SUS: 27% dos brasileiros vivem em cidades com índices mais baixos de qualidade dos serviços

Carolina Pimentel Repórter da Agência Brasil Brasília – 

Vinte e sete por cento da população brasileira vivem em cidades com as notas mais baixas de acordo com o Índice de Desempenho do Sistema Único de Saúde (Idsus), criado pelo governo federal para medir o acesso do usuário e a qualidade dos serviços da rede pública. Dos 5.563 municípios, 1.150 (20,7% do total) receberam pontuação abaixo de 5, em uma escala de 0 a 10 estabelecida pelo índice. Nessas cidades, onde a infraestrutura de saúde é classificada de alta, média ou baixa, vivem mais de 50 milhões de brasileiros. Mais de 70% da população (134 milhões de pessoas) estão em 4.066 cidades (73,1% do total de municípios), que receberam notas entre 5 e 6,9. Somente 1,9% – cerca de 3,2 milhões de brasileiros – reside no grupo dos 347 municípios mais bem pontuados, que conquistaram nota superior a 7. Para calcular o desempenho do SUS em cada cidade do país, os técnicos dividiram os municípios em seis grupos, dependendo da condição econômica e da estrutura de saúde disponível (hospital, posto de saúde, laboratório). O grupo 1 reúne os 29 municípios com melhor renda e infraestrutura de atendimento, com população total de 46 milhões de pessoas. No topo da lista, aparece Vitória, com nota 7,08. O grande número de exames para detecção de aids (84% em 2010), alto percentual de cura de pacientes com tuberculose (80% em 2010) e atendimento de excelência a crianças com câncer são alguns dos indicadores que elevaram o resultado da cidade, segundo análise de técnicos do Ministério da Saúde. Em último lugar desse grupo está o Rio de Janeiro, com 4,33. Mesmo com a expressiva condição econômica e com a existência de hospitais e atendimento de referência, a baixa cobertura de assistência básica, como equipes do Programa Saúde da Família, afetou o desempenho da capital, conforme o diretor de Monitoramento e Avaliação do SUS do ministério, Paulo de Tarso. No outro extremo, o grupo 6 é formado pelas cidades que não têm estrutura de serviços especializados, como um hospital ou pronto-socorro, e população total de 23,3 milhões de brasileiros. A maioria dos municípios brasileiros está nesse grupo, totalizando 2.183. A pequena Fernandes Pinheiro, no Paraná, com 5.932 habitantes, obteve a melhor nota (7,76) do grupo. A menor pontuação ficou com Pilão Arcado, na Bahia, onde vivem 32.815 pessoas. O município obteve 2,5 – o pior resultado do país. O levantamento inédito também traz um ranking dos estados. Santa Catarina (6,29), o Paraná (6,23) e o Rio Grande do Sul (5,9) são os primeiros colocados. Os últimos são o Pará (4,1) Rondônia (4,49) e o Rio de Janeiro (4,58). Além disso, apenas nove estados ficaram acima da média do Brasil, que é 5,47. O Sul teve o melhor resultado (6,12) entre as cinco regiões do país. Em seguida, vem o Sudeste (5,56), o Nordeste (5,28), o Centro-Oeste (5,26) e o Norte (4,67). O Idsus é o cruzamento de 24 indicadores que avaliaram o acesso e a efetividade dos serviços nas unidades públicas de saúde. Entre eles, a proporção de gestantes com mais de sete consultas pré-natal, a quantidade de exames preventivos de câncer de colo do útero em mulheres de 25 a 59 anos, a cura de tuberculose e hanseníase e mortes de vítimas de infarto. Os dados estão disponíveis no endereço eletrônico www.saude.gov.br/idsus.
Edição: Juliana Andrade

quinta-feira, 1 de março de 2012

Minha alma canta quando vejo o Rio de Janeiro

Por mais que tentem, não conseguem destruir a beleza do Rio de Janeiro. Parabéns a uma das mais lindas cidades do Mundo.

