Senador
tucano Álvaro Dias acumulou e escondeu um patrimônio milionário, agindo
como o personagem das histórias em quadrinhos; valor decorrente da
suposta venda de uma fazenda não foi declarado à Justiça Eleitoral; eram
mais de R$ 6 milhões e com esses recursos ele construiu cinco mansões
em Brasília, avaliadas em R$ 16 milhões; hoje, é este o valor demandado
pela filha que ele não quis reconhecer
Tio Patinhas, o personagem das
histórias em quadrinhos criado por Walt Disney, era milionário, mas
detestava ostentar sinais exteriores de riqueza. Pegava mal. Por isso
mesmo, todas as suas moedinhas eram escondidas nos cofres de suas
residências. Álvaro Dias, líder do PSDB no Senado, é também uma espécie
de Tio Patinhas do parlamento brasileiro. Sua fortuna, questionável para
alguém que vive há décadas da atividade política, vem sendo escondida
há muito tempo.
O motivo para a omissão remonta à
campanha eleitoral de 1994, quando Dias concorreu ao governo do Paraná e
foi derrotado por Jaime Lerner. Naquele ano, o último programa
eleitoral foi tomado pela denúncia de que Dias não pagava pensão à filha
decorrente do relacionamento com Mônica Magdalena Alves – um tiro
mortal em sua candidatura.
Dias perdeu aquela eleição, mas, em
2006, elegeu-se para o Senado, declarando à Justiça eleitoral possuir um
patrimônio de R$ 1,9 milhão. Era mentira. Em 2009, a revista Época, da
editora Globo, descobriu que Dias possuía, desde 2002, aplicações
financeiras de R$ 6 milhões, supostamente decorrentes da venda de uma
fazenda no Paraná. Confira abaixo:
Omissão milionária
O senador Álvaro Dias, um dos que mais cobram transparência, não declarou R$ 6 milhões à Justiça - MATHEUS LEITÃO.
R) é um dos que mais usam o palanque para exigir transparência do governo e de seus adversários. Mas, quando o assunto são suas próprias contas, ele não demonstra ter os cuidados que tanto cobra. Em 2006, Dias informou à Justiça Eleitoral que tinha um patrimônio de R$ 1,9 milhão dividido em 15 imóveis: apartamentos, fazendas e lotes em Brasília e no Paraná. O patrimônio de Dias, no entanto, era pelo menos quatro vezes maior. Ele tinha outros R$ 6 milhões em aplicações financeiras.
O
saldo das contas não declaradas de Álvaro Dias foi mostrado a ÉPOCA pelo
próprio senador, inadvertidamente, quando a revista perguntou sobre
quatro bens em nome da empresa ADTrade, de sua propriedade, que não
apareciam em sua declaração à Justiça Eleitoral. Para explicar, ele
abriu seu sigilo fiscal. Ali, constavam os valores das aplicações.
A
omissão desses dados à Justiça Eleitoral é questionável, mas não pode
ser considerada ilegal. A lei determina apenas que o candidato declare
“bens”. Na interpretação conveniente, a lei não exige que o candidato
declare “direitos”, como contas bancárias e aplicações em fundos de
investimento.
No
Congresso, vários parlamentares listam suas contas e aplicações aos
tribunais eleitorais, inclusive o irmão de Álvaro, o também senador
Osmar Dias (PDT-PR). Osmar declarou mais de R$ 500 mil em aplicações e
poupanças. Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) listou quase R$ 150 mil
depositados.
Francisco Dornelles (PP-RJ) informou R$ 1,5 milhão em fundos de investimento. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-MA), atual alvo de uma série de denúncias, declarou quase R$ 3 milhões da mesma forma. Há poucos dias, Sarney foi denunciado por não ter informado à Justiça Eleitoral a respeito da casa que mora em Brasília.
Francisco Dornelles (PP-RJ) informou R$ 1,5 milhão em fundos de investimento. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-MA), atual alvo de uma série de denúncias, declarou quase R$ 3 milhões da mesma forma. Há poucos dias, Sarney foi denunciado por não ter informado à Justiça Eleitoral a respeito da casa que mora em Brasília.
Na
interpretação de dois dos maiores especialistas de Direito eleitoral,
Fernando Neves e Eduardo Alckmin, o espírito da lei é de transparência:
“É conveniente que o político declare contas bancárias e aplicações
financeiras para que o eleitor possa comparar o patrimônio no início e
no fim do mandato”, diz Neves. “Não há irregularidade, mas é importante
para evitar confusões no caso de um acréscimo patrimonial durante o
mandato”, afirma Alckmin.
Álvaro
Dias diz que o dinheiro não consta em sua declaração porque queria se
preservar. “Não houve má intenção”, afirma. Em conversas reservadas, ele
tem dito que o objetivo da omissão era manter a segurança de
familiares.
O
dinheiro não declarado de Álvaro Dias, segundo ele, é fruto da venda de
uma fazenda de 36 hectares em Maringá, Paraná, por R$ 5,3 milhões. As
terras, presente de seu pai, foram vendidas em 2002. O dinheiro rendeu
em aplicações, até que, em 2007, Álvaro Dias comprou um terreno no Setor
de Mansões Dom Bosco, em Brasília, uma das áreas mais valorizadas da
capital. No local, estão sendo construídas cinco casas, cada uma
avaliada em cerca de R$ 3 milhões.
Quando
as casas forem vendidas, o patrimônio de Álvaro Dias crescerá ainda
mais. Nada ilegal. Mas, a bem da transparência, não custa declarar.
Naquela
reportagem, Álvaro Dias dizia que não houve "má intenção" na sua
omissão. E antecipou até seus futuros investimentos. Disse que
construiria cinco casas no Setor de Mansões Dom Bosco, uma área nobre do
Distrito Federal. Hoje, estas cinco casas valem R$ 16 milhões. Foram
vendidas e a sua filha não reconhecida reivindica seu quinhão na
transação. O líder tucano, por sua vez, afirma ser vítima de
"chantagem".
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