Mapa da Violência aponta disseminação de mortes por arma de fogo Brasil afora; Rio fica em 8º
JAILTON DE CARVALHO jailtonc@bsb.oglobo.com.br ODILON RIOS* opais@oglobo.com.br
BRASÍLIA E
MACEIÓ- As mortes violentas, que antes se concentravam em grandes
centros urbanos como São Paulo e Rio, estão se espalhando pelo país, que
prossegue entre os mais violentos do mundo e acumula mortes por armas
de fogo equivalentes a regiões do planeta marcadas por conflitos
armados. A "nacionalização" da morte à bala acompanharia a
desconcentração industrial e os deslocamentos populacionais ligados às
atividades econômicas. A conclusão é do Mapa da Violência 2013, divulgado ontem pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela).
Dos cinco estados mais violentos do
país em 2010, três estão na região Nordeste: Alagoas, Bahia e Paraíba.
Quatro das cinco capitais com os piores dados estão no litoral da
região: Maceió, João Pessoa, Salvador e Recife. Pelos dados da pesquisa,
36.792 pessoas foram assassinadas a tiros em 2010 no Brasil. O número é
superior aos 36.624 assassinatos anotados em 2009 e mantém o país com
uma taxa de 20,4 homicídios por 100 mil habitantes, a oitava pior marca
entre cem nações com estatísticas consideradas relativamente confiáveis
sobre o assunto.
A média nacional de homicídios é duas
vezes maior que a taxa considerada tolerável pela Organização das Nações
Unidas (ONU), dez assassinatos a cada 100 mil habitantes. Ao comparar a
realidade nacional com a matança nas principais guerras dos últimos
anos, os coordenadores do estudo chegaram a um resultado assustador: o
número de assassinatos no Brasil entre 2004 e 2007 se aproxima das
baixas contabilizadas em 12 dos maiores conflitos armados no mesmo
período.
Nestes quatro anos, 147.373 pessoas foram assassinadas a tiros no Brasil.
As guerras provocaram a morte de
169.574 pessoas. O coordenador do estudo ainda lembra que não é só em
direção ao Nordeste que a violência aumenta.
- A violência tem crescido também no
Paraná, em Santa Catarina e no Entorno de Brasília. O mais correto seria
dizer que está havendo uma nacionalização dos homicídios - afirma Júlio Jacobo Waiselfisz.
O palco do maior massacre foi Alagoas
que, em 2010, registrou uma taxa de 55,3 homicídios por cada 100 mil
habitantes. É o estado que também mata mais negros e o segundo em
homicídios contra as mulheres. Com o maior Instituto Médico Legal (IML)
funcionando no improviso, delegacias caindo aos pedaços e um plano de
segurança federal com pequena redução no avanço dos crimes, os alagoanos
recorrem ao desespero.
A aposentada Tereza de Jesus Araújo
espera, há seis meses, notícias da neta, a estudante de Ciências
Contábeis Bárbara Regina, de 21 anos. Ela sumiu de uma boate ao lado de
um homem, que, para a polícia, é Otávio Cardoso da Silva, o assassino da
estudante. Para a Polícia Civil de Alagoas, Bárbara foi estuprada e
assassinada com requintes de crueldade. Mas, nem o corpo da estudante
nem o acusado pelo crime apareceram: - Todas as informações que a
polícia tem e todas as pistas, incluindo a rota de fuga do Otávio, fomos
nós quem apresentamos. E não temos nada depois disso - lamenta Tereza.
No Pará, o número de assassinatos teve
aumento de 307,2%, em dez anos. No Maranhão, a disparada da matança foi
de 282,2% entre 2000 e 2010.
DECLÍNIO DOS ASSASSINATOS NA REGIÃO
SUDESTE O Rio de Janeiro aparece em 8º lugar no ranking dos estados mais
violentos, com uma taxa de 26,4. O estudo mostra, no entanto, que o
número de mortes por armas de fogo no estado está em declínio. De 2000 a
2010, os assassinatos a tiros no Rio caíram 43,8%. Em São Paulo a queda
foi ainda maior, 67,5%, e o estado viu a taxa de homicídio baixar para
9,3, por 100 mil habitantes.
Entre as capitais mais violentas está
Maceió, a primeira da lista com 94,5 homicídios por 100 mil habitantes.
Logo depois vêm João Pessoa com taxa de 71,6; Vitória com 60,7; Salvador
com 59,6; e Recife com 47,8. São taxas bem acima da média nacional, de
20,4 por 100 mil. Com uma taxa de 23,5, a cidade do Rio aparece em 19º
lugar na lista.
A cidade de São Paulo está na 25ª colocação.
Para Jacobo, a declarada priorização da
segurança pública por governadores e as iniciativas do governo federal,
tais como a campanha do desarmamento, não foram suficientes para forçar
a queda dos índices de violência na primeira década do século XXI.
Entre 2000 e 2010, passando pelos governos Fernando Henrique e Lula, a
taxa de aproximadamente 20 homicídios com armas de fogo por 100 mil
habitantes ficou estável.
- Se está havendo alto índice de
violência, nossas políticas não são suficientes - diz Jacobo, que
enumera o narcotráfico; a grande quantidade de armas em circulação; e a
cultura da violência para a resolução de conflitos entre pessoas
próximas como fatores da estabilização de mortes em alta.
No Paraná, o número de homicídios
aumentou 94,8%, entre 2000 e 2010. Santa Catarina sofreu aumento de
44,5%, embora ainda permaneça com taxa de 8,5 homicídios por grupos de
100 mil.
Estudo detalhado, o Mapa da Violência
apresenta o ranking das cidades com mais de 20 mil habitantes mais
castigadas pela matança.
Simões Filho (BA) tem o pior quadro,
com taxa de 141,5 homicídios por 100 mil habitantes. À frente de Campina
Grande do Sul (PR), com 107, Lauro de Freitas (BA), com 106,6, e
Guaíra, com 103,9. São números piores que os de Medellín, na Colômbia,
no auge do poder do narcotráfico de Pablo Escobar.
- Uma das
estratégias (para reduzir homicídios) é o combate à cultura da
violência. O debate sobre esse assunto deveria começar desde a escola.
Acho que esse discurso (contra a cultura da violência) não tem tido o
lugar que deveria ter - diz Jorge Werthein, presidente do Instituto Cebela.
"A violência tem crescido também no
Paraná, em Santa Catarina e no Entorno de Brasília. Está havendo uma
nacionalização" Júlio Jacobo Coordenador do Mapa
Diario de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por sua opinião