Dilma exige punição a generais que questionaram autoridade de Celso Amorim

Presidente considerou novo manifesto uma "afronta" | Roberto Stuckert Filho/PR
Da redação: Sul21
A presidente Dilma Rousseff (PT) ficou irritada com uma nova declaração divulgada por militares da reserva. O comunicado, assinado por 98 oficiais, saiu em defesa do manifesto que havia sido lançado pelos clubes das três Forças Armadas com críticas a Dilma e às ministras dos Direitos Humanos, Maria do Rosário (PT), e das Mulheres, Eleonora Menicucci (PT).
Na nota mais recente, batizada de “Alerta à nação”, os oficiais da reserva manifestam apoio ao Clube Militar – que reúne integrantes da ativa e da reserva do Exército – por ter divulgado um texto criticando declarações das duas ministras.  “Em uníssono, reafirmamos a validade do conteúdo do manifesto publicado no site do Clube Militar, a partir do dia 16 de fevereiro próximo passado, e dele retirado, segundo o publicado em jornais de circulação nacional, por ordem do Ministro da Defesa, a quem não reconhecemos qualquer tipo de autoridade ou legitimidade para fazê-lo”, ataca a nota.

A declaração foi publicada no site “A verdade amordaçada”, mantido pela esposa do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-comandante do DOI-CODI de São Paulo e acusado de ter torturado diversos presos políticos.
Dilma considerou o texto uma “afronta” e se reuniu na quarta-feira (29) com o ministro da Defesa, Celso Amorim. A presidente determinou que ele conversasse com os comandos das três Forças Armadas e determinasse punições aos oficiais da reserva que assinaram a nota.
Dilma teria cogitado mandar prender um dos generais, mas acabou mudando de ideia. Amorim falou pessoalmente com dois dos comandantes das Forças, e por telefone com o terceiro, e deixou com eles a escolha da punição a ser adotada, segundo o código disciplinar de cada Força. Os códigos disciplinares do Exército, Aeronáutica e Marinha preveem advertências, repreensões, prisão e até o desligamento das Forças, de acordo com a infração.
Nos dois manifestos, os militares da reserva fizeram duras críticas à Comissão da Verdade, órgão que terá sete integrantes escolhidos pela presidente Dilma para investigar, durante dois anos, os crimes praticados pelas ditaduras de Getúlio Vargas (1937-1945) e dos militares (1964-1985). Dilma deve nomear nos próximos dias os integrantes do colegiado.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

ONU alerta: Mundo tem de acabar com a mutilação genital feminina


Babatunde Osotimehin

Joyce de Pina, Rádio ONU em Nova Iorque.

Todos os estados membros da organização das Nações Unidas devem estar alerta e participar na campanha contra a mutilação genital em mulheres e raparigas. Este é o apelo da ONU, que conta com a estrela musical africana, Angélique Kidjo, como embaixadora contra o fenómeno, uma violação dos direitos humanos.
Babatunde Osotimehin, director executivo do Fundo da População das Nações Unidas, indicou, após um debate sobre o tema, que uma forma de combater a mutilação genital feminina é realçar os valores positivos dentro das comunidades. Valores que sublinhem o que é melhor para as mulheres e jovens dessa mesma comunidade.
Abandonar a Prática
Recorde-se que nos últimos três anos, umas oito mil comunidades espalhadas pelo mundo, incluindo em 15 países africanos, abandonaram a prática da mutilação genital feminina. E no ano passado, duas mil comunidades declararam que nunca mais vão permitir que uma violação dos direitos humanos como a mutilação genital volte a ocorrer.
Angélique Kidjo, autora e cantora do Benin, vencedora de Grammy’s e Embaixadora do Fundo das Nações Unidas para a Infância, dá a cara contra a mutilação.
Em Nova Iorque, deu um concerto especial dedicado ás vítimas, e num encontro com a Rádio ONU, deixou-se apanhar pelos microfones trauteando uma canção em português.
Nações Unidas urgem estados membros a ilegalizarem mutilação nas mulheres e raparigas; alerta sobre os efeitos nefastos tem de ser disseminado.

