Na mesma medida em que cresce a influência e a força da nova mídia alternativa, especialmente dos espaços de comunicação que têm surgido na internet, crescem também e se espalham pelo Brasil as tentativas de cercear a liberdade dos ativistas que usam a web para fazer jornalismo e política. Repetem-se processos judiciais movidos por empresas, políticos e até mesmo por jornalistas contra outros jornalistas e blogueiros. E, na maioria das vezes, não são processos movidos efetivamente em defesa da imagem do processante, mas sim utilizados como instrumento de pressão contra a liberdade de imprensa e de expressão, como forma de estrangulamento dos pequenos veículos e como tentativa de calar quem pensa e age de forma independente.
Nesta quinta-feira o prefeito de Porto Alegre e candidato à reeleição, José Fortunati (PDT), registrou um boletim de ocorrência contra o jornalista Marco Aurélio Weissheimer, do blog RS Urgente, talvez o mais importante blog político do Rio Grande do Sul. Postagem do blogueiro explica que a acusação é de “‘espalhar denúncias na rede social contra a primeira-dama Regina Becker’, segundo nota divulgada nesta quinta-feira pela coligação ‘Por Amor a Porto Alegre’. Conforme a mesma nota, Fortunati me acusa de ‘atacar sua esposa’, acusando-a de ser um ‘cargo de confiança fantasma na Assembleia Legislativa’.
Weissheimer esclareceu na mesma postagem: “A acusação é falsa e caluniosa, representando, além disso, uma tentativa de intimidação e de ameaça à liberdade de expressão. O texto em questão é um artigo de opinião de Paulo Muzell (‘Caça aos fantasmas’ de ZH: O que o jornal não disse), publicado no dia 17 de agosto de 2012, que não acusa a primeira dama Regina Becker de ser ‘cargo de confiança fantasma’, mas simplesmente questiona o suposto acúmulo de trabalhos desempenhadas pela primeira dama na Prefeitura”.
A leitura do artigo questionado por Fortunati deixa claro que a acusação realmente não procede. Se a totalidade do texto de Muzell dá a entender, sim, que a situação empregatícia da primeira-dama poderia ser ilegal – ou ao menos imoral –, não há ali “acusação de ser um cargo de confiança fantasma”. O que há, sim, é o relato factual das funções acumuladas por Regina, a dúvida sobre a possibilidade de acumular-se aquelas funções, e a crítica ao jornal Zero Hora, que fez extensas reportagens sobre irregularidades na contratação de Cargos de Confiança e não chegou a investigar a situação da primeira-dama, uma situação pelo menos questionável jornalisticamente.
Além disso, o RS Urgente buscou a versão dos envolvidos, como é relatado ao final do artigo de Muzell, possibilitando que explicações razoáveis sobre o caso fossem dadas e, quem sabe, derrubassem as dúvidas do articulista sobre a regularidade da contratação da primeira-dama no gabinete de um deputado do mesmo partido do prefeito.
A intenção de Fortunati é clara, um Boletim de Ocorrência registrado nesse contexto age unicamente para desencorajar novas denúncias e críticas a aspectos direta ou indiretamente relacionados à sua gestão. O ataque à liberdade de expressão e o desrespeito à liberdade de opinião precisam ser, pelo contrário, alvos de novas denúncias e de novas críticas. Denúncias e críticas que certamente não serão publicadas na velha mídia, no jornal Zero Hora, por exemplo. É um tipo de liberdade não interessa a esse setor da mídia. É a mídia realmente independente que deve fazer esse debate. É ela, em seu conjunto, quem está sendo atacada. A ação acerta no RS Urgente, mas mira em todos nós.
Em: Jornalismo B
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por sua opinião