A estratégia chinesa para norte-coreanos é tema de debate:
tradicionalistas defendem curso atual, estrategistas querem medidas mais
severas e aproximação dos EUA. Pequim teme instabilidade crescente em
suas fronteiras.
"O terceiro teste nuclear da Coreia do Norte é uma boa oportunidade para
a China reconsiderar a aliança de muitos anos com a dinastia Kim",
exigiu o jornalista chinês Deng Yuwen em artigo no Financial Times. Deng é vice-editor-chefe da revista Study Times, publicada pela Escola do Partido Comunista em Pequim. O apelo do jornalista: "A China deve abrir mão da Coreia do Norte".
Vozes como a de Deng são um fardo para a amizade de dezenas de anos entre os vizinhos comunistas. Desde o final do ano passado, as relações bilaterais atingiram um novo nadir. E em fevereiro a Coreia do Norte voltou a provocar com a realização de um teste nuclear. Dois meses antes, o foguete norte-coreano Unha-3 lançou um satélite em órbita terrestre. Única parceira do país, a China está obviamente irritada: o imprevisível vizinho abusa de sua paciência.
Na última assembleia geral do Congresso Nacional do Povo, o parlamento chinês, alguns delegados realizaram um debate de fundo sobre a política em relação à Coreia do Norte. A vice-diretora do Escritório Central de Assuntos Estrangeiros, Qiu Yuanping, relata que os debates giraram em torno da questão se a China continuará a "apoiar" ou "deixará de lado" o país vizinho. Essa abordagem aberta é algo incomum, pois as lideranças de Pequim são geralmente bastante reservadas com tais observações.
Entre tradicionalistas e estrategistas
Dentro do circuito político chinês não há consenso sobre como lidar com o país vizinho. Desde o segundo teste nuclear norte-coreano, em 2009, duas correntes de opinião se definiram. Os chamados "tradicionalistas" se atêm à imagem propagada pelo fundador do atual Estado chinês, Mao Tsé-tung: a China e a Coreia do Norte estão "tão intimamente ligadas como os lábios e os dentes". Para eles, abandonar o Estado-irmão comunista está fora de cogitação, e vêm os EUA como maior desafio aos interesses chineses na Ásia Oriental.
Pequim vê como ameaça à segurança nacional a forte presença militar estadunidense na região pacífico-asiática – considerada pelo presidente Barack Obama como um novo foco estratégico. A Coreia do Norte é para a China uma importante zona-tampão face à Coreia do Sul e ao Japão, ambos parceiros dos Estados Unidos.
Até agora, a política da China para a Coreia do Norte foi basicamente
definida pelo Exército Popular de Libertação. Dados os laços de longa
data com a Coreia do Norte e a grande desconfiança em relação ao poder
militar dos EUA, as lideranças militares chinesas mantêm seu curso
conservador.
De acordo com Jia Qingguo, professor de Ciências Políticas na Universidade de Pequim, tal estratégia é obsoleta. A China deveria tomar a Coreia do Norte como ponto de partida para uma cooperação mais estreita com os Estados Unidos, declarou ao New York Times. Jia pertence ao grupo dos chamados "estrategistas", que pedem medidas mais rigorosas em relação à Coreia do Norte, ao mesmo tempo que defendem uma maior cooperação com os EUA.
Mesmo Zhang Liangui, da Universidade Central do Partido em Pequim, pede medidas mais duras contra o país vizinho. É ingênua a crença de que Pyongyang pode ser persuadida a renunciar às armas nucleares por meio de uma política de apaziguamento, afirmou o perito em segurança ao jornal estatal Global Times.
Nenhuma mudança radical de direção
"O apoio a sanções mais duras contra a Coreia do Norte não deve ser
interpretado como uma alteração fundamental da posição chinesa",
enfatizou Yang Jiechi, até recentemente ministro do Exterior chinês, e
agora responsável pela política externa no Conselho de Estado. Suas
palavras mostram que, por enquanto, não deverá haver uma mudança de
curso.
Especialistas acreditam que a China pode temer que, com o colapso da Coreia do Norte e uma possível reunificação dos dois Estados coreanos, as tropas norte-americanas cheguem até as fronteiras do território chinês. Paul Haenle, da Fundação Carnegie para a Paz Internacional, e também diretor do Centro Carnegie-Tsinghua da Universidade Tsinghua, em Pequim, é da opinião de que as contínuas provocações de Pyongyang podem levar, a longo prazo, a uma corrida armamentista. "Porque assim como os EUA, também o Japão e a Coreia do Sul irão reconsiderar suas estratégias de segurança", e isso contradiz diametralmente os interesses chineses, disse em entrevista à DW.
Enquanto os Estados ocidentais tentam dissuadir a Coreia do Norte de prosseguir com seu programa nuclear, para o governo chinês a preservação da estabilidade está em primeiro plano, observa Stephanie Kleine-Ahlbrandt, do International Crisis Group da Deutsche Welle. "Pequim teme um confronto militar direto entre Pyongyang e Washington."