Coreia do Norte diz que vai suspender programa nuclear em troca de comida

Gigante com pés de barro
De: Folha.com
A Coreia do Norte concordou em suspender o lançamento de mísseis de longo alcance, testes nucleares e enriquecimento de urânio em sua principal plataforma em troca de um pacote de ajuda alimentar, anunciou nesta quarta-feira o Departamento de Estado dos EUA.
A agência de notícias estatal norte-coreana, KCNA, confirmou a oferta de uma moratória nuclear.
A porta-voz do Departamento de Estado americano, Victoria Nuland, disse que o governo de Pyongyang vai permitir a entrada de inspetores da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) para inspecionar e monitorar a desativação do reator de Yongbyon.
Foi anunciado também um encontro entre EUA e Coreia do norte para acertar os detalhes do envio de 240 mil toneladas de alimento ao país comunista.
A KCNA afirmou que a Coreia do Norte tomou a decisão em resposta a um pedido dos EUA com "a intenção de manter a atmosfera positiva" pelo que foi descrito como "conversas entre o Norte e os EUA de alto nível".
O primeiro contato dos EUA com o governo norte-coreano desde a ascensão do novo líder do país de regime comunista, Kim Jong-un, aconteceu na semana passada.
O representante especial dos EUA para a Coreia do Norte, Glyn Davies, esteve em Pequim nos dias 23 e 24 de fevereiro para discuitr com representante dos governos norte-coreanos a não-proliferação nuclear, a ajuda alimentar à Coreia do Norte e outros temas que causam tensões regionais.
As negociações de Pequim tinham por objetivo persuadir a Coreia do Norte a retornar às negociações com as seis partes, que foram abandonadas em abril de 2009.
O programa de enriquecimento, divulgado pela primeira vez em novembro de 2010, pode fornecer a Pyongyang um caminho alternativo para a fabricação de bombas atômicas, em adição ao seu programa de plutônio de longa data.
A Coreia do Norte realizou testes nucleares em 2006 e 2009 e acredita-se que tenha plutônio em quantidade suficiente para produzir de seis a oito armas nucleares.

TENSÃO

No domingo (26), Coreia do Sul e os Estados Unidos deram início a um de seus maiores exercícios militares anuais em território sul-coreano apesar das ameaças da Coreia do Norte, que declarou que seu povo e seu Exército estariam "preparados para uma guerra" contra os dois países.
Cerca de 200 mil soldados sul-coreanos e 2.900 americanos participarão, até 9 de março, de uma série de simulações "de natureza defensiva" chamada Key Resolve. Os exercícios acontecerão nas bases do Exército dos EUA na Coreia do Sul, informou um porta-voz do Comando das Forças Conjuntas de ambos os países.
Através de sua imprensa estatal, Pyongyang qualificou as manobras dos aliados como "uma violação imperdoável à soberania e à dignidade" da Coreia do Norte, que "está em período de luto" correspondente aos cem dias posteriores à morte do líder Kim Jong-il.
A agência de notícias oficial da Coreia do Norte, a KCNA, acrescentou que "o Exército e o povo" norte-coreanos "estão plenamente preparados para lutar em uma guerra" contra a Coreia do Sul e os EUA.
No sábado (25), Pyongyang havia ameaçado começar uma "guerra santa" devido ao exercício dos aliados, que segundo o regime comunista representa uma "provocação".

FOME

Dese janeiro, milhares de caminhões chineses transportaram arroz para a Coreia do Norte, que sofre com uma falta crônica de alimentos, anunciou Do Hee-Yoon, membro da Coalizão de Cidadãos pelos Direitos Humanos, Pessoas Sequestradas e Refugiados Norte-Coreanos, um grupo com sede em Seul.
Os comboios de caminhões chineses com arroz entraram na Coreia do Norte depois que Pequim aceitou, segundo a imprensa japonesa, conceder uma ajuda em alimentos a Pyongyang.

