Do Blog do Alon
Vale a pena ler, mesmo que não se concorde com tudo o que ele diz. Eu concordo com praticamente tudo e acho que os defensores, ou melhor, os cultuadores do modelo cubano poderiam ter mais humildade e pararem de achar que quem não concorda com o modo como as coisas acontecem em Cuba é de direita.
Cuba precisa de prosperidade para manter o regime, o que significa investimento estrangeiro e mais (bem mais) espaço para o capitalismo. Mas Havana não tem o peso específico de Pequim. A estabilidade e o progresso da China são essenciais para toda a humanidade
E um revivido Fidel Castro segue na trilha das autocríticas, misturando as explícitas com as nem tanto. É um desfile de surpresas. Dias atrás pediu desculpas pela discriminação e perseguição dos homossexuais na Cuba pós-revolucionária. Agora vem a público dizer que o modelo cubano não deve ser exportado, pois não funciona nem na própria ilha.
Aguardam-se os próximos capítulos, sob os olhares aterrados de quem se habituou a defender qualquer coisa relativa ao status quo cubano, em nome da luta contra o imperialismo ou de sei lá o quê. Estaria então Fidel “capitulando” diante das pressões capitalistas e imperialistas? Penso que os áulicos espantados não chegariam a tanto. Vão preferir esperar em silêncio, até saber onde a coisa vai parar.
O establishment cubano busca caminhos para romper os nós que amarram a vida dos ilhéus, mas sem deixar o poder.
Quando Fidel adoeceu escreveu-se, aqui inclusive, sobre uma certa transição desejada pelo Partido Comunista de Cuba, mais ou menos nos moldes da China pós-Mao Tsé-tung. A construção política legada por Teng Hsiao-ping alicerçou-se na rotação de poder intrapartidária como mecanismo essencial para manter o leme firme nas mãos do partido.
Mas uma transição assim suave do mando unipessoal para o unipartidário exige certos requisitos. Um deles é o férreo controle das atividades políticas e sociais. O que em Cuba não chega a ser problema. Outro é a criação de um ambiente de bem-estar econômico que impeça o transbordamento das naturais guerras intestinas. Ou seja, impeça um ocaso “soviético” do regime.
Para o partido continuar monopolizando o poder, ele precisa estar coeso. Mas sem prosperidade essa coesão fica inviável, a não ser com um estado policial no último grau. O que em Cuba é impossível nos dias que correm, dada a relação de forças planetária, o novo governo de centro-esquerda em Washington e o cenário político latino-americano. Sem falar na oposição interna.
Até mesmo Luiz Inácio Lula da Silva, o diz-qualquer-coisa-e-nada-acontece, pagou um preço ao posar sorridente para fotos ao lado de dirigentes cubanos enquanto um preso de consciência dali morria depois de greve de fome. O que, num triste episódio, motivou nosso presidente a compará-lo aos presos comuns brasileiros, os bandidos aqui encarcerados por delitos que nada têm a ver com a política. Pegou mal.
Cuba precisa de prosperidade para manter o regime, o que significa investimento estrangeiro e mais (bem mais) espaço para o capitalismo. Mas Havana não tem o peso específico de Pequim. A estabilidade e o progresso da China são essenciais para toda a humanidade, e por isso o fim do isolamento chinês foi liderado por um dos governos mais conservadores que os Estados Unidos já tiveram, o de Richard Nixon. Pois é.
Já o fim da Guerra Fria, seguido pela emergência da ameaça terrorista global, relegou o tema cubano a prateleiras secundárias na administração dos assuntos mundiais pela Casa Branca. Se Washington precisou arquivar as diferenças ideológicas com Pequim em nome da centralidade estratégica da China, a mesma sorte não parece reservada a Cuba depois que a União Soviética se foi.
A população de Cuba transformada em boat people é um cenário indesejável para os americanos. Mas se acontecesse na China seria um apocalipse global.
Daí que os dirigentes cubanos estejam em busca de uma saída. Controlada. Meses atrás um expurgo dizimou politicamente parte da cúpula em Havana, gente graúda que esboçava cultivar um núcleo de poder paralelo. Como os tempos são outros, foram apenas para o ostracismo, em vez de ir para a cadeia ou o exílio.
