General Costa e Silva |
O Ato Institucional nº 5, AI-5, baixado em 13 de dezembro de 1968,
durante o governo do general Costa e Silva, foi a expressão mais acabada
da ditadura militar brasileira (1964-1985). Vigorou até dezembro de
1978 e produziu um elenco de ações arbitrárias de efeitos duradouros.
Definiu o momento mais duro do regime, dando poder de exceção aos
governantes para punir arbitrariamente os que fossem inimigos do regime
ou como tal considerados.
O ano de 1968, "o ano que não acabou", ficou marcado na história
mundial e na do Brasil como um momento de grande contestação da política
e dos costumes. O movimento estudantil celebrizou-se como protesto dos
jovens contra a política tradicional, mas principalmente como demanda
por novas liberdades. O radicalismo jovem pode ser bem expresso no lema
"é proibido proibir". Esse movimento, no Brasil, associou-se a um
combate mais organizado contra o regime: intensificaram-se os protestos
mais radicais, especialmente o dos universitários, contra a ditadura.
Por outro lado, a "linha dura" providenciava instrumentos mais
sofisticados e planejava ações mais rigorosas contra a oposição.
Também no decorrer de 1968 a Igreja começava a ter uma ação mais
expressiva na defesa dos direitos humanos, e lideranças políticas
cassadas continuavam a se associar visando a um retorno à política
nacional e ao combate à ditadura. A marginalização política que o golpe
impusera a antigos rivais - Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek, João
Goulart - tivera o efeito de associá-los, ainda em 1967, na Frente
Ampla, cujas atividades foram suspensas pelo ministro da Justiça, Luís
Antônio da Gama e Silva, em abril de 1968. Pouco depois, o ministro do
Trabalho, Jarbas Passarinho, reintroduziu o atestado de ideologia como
requisito para a escolha dos dirigentes sindicais. Uma greve dos
metalúrgicos em Osasco, em meados do ano, a primeira greve operária
desde o início do regime militar, também sinalizava para a "linha dura"
que medidas mais enérgicas deveriam ser tomadas para controlar as
manifestações de descontentamento de qualquer ordem. Nas palavras do
ministro do Exército, Aurélio de Lira Tavares, o governo precisava ser
mais enérgico no combate a "idéias subversivas". O diagnóstico militar
era o de que havia "um processo bem adiantado de guerra revolucionária"
liderado pelos comunistas.
A gota d'água para a promulgação do AI-5 foi o pronunciamento do
deputado Márcio Moreira Alves, do MDB, na Câmara, nos dias 2 e 3 de
setembro, lançando um apelo para que o povo não participasse dos
desfiles militares do 7 de Setembro e para que as moças, "ardentes de
liberdade", se recusassem a sair com oficiais. Na mesma ocasião outro
deputado do MDB, Hermano Alves, escreveu uma série de artigos no Correio da Manhã
considerados provocações. O ministro do Exército, Costa e Silva,
atendendo ao apelo de seus colegas militares e do Conselho de Segurança
Nacional, declarou que esses pronunciamentos eram "ofensas e provocações
irresponsáveis e intoleráveis". O governo solicitou então ao Congresso a
cassação dos dois deputados. Seguiram-se dias tensos no cenário
político, entrecortados pela visita da rainha da Inglaterra ao Brasil, e
no dia 12 de dezembro a Câmara recusou, por uma diferença de 75 votos
(e com a colaboração da própria Arena), o pedido de licença para
processar Márcio Moreira Alves. No dia seguinte foi baixado o AI-5, que
autorizava o presidente da República, em caráter excepcional e,
portanto, sem apreciação judicial, a: decretar o recesso do Congresso
Nacional; intervir nos estados e municípios; cassar mandatos
parlamentares; suspender, por dez anos, os direitos políticos de
qualquer cidadão; decretar o confisco de bens considerados ilícitos; e
suspender a garantia do habeas-corpus. No preâmbulo do ato, dizia-se ser
essa uma necessidade para atingir os objetivos da revolução, "com
vistas a encontrar os meios indispensáveis para a obra de reconstrução
econômica, financeira e moral do país". No mesmo dia foi decretado o
recesso do Congresso Nacional por tempo indeterminado - só em outubro de
1969 o Congresso seria reaberto, para referendar a escolha do general
Emílio Garrastazu Médici para a Presidência da República.
Ao fim do mês de dezembro de 1968, 11 deputados federais foram
cassados, entre eles Márcio Moreira Alves e Hermano Alves. A lista de
cassações aumentou no mês de janeiro de 1969, atingindo não só
parlamentares, mas até ministros do Supremo Tribunal Federal. O AI-5 não
só se impunha como um instrumento de intolerância em um momento de
intensa polarização ideológica, como referendava uma concepção de modelo
econômico em que o crescimento seria feito com "sangue, suor e
lágrimas".
Maria Celina D'Araujo em CPDOC-FGV
Para saber mais:
- Sugerimos a leitura de alguns verbetes que se encontram disponíveis no Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro, tais como: Atos Institucionais, Arena, Costa e Silva, Emílio Garrastazzu Médici.
- Outros documentos e informações relacionadas ao assunto estão
disponíveis on-line. Basta realizar a consulta em nossa base de dados Accessus.
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