Ivan Lessa: Nossa língua, nossa alma



Começou tudo de novo. Passou uns tempinhos e o pessoal, preocupado com bullying e fashion weeks, voltou à carga trazendo à baila para o baile aquela festança que abundou no Barsil (ou é Brisal? Vivo confundindo o nome do país) as alegrias de fazer cara feia e apontar o dedo para o políticamente incorreto.
Está nas folhas e em despacho oficial. O Ministério Público Federal quer retirar de circulação exemplares do dicionário Houaiss, sob alegação de que a obra contém referências “preconceituosas” e “racistas” contra ciganos.
Estes, por sua vez, sempre segundo o noticiário, nada têm a dizer sobre o assunto.
Algum zíngaro (êi, “seu” Ministério, zíngaro pode?) foi consultado a respeito? Uma delegação compareceu à sede do Ministério Público Federal para dar queixa?
Nem me ocorre indagar se a Academia Brasileira de Letras foi consultada. Os acadêmicos estão mais ocupados brincando com suas espadinhas fantasiados de imortais franceses nos altos edifícios de sua indiferença ao que fazem em nome da língua que já foi portuguesa do Brasil e, agora, com seu aval, estende seus tentáculos para com Portugal e colônia menores, pois a reforma, que eles gostam de chamar de “acordo ortográfico”, dá um dinheirão para a indústria do livro e aqueles – como os “imortais” – que dela vivem.
Desconfio que o dicionário Houaiss pisou nos calos de algum figurão com uma espada maior e mais mortífera do que as outras. No entanto, fui conferir e lá está mesmo, no Houaiss, constando ainda as acepções “zíngaro”, “vida incerta e errante”, “boêmio, “vendedor ambulante”, “mascate”. Tsk, tsk, tsk.
A notícia com que me ocupo hoje não aconteceu (é preciso escrever sobre como se anda usando esse verbo de uns anos para cá) entre os chamados “alfabetizados” do país. Esses estão mais preocupados com BBBs e a eterna questão do “denegrir a imagem do país no estrangeiro”.
Voltando ao Ministério Público Federal: em nota oficial, ele argumenta que, em versões eletrônicas, o Houaiss chega a definir “cigano” como “aquele que faz barganha”, “esperto no negociar” e “apegado ao dinheiro, agiota, sovina”.
O Houaiss diz isso mesmo. Algumas páginas eletrônicas e gutemberguianas adiante, na letra jota, lá está outra infâmia, digo apontando o dedo duro que Deus ou Jeová me deram: na entrada referente a “judeu”, além de dar a definição mais aceita (“indivíduo da tribo de Judá”), acrescenta ainda, cuidando de avisar que é uso pejorativo, que a palavra pode ser empregada também no sentido de povo nômade, cigano (é, cigano) e – horror dos horrores – “pessoa usurária, avarenta”.
“Judiaria”, em seu sentido figurado, também está exposta à visitação pública, Que coisa, hem, sô!
Mas a ação da Procuradoria proposta em Uberlândia (MG) pede a supressão dos termos e o pagamento, pela editora Objetiva e o Instituto Antônio Houaiss, de R$ 200 mil de indenização por “dano moral coletivo”.
Segundo a Procuradoria, a atribuição viola o artigo 20 da Lei 7.716/89, que tipifica o crime de racismo. O Instituto informou que o diretor Mauro Villar, que poderia falar sobre o assunto, está fora do Brasil. Será ele um “cigano”, na melhor acepção do termo, se essa tiver sido poupada?
Enquanto isso, na ABL, há farta distribuição de jetons e é servido um chazinho com biscoitos importados e pão de leite.
Uma rápida conferida em outras páginas do Houaiss me informa que “racismo” é o “conjunto de teorias e crenças que estabelecem uma hierarquia entre as raças, entre as etnias.”
E “veado”, além do mamífero ruminante é também usado para se referir a homossexuais do sexo masculino.
Mais: “preto” diz-se de uma “pessoa que pertence à raça negra”. E que “crioulo” pode ser “cria ou escravo que ...” – segurem-se – “... ou quem é nascido no Brasil” e ainda acrescentam “diz-se de qualquer negro”.
Fascismo? Pois não. Lá está consignado direitinho: “Tendência para o exercício de forte controle autocrático ou ditatorial”.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Uruguai pedirá perdão por crimes da ditadura

O Estado uruguaio assumirá sua responsabilidade nas violações aos direitos humanos cometidas durante a ditadura militar (1973-1985) durante um ato de reparação a Macarena Gelman, filha de desaparecidos, anunciou nesta segunda-feira (16) o chanceler Luis Almagro. 
De acordo com Almagro, "será um ato simbólico de reparação às vítimas". O chanceler também informou que os detalhes sobre o ato ainda serão definidos, mas deve acontecer em 21 de março no Palácio Legislativo, com a presença do presidente do país, José "Pepe" Mujica. 
O ministro das Relações Exteriores sustentou que os detalhes serão conversados com Gelman no decorrer da semana e definidos posteriormente pelo Conselho de Ministros, quando as sessões forem retomadas em 23 de janeiro. 
Almagro disse que também está previsto o pagamento de uma indenização de cerca de 500 mil dólares (cerca de 893 mil reais) fixado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos. 
Na sentença, emitida em 24 de março de 2011, o organismo também pediu que o Estado uruguaio remova os obstáculos que impedem a investigação e julgamento do caso Gelman, o que levou o Congresso a aprovar em outubro uma lei que torna imprescritíveis os crimes de lesa humanidade. 
María Claudia García, nora do poeta argentino Juan Gelman, foi sequestrada junto com o marido, Marcelo Gelman, em agosto de 1976 e levada a Montevidéu, onde foi assassinada quatro meses depois, após dar a luz a Macarena. Seu corpo, no entanto, nunca foi encontrado.

