua força na comunidade científica, mas deixou no mundo as
mazelas de uma busca desordenada pela perfeição que, como sabemos,
representou um dos maiores genocídios da história da humanidade com o
Nazismo de Hitler.
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