Recentemente, o secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, anunciou que Washington iria ampliar sua defesa antimíssil, devido às ameaças de ataques da Coreia do Norte. Uma guerra ou um colapso da ditadura Kim iria provocar uma onda de refugiados em direção ao norte da China. Sob a liderança do novo chefe de Estado chinês, Xi Jinping, não deverá haver, todavia, mudanças radicais, afirmou Kleine-Ahlbrandt. "Mas Pequim irá adotar uma linha mais dura em relação a Pyongyang."
Vozes como a de Deng são um fardo para a amizade de dezenas de anos entre os vizinhos comunistas. Desde o final do ano passado, as relações bilaterais atingiram um novo nadir. E em fevereiro a Coreia do Norte voltou a provocar com a realização de um teste nuclear. Dois meses antes, o foguete norte-coreano Unha-3 lançou um satélite em órbita terrestre. Única parceira do país, a China está obviamente irritada: o imprevisível vizinho abusa de sua paciência.
Na última assembleia geral do Congresso Nacional do Povo, o parlamento chinês, alguns delegados realizaram um debate de fundo sobre a política em relação à Coreia do Norte. A vice-diretora do Escritório Central de Assuntos Estrangeiros, Qiu Yuanping, relata que os debates giraram em torno da questão se a China continuará a "apoiar" ou "deixará de lado" o país vizinho. Essa abordagem aberta é algo incomum, pois as lideranças de Pequim são geralmente bastante reservadas com tais observações.
Entre tradicionalistas e estrategistas
Dentro do circuito político chinês não há consenso sobre como lidar com o país vizinho. Desde o segundo teste nuclear norte-coreano, em 2009, duas correntes de opinião se definiram. Os chamados "tradicionalistas" se atêm à imagem propagada pelo fundador do atual Estado chinês, Mao Tsé-tung: a China e a Coreia do Norte estão "tão intimamente ligadas como os lábios e os dentes". Para eles, abandonar o Estado-irmão comunista está fora de cogitação, e vêm os EUA como maior desafio aos interesses chineses na Ásia Oriental.
Pequim vê como ameaça à segurança nacional a forte presença militar estadunidense na região pacífico-asiática – considerada pelo presidente Barack Obama como um novo foco estratégico. A Coreia do Norte é para a China uma importante zona-tampão face à Coreia do Sul e ao Japão, ambos parceiros dos Estados Unidos.
Debate no Congresso Nacional do Povo |
De acordo com Jia Qingguo, professor de Ciências Políticas na Universidade de Pequim, tal estratégia é obsoleta. A China deveria tomar a Coreia do Norte como ponto de partida para uma cooperação mais estreita com os Estados Unidos, declarou ao New York Times. Jia pertence ao grupo dos chamados "estrategistas", que pedem medidas mais rigorosas em relação à Coreia do Norte, ao mesmo tempo que defendem uma maior cooperação com os EUA.
Mesmo Zhang Liangui, da Universidade Central do Partido em Pequim, pede medidas mais duras contra o país vizinho. É ingênua a crença de que Pyongyang pode ser persuadida a renunciar às armas nucleares por meio de uma política de apaziguamento, afirmou o perito em segurança ao jornal estatal Global Times.
Nenhuma mudança radical de direção
Mao Tsé-tung, em foto de 1960: Coreia do Norte e China, inseparáveis como "os lábios e os dentes" |
Especialistas acreditam que a China pode temer que, com o colapso da Coreia do Norte e uma possível reunificação dos dois Estados coreanos, as tropas norte-americanas cheguem até as fronteiras do território chinês. Paul Haenle, da Fundação Carnegie para a Paz Internacional, e também diretor do Centro Carnegie-Tsinghua da Universidade Tsinghua, em Pequim, é da opinião de que as contínuas provocações de Pyongyang podem levar, a longo prazo, a uma corrida armamentista. "Porque assim como os EUA, também o Japão e a Coreia do Sul irão reconsiderar suas estratégias de segurança", e isso contradiz diametralmente os interesses chineses, disse em entrevista à DW.
Enquanto os Estados ocidentais tentam dissuadir a Coreia do Norte de prosseguir com seu programa nuclear, para o governo chinês a preservação da estabilidade está em primeiro plano, observa Stephanie Kleine-Ahlbrandt, do International Crisis Group da Deutsche Welle. "Pequim teme um confronto militar direto entre Pyongyang e Washington."
Recentemente, o secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, anunciou que Washington iria ampliar sua defesa antimíssil, devido às ameaças de ataques da Coreia do Norte. Uma guerra ou um colapso da ditadura Kim iria provocar uma onda de refugiados em direção ao norte da China. Sob a liderança do novo chefe de Estado chinês, Xi Jinping, não deverá haver, todavia, mudanças radicais, afirmou Kleine-Ahlbrandt. "Mas Pequim irá adotar uma linha mais dura em relação a Pyongyang."
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