O centenário de Contos Gauchescos, de Simões Lopes Neto

Milton Ribeiro, em Sul21

Não é à toa que Contos Gauchescos faz parte da lista de leituras obrigatórias para o vestibular da UFRGS nos últimos anos. Ele ali está na justa companhia de José Saramago (História do Cerco de Lisboa), Guimarães Rosa (Manuelzão e Miguilim) e de outros. E de outros menores, deveria dizer. Claro, a lista da UFRGS não é garantia de qualidade — por exemplo, lá não estão Erico nem Dyonélio –, mas serve como comprovação de que o pequeno volume de 19 contos narrados por Blau Nunes está bem vivo.
Contos Gauchescos (1912) é o segundo livro de João Simões Lopes Neto (1865-1916), que também escreveu Cancioneiro Guasca (1910), Lendas do Sul (1913) e Casos do Romualdo (1914). O autor viveu 51 anos e publicou apenas quatro livros. Talvez sejam muitos, se considerarmos a colorida vida do autor.

Casa onde residiu Simões Lopes Neto em Pelotas.
Hoje abriga o Instituto João Simões Lopes Neto (Rua Dom Pedro II, 810)

Simões Lopes Neto nasceu em Pelotas, na estância da Graça, filho de uma tradicional família da região, proprietária de muitas terras. Aos treze anos, foi para o Rio de Janeiro a fim de estudar no famoso Colégio Abílio. Retornando ao Rio Grande do Sul, fixou-se para sempre em Pelotas, então uma cidade rica para os padrões gaúchos. Cerca de cinquenta charqueadas formavam a base de sua economia. Porém, engana-se quem pensa que Simões andava de bombacha. Seus hábitos eram urbanos e as histórias contadas nos Contos Gauchescos eram baseadas em reminiscências, histórias de infância e, bem, a verdade ficcional as indica como de autoria de Blau Nunes, não? A epígrafe da obra deixa isto muito claro: À memória de pai. Saudade. Mas voltemos ao autor.
Sua vida em Pelotas não foi nada monótona. Abriu primeiro uma fábrica de vidro e uma destilaria. Não deram certo. Depois criou a Diabo, uma fábrica de cigarros cujo nome gerou protestos da igreja local. Seu empreendedorismo levou-o ainda a montar uma empresa para torrar e moer café e a desenvolver uma fórmula à base de tabaco para combater sarna e carrapatos. Fundou também uma mineradora. Nada deu muito certo para o sonhador e inventivo João, que foi também professor e tabelião, mas ao fim e ao cabo apenas sobreviveria como jornalista em Pelotas, conseguindo com dificuldades publicar seus livros e folhetins, assim como montar suas peças teatrais e operetas. Este faz-tudo faleceu em total pobreza.
A primeira edição de Contos Gauchescos foi publicada em 1912. Se o ano é este, a data exata da publicação parece ter sido perdida. Na primeira página do volume é feita a apresentação do vaqueano Blau Nunes, que o autor afirma ter sido seu guia numa longa viagem pelo interior do Rio Grande do Sul.
PATRÍCIO, apresento-te Blau, o vaqueano. Eu tenho cruzado o nosso Estado em caprichoso ziguezague. Já senti a ardentia das areias desoladas do litoral; já me recreei nas encantadoras ilhas da lagoa Mirim; fatiguei-me na extensão da coxilha de Santana, molhei as mãos no soberbo Uruguai, tive o estremecimento do medo nas ásperas penedias do Caverá; já colhi malmequeres nas planícies do Saicã, oscilei entre as águas grandes do Ibicuí; palmilhei os quatro ângulos da derrocada fortaleza de Santa Tecla, pousei em São Gabriel, a forja rebrilhante que tantas espadas valorosas temperou, e, arrastado no turbilhão das máquinas possantes, corri pelas paragens magníficas de Tupanciretã, o nome doce, que no lábio ingênuo dos caboclos quer dizer os campos onde repousou a mãe de Deus…
(…)
Genuíno tipo – crioulo – rio-grandense (hoje tão modificado), era Blau o guasca sadio, a um tempo leal e ingênuo, impulsivo na alegria e na temeridade, precavido, perspicaz, sóbrio e infatigável; e dotado de uma memória de rara nitidez brilhando através de imaginosa e encantadora loquacidade servida e floreada pelo vivo e pitoresco dialeto gauchesco.
(…)
Querido digno velho!
Saudoso Blau!
Patrício, escuta-o.
 

