publicado em recortes por jéssica parizotto
© "Os Falsários".
Como tudo o que envolve o sinistro governo de Hitler, o plano era
completamente megalómano. Os alemães pretendiam falsificar milhões de
cédulas de libras esterlinas e depois colocá-las em circulação no
mercado Inglês e demais colônias britânicas, a fim de causar um colapso
no mercado financeiro ou no mínimo uma séria desvalorização de tal
moeda. O plano ainda previa a atuação do famoso Ministério da Propaganda
na acusação contra o Banco da Inglaterra, a quem seria atribuída a
culpa pela distribuição das falsificações, alegando que essa atitude
tinha como propósito esconder sua própria falência.
Mas por que atacar a libra esterlina? Primeiramente, pelo óbvio motivo de que se tratava da moeda de um inimigo do regime alemão. Porém, inimigos eram o que não faltava à nação de Hitler; o que melhor explica a escolha é algo anterior ao conflito. No período que se seguiu à Primeira Guerra Mundial, as moedas de todo o mundo sofreram por falta de confiança. Os países mais astutos, Alemanha incluída, percebendo a fragilidade do sistema monetário mundial, desvalorizavam a própria moeda para favorecer os produtos locais e elevaram tarifas alfandegárias, ou seja, o que se criou a nível mundial foi um sistema de comércio completamente desleal em que cada um visava o protecionismo e lucro a qualquer custo. Contudo, os ingleses foram na contramão desse processo: o que eles queriam era uma moeda confiável, por isso voltaram ao padrão-ouro, ou seja, a moeda era mais cara mas, em teoria, era a única confiável o suficiente para ser trocada por ouro. Tendo esse cenário como pano de fundo, a libra esterlina se firmou como moeda forte e tornou-se o alvo mais visado por falsificadores de todas as espécies.
Esses falsários atuavam no mundo todo; normalmente, eram artistas
desiludidos com o incerto mundo das artes e que para não morrerem na
miséria utilizavam seus dons artísticos para fins menos gloriosos. Como a
Alemanha era uma das principais representantes da Comissão
Internacional de Polícia Criminal, formada após a Primeira Guerra
Mundial para rastrear atividades de falsários e contrabandistas nas
fronteiras europeias (mais tarde daria origem à Interpol), a tarefa de
encontrar e “recrutar” estes criminosos era simples.
© "Os Falsários".
O mais famoso deles foi Salomon Smolianoff, um judeu russo que
estudou pintura, mas a quem as guerras não pouparam. Primeiro, foi a
Revolução Russa que obrigou sua família a fugir do país e, anos mais
tarde, no início da Segunda Guerra, tendo sido descoberto nos seus
golpes, foi levado para o campo de concentração de Mauthausen. Lá, ele
se revelou um excelente retratista e chamou a atenção do oficial nazista
Bernhard Krüger, que o transferiu para o campo de concentração de
Sachsenhausen, onde estava para iniciar uma das operações mais ousadas
da história deste conflito: a Operação Bernhard.
Tal ação contou com 142 falsificadores arrebanhados de vários campos
de concentração que formaram uma equipe sediada em Sachsenhausen.
Obrigados a se tornar “Kapos”, designação para aqueles que colaboravam
com a SS dentro dos campos, eles produziram aproximadamente 132 milhões
de libras em notas falsas. Além de algumas centenas de dólares.
© "Os Falsários".
A operação só não obteve sucesso por falta de tempo. Antes de
recrutar o famoso falsário, os alemães já haviam executado uma primeira
tentativa do plano, mas não lograram sucesso. A libra esterlina não era
uma moeda fácil de falsificar - feita de uma mistura de linho com
urtiga, num papel que possuía um padrão muito específico, o que demandou
grande tempo em pesquisas e tentativas falhadas. Além disso, neste
primeiro intento, a equipe não era tão qualificada para tal trabalho e
com isso demoraram demais para chegar a um resultado satisfatório em
relação à marca d’água e selos presentes nas notas.
Quando finalmente as notas ficaram tão boas a ponto de serem
confundidas com as verdadeiras, era tarde demais. No dia 6 de maio de
1945, os falsificadores de Hitler foram libertados pelo exército
americano. A incrível história destes homens foi contada em livros, e
teve seu enredo nas telas do cinema em 2007, no filme Os Falsários, de Stefan Ruzowitzky (em Portugal, Os Falsificadores).
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