Os desafios diante do Partido Comunista de Cuba são imensos, na tentativa de estabilizar a transição e ao mesmo tempo operar uma abertura na economia, sem perder o controle político.
As autocríticas seriais de Fidel Castro são disso um sintoma.
E um revivido Fidel Castro segue na trilha das autocríticas, misturando as explícitas com as nem tanto. É um desfile de surpresas. Dias atrás pediu desculpas pela discriminação e perseguição dos homossexuais na Cuba pós-revolucionária. Agora vem a público dizer que o modelo cubano não deve ser exportado, pois não funciona nem na própria ilha.
Aguardam-se os próximos capítulos, sob os olhares aterrados de quem se habituou a defender qualquer coisa relativa ao status quo cubano, em nome da luta contra o imperialismo ou de sei lá o quê. Estaria então Fidel “capitulando” diante das pressões capitalistas e imperialistas? Penso que os áulicos espantados não chegariam a tanto. Vão preferir esperar em silêncio, até saber onde a coisa vai parar.
O establishment cubano busca caminhos para romper os nós que amarram a vida dos ilhéus, mas sem deixar o poder.
Quando Fidel adoeceu escreveu-se, aqui inclusive, sobre uma certa transição desejada pelo Partido Comunista de Cuba, mais ou menos nos moldes da China pós-Mao Tsé-tung. A construção política legada por Teng Hsiao-ping alicerçou-se na rotação de poder intrapartidária como mecanismo essencial para manter o leme firme nas mãos do partido.
Mas uma transição assim suave do mando unipessoal para o unipartidário exige certos requisitos. Um deles é o férreo controle das atividades políticas e sociais. O que em Cuba não chega a ser problema. Outro é a criação de um ambiente de bem-estar econômico que impeça o transbordamento das naturais guerras intestinas. Ou seja, impeça um ocaso “soviético” do regime.
Para o partido continuar monopolizando o poder, ele precisa estar coeso. Mas sem prosperidade essa coesão fica inviável, a não ser com um estado policial no último grau. O que em Cuba é impossível nos dias que correm, dada a relação de forças planetária, o novo governo de centro-esquerda em Washington e o cenário político latino-americano. Sem falar na oposição interna.
Até mesmo Luiz Inácio Lula da Silva, o diz-qualquer-coisa-e-nada-acontece, pagou um preço ao posar sorridente para fotos ao lado de dirigentes cubanos enquanto um preso de consciência dali morria depois de greve de fome. O que, num triste episódio, motivou nosso presidente a compará-lo aos presos comuns brasileiros, os bandidos aqui encarcerados por delitos que nada têm a ver com a política. Pegou mal.
Cuba precisa de prosperidade para manter o regime, o que significa investimento estrangeiro e mais (bem mais) espaço para o capitalismo. Mas Havana não tem o peso específico de Pequim. A estabilidade e o progresso da China são essenciais para toda a humanidade, e por isso o fim do isolamento chinês foi liderado por um dos governos mais conservadores que os Estados Unidos já tiveram, o de Richard Nixon. Pois é.
Já o fim da Guerra Fria, seguido pela emergência da ameaça terrorista global, relegou o tema cubano a prateleiras secundárias na administração dos assuntos mundiais pela Casa Branca. Se Washington precisou arquivar as diferenças ideológicas com Pequim em nome da centralidade estratégica da China, a mesma sorte não parece reservada a Cuba depois que a União Soviética se foi.
A população de Cuba transformada em boat people é um cenário indesejável para os americanos. Mas se acontecesse na China seria um apocalipse global.
Daí que os dirigentes cubanos estejam em busca de uma saída. Controlada. Meses atrás um expurgo dizimou politicamente parte da cúpula em Havana, gente graúda que esboçava cultivar um núcleo de poder paralelo. Como os tempos são outros, foram apenas para o ostracismo, em vez de ir para a cadeia ou o exílio.
Os desafios diante do Partido Comunista de Cuba são imensos, na tentativa de estabilizar a transição e ao mesmo tempo operar uma abertura na economia, sem perder o controle político.
As autocríticas seriais de Fidel Castro são disso um sintoma.
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