Capa da edição pocket da L&PM

Após esta apresentação — de pouco mais de duas páginas na edição pocket da L&PM — , está pronto o cenário para os 19 contos (ou “causos”) que o narrador Blau Nunes contará a seu patrício. Blau é o protagonista de algumas histórias, em outras é um assistente interessado que banha os fatos de intensa subjetividade. E aqui chegamos ao que o livro apresenta de mais original: o trabalho de linguagem de Simões Lopes Neto. Os contos são “falados”, são “causos” contados por Blau e a linguagem acaba por ser uma representação da fala popular misturada a uma inflexão erudita — certamente a de Simões — , transformando-se numa terceira forma de expressão. Numa belíssima terceira forma de expressão. Sabemos que o leitor do Sul21 já está pensando em Guimarães Rosa e tem toda a razão. Rosa confessou que seu texto tinha muito da influência de Simões. O gaúcho abriu as portas para as grandes criações do autor de Grande Sertão: Veredas e esta afirmativa não é a do ufanismo vazio que procura gaúchos em navios adernados, mas uma manifestação de consistente orgulho.
E, assim como nos livros de Rosa, a linguagem de Simões Lopes Neto talvez soe estranha à princípio, apesar de que o estranhamento é muito menor do que aquele com que se depara o leitor do mineiro. Se lá Rosa cria palavras utilizando seu enciclopédico conhecimento etimológico, se lá utiliza-se até de línguas eslavas; aqui Simões transforma o sotaque da região onde nasceu. Há os adágios populares, há os muitos gauchismos do campo e da cidade e há as expressões típicas da fronteira, recheadas de espanholismos. A memória de Blau Nunes é a memória geral do pampa narrando os acontecimentos principais de sua história que, em mosaico, formam uma visão subjetiva da região e de sua gente. Era 1912, não havia regionalismo, estávamos a 10 anos da Semana de Arte Moderna e 4 anos após o falecimento e Machado de Assis. Estamos, pois, falando da literatura de um pioneiro.
Ilustração de uma edição de Contos Gauchescos
Mas Simões Lopes Neto não trabalha apenas a linguagem, é um escritor que sabe criar constante subtexto. Ou seja, há as palavras, mas há um grande contador de histórias trabalhando-as, jogando informações subjacentes que reforçam ou contradizem o que está sendo contado. Isto pode ser sentido no pequeno conto O negro Bonifácio e no tristíssimo No Manantial — segundo e terceiro contos da coleção. A propósito, no CD Ramilonga, Vitor Ramil fez uma homenagem a No Manantial. A frase que é dita no início da canção é a primeira do conto e a que a encerra — Vancê está vendo bem, agora? — está próxima ao final do conto. É uma justa homenagem. Talvez No Manantial seja o melhor conto escrito por autor gaúcho até o surgimento de Sergio Faraco. Apenas em 1937, com a publicação de Sem rumo e Porteira fechada (1944), de Cyro Martins, e de O Continente (Erico Verissimo, 1949), a literatura do RS produziria outras grandes figuras ficcionais gaúchas. Dizia Tolstói: Se queres ser universal começa por pintar a tua aldeia. E Blau Nunes, na condição de narrador e protagonista dos Contos Gauchescos, é um gaúcho de qualquer latitude.

Marcelo Spalding, em excelente artigo análogo a este, finaliza citando a definição de Italo Calvino para o que seria um clássico. De seu artigo, roubamos duas frases de Calvino que, a nosso ver, cabem tão adequadamente a Contos Gauchescos que não há razão para não citá-las. Segundo Calvino, um clássico é uma obra que provoca incessantemente uma nuvem de discursos críticos sobre si, mas continuamente as repele para longe. Mais: clássicos seriam livros que, quando mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos  se revelam novos, inesperados, inéditos. E, avançando no perigoso terreno do tradicionalismo gaúcho, arriscamos dizer que a ligação com o, em sua maioria, tosco movimento, acaba por prejudicar o autor de Contos Gauchescos. O fato de haver inclusive uma Medalha Simões Lopes Neto faz com que muitos leitores do RS o associem ao MTG e deixem de entrar em contato um autor muito sofisticado. Pois o homem que desejava livrar-nos da sarna e dos carrapatos produziu grande literatura.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Farc libera reféns, o próximo passo será a deposição de armas?

