Presidente ucraniano apoiado pela
Rússia desiste de acordo para estreitar laços com Europa
De: BBC
O Parlamento da Ucrânia rejeitou uma
tentativa da oposição de forçar a renúncia do governo nesta terça-feira. O
pedido havia sido feito com o apoio de milhares de manifestantes que tomam as
ruas da capital para protestar contra a decisão do governo de cancelar um
acordo para estreitar os laços do país com a União Europeia.
A oposição havia apresentado uma
moção de desconfiança, que obteve 186 votos de parlamentares - 40 a menos que o
mínimo necessário.
Os participantes dos protestos querem a renúncia do premiê Azarov e do
presidente Viktor Yanukovych, que segundo analistas, é apoiado pela Rússia. O
governo ucraniano sofreu forte pressão econômica de Moscou para desistir do
acordo com o bloco europeu.Mais
cedo o premiê ucraniano Mycola Azarov havia pedido desculpas ao Parlamento pela
repressão violenta da polícia aos manifestantes.
Os manifestantes ainda estão nas ruas
e cogitam organizar uma greve geral no país.
Entenda a seguir quais são as causas
da atual onda de protestos na Ucrânia.
O que causou os
protestos?
O gatilho foi a decisão do governo de
não assinar uma parceria abrangente com a União Europeia, apesar de anos de
negociações destinados a integrar a Ucrânia com os 28 países do bloco.
A decisão foi anunciada em 21 de
novembro e causou grande frustração em uma reunião da UE com ex-repúblicas
soviéticas no final de novembro.
Milhares de ucranianos favoráveis à
adesão à União Europeia tomaram as ruas da capital – em 24 de novembro o número
de manifestantes foi estimado em 100.000. Eles exigiam que o presidente Viktor
Yanukovych voltasse atrás na sua decisão e retomasse as negociações com o bloco
europeu.
Contudo, o mandatário se recusou e os
protestos se intensificaram. Agora, os manifestantes exigem a renúncia de
Yanukovych e seu gabinete.
Quem são os
manifestantes?
Provavelmente o manifestante mais
conhecido é Vitali Klitschko, um campeão de boxe que se transformou em líder
opositor. Ele lidera um movimento chamado Udar (soco) e planeja concorrer à Presidência
em 2015.
Sua principal bandeira de campanha é
"um país moderno com padrões europeus" – o que significa, na prática,
significa diminuir as relações com a Rússia e estreitar os laços com a União
Europeia.
Outro grupo opositor que participa
dos protestos é chamado Svoboda (liberdade). O movimento é considerado
ultranacionalista e seu líder é Oleh Tyahnybok.
Também tomou parte dos protestoso o
ex-premiê polonês e atual líder de oposição Jaroslaw Kaczysnski. Historicamente
A Polônia tem laços históricos com a
Ucrânia. O leste ucraniano já foi parte do território da Polônia e os dois
países compartilham de fortes laços culturais e religiosos (ambos são
católicos).
A maior parte dos ucranianos
ocidentais se sentem próximos do Ocidente e suspeitam da Rússia. A Polônia é
uma voz forte na União Europeia na luta para incluir a Ucrânia no bloco.
Um dos mais importantes manifestantes
ucranianos é Arseniy Yatsenyuk, líder do segundo maior partido ucraniano,
chamado Pátria. Ele é aliado de Yulia Tymoshenko, uma ex-premiê atualmente na
cadeia cumprindo pena por abuso de poder e principal rival política do
presidente Yanukovych.
Por que Yulia
Tymoshenko é importante?
Tymoshenko é reconhecida
internacionalmente como símbolo da oposição a Yanukovych e virou causa célebre
na Europa.
Ela foi presa em 2011 acusada de uso
indevido de poder em um acordo sobre gás com a Rússia em 2009. Muitos políticos
europeus aceitaram sua versão de que sua condenação a sete anos de prisão foi
motivada politicamente.
A Corte Europeia de Direitos Humanos
não foi tão longe, mas concluiu que a prisão provisória dela antes do
julgamento foi "arbitrária e fora da lei".
A União Europeia determinou a
libertação dela como pré-condição para a assinatura do acordo com a Ucrânia –
mas Yanukovych resistiu à pressão.
A ex-premiê, que deseja receber
tratamento de saúde na Alemanha, defendeu que o acordo fosse assinado mesmo sem
sua libertação.
Nos protestos de agora há um forte
eco da Revolução Laranja de 2004 na Ucrânia. Tymoshenko foi uma figura
importante naquela revolução pró-Ocidente.
Naquela ocasião, a líder também
enfrentou Yanukovych. Ele foi retirado do poder em 2004, depois que sua eleição
foi julgada fraudulenta. Na época a Russia o apoiou – e ainda apóia.
Até onde vai a
influência da Rússia no país?
Para analistas, a decisão do governo
de suspender a negociações pela entrada na UE se deve diretamente à forte
pressão da Rússia.
A Rússia adotou medidas como inspeções
demoradas nas fronteiras e o banimento de doces ucranianos, além de ter
ameaçado com várias outras medidas de impacto econômico.
A Ucrânia está em uma longa disputa
com Moscou sobre o custo do gás russo. Além disso, no leste do país – onde
ainda se fala russo – muitas empresas dependem das vendas para a Rússia.
Yanukovych ainda tem uma grande base
de apoio no leste da Ucrânia, onde ocorreram manifestações promovidas por seus
aliados.
Por séculos, a Ucrânia foi dominada
por Moscou e muitos russos entendem que o vizinho do leste ainda é vital para
seus interesses.
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