La guerrilla de las FARC dice que pone fin a los secuestros y libera a sus rehenes

El grupo terrorista liberará a los 10 militares que mantiene retenidos

Emplazan al Gobierno de Santos a "entablar conversaciones"

Retratos de los secuestrados por las FARC. / LUIS ACOSTA (AFP)

Las Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia (FARC), la guerrilla más antigua de América Latina con casi medio siglo de existencia, sacó este domingo bandera blanca. En un comunicado emitido por el Secretariado de su Estado Mayor, las FARC anuncian el fin de los secuestros como “práctica” de su “actuación revolucionaria” y la próxima liberación de diez militares y policías que aún permanecen en su poder como rehenes.
En el comunicado, de poco más de un folio de extensión, datado en “las montañas de Colombia” y difundido a través de su página de Internet, la guerrilla explica el fin del secuestro como arma política les obliga a derogar la “ley rebelde de 2000” sobre su financiación mediante la toma de rehenes. El secuestro y el tráfico de drogas han sido las dos vías principales de ingresos de las FARC.
También anuncia la puesta en libertad de diez militares y policías, que mantienen cautivos desde hace más de 12 años, y que son sus últimos rehenes uniformados. Las FARC llegaron a tener secuestradas en algunos momentos a más de 50 personas, entre políticos, militares, policías e incluso ciudadanos extranjeros como tres estadounidenses que pretendieron canjear, sin éxito, por medio millar de guerrilleros presos.
En lo que solamente se puede entender como un cruel sarcasmo del grupo guerrillero, la declaración incluye un párrafo en el que las FARC manifiestan sus “sentimientos de admiración para con los familiares de los soldados y policías en nuestro poder. Jamás perdieron la fe en que los suyos recobrarían la libertad, aún en medio del desprecio y la indiferencia de los distintos gobiernos y mandos militares y policiales”.
También piden a la portavoz de los rehenes, Marleny Orjuela, que “acuda a recibirlos en la fecha acordada” —aunque no la precisan— y “agradecen" y “aceptan sin vacilación” la mediación humanitaria del Gobierno de la presidenta brasileña Dilma Rousseff para hacer efectiva la entrega de esos rehenes. La nueva generosidad de las FARC se produce tres meses después del asesinato de cuatro rehenes que llevaban más de una década cautivos, un hecho que provocó una ola de indignación en la sociedad colombiana. El comunicado no dice una palabra sobre el destino o futuro de los civiles secuestrados aún en su poder.
El presidente colombiano, Juan Manuel Santos, ha afirmado a través de su cuenta en la red social Twitter que el anuncio de la guerrilla es un “paso importante” en la dirección correcta pero “no suficiente”. El Gobierno de Bogotá exige la liberación de todos los rehenes como precondición para entablar unas posibles conversaciones de paz. Y por el lenguaje del comunicado, que opone los “propósitos de reconciliación” de las FARC a la voluntad de “exterminio y arrogancia” del Gobierno parece indicar que aún queda un largo trecho por recorrer.
Las FARC, fundadas en 1964 y la única guerrilla importante todavía operativa en América Latina, ha sufrido en los últimos años, sobre todo bajo el mandato del expresidente colombiano Álvaro Uribe, durísimos golpes en su estructura de dirección, entre ellas la muerte de sus cabecillas guerrilleros, entre ellos Raúl Reyes, el número dos de la guerrilla, que murió en un bombardeo ordenado por el Gobierno de Uribe en territorio ecuatoriano y que desencadenó a su vez una seria crisis diplomática en la región. La muerte de su líder Manuel Marulanda, Tirofijo, víctima de un infarto en mayo de ese mismo año y de su sucesor, Guillermo León Sánchez, alias Alfonso Cano, acabaron por debilitar a la guerrilla colombiana, que también ha perdido a buena parte de su militancia. El Gobierno colombiano trata de aprovechar esta debilidad estrechando el cerco militar sobre la guerrilla, sobre todo en las zonas rurales del país sudamericano.