De: Jorge Werthein
O estudo indica que para a maioria dos entrevistados, a polícia deve
interrogar sem violência. No entanto, para alguns crimes a população
defende o uso de métodos como “bater”, “dar choques ou queimar com ponta
de cigarro” e “deixar alguém sem água ou comida”. O uso de algum desses
métodos contra suspeitos de estupro é aceito por 43,2% dos
entrevistados. O porcentual de apoio aumenta entre os entrevistados mais
jovens.
Pesquisa da USP foi elaborada com 4025 entrevistas domiciliares em onze capitais
SÃO PAULO - Quase metade dos brasileiros (47,5%) concorda que os
tribunais aceitem provas obtidas mediante tortura policial, segundo
pesquisa realizada em 2010 e divulgada nesta terça-feira pelo Núcleo de
Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP). Os dados
indicam que aumentou a aceitação à prática em relação a 1999, quando
28,8% diziam ser favoráveis a obtenção de provas por meio de violência. A
Pesquisa sobre Atitudes, Normas Culturais e Valores em Relação à
Violação de Direitos Humanos e Violência foi elaborada com 4025
entrevistas domiciliares em onze capitais brasileiras, incluindo Rio e
São Paulo.
— São números que particularmente me deixam muito inquieta. Nossa
democracia tem quase 30 anos e essas práticas não deveriam ter defesa —
diz a psicóloga Nancy Cardia, coordenadora da pesquisa.De modo geral,
houve também uma melhora na avaliação do trabalho da
polícia. Entre 1999 e 2010, a aprovação da Polícia Federal saltou de 42%
para 60%. A Polícia Militar, a que tem pior avaliação entre as
polícias, saltou de 21,2% para 38% na aceitação da população.O estudo
ainda indica que 42% dos brasileiros acreditam que há momentos,
'em defesa da segurança nacional', em que é justificável o governo
censurar a imprensa. O mesmo percentual acha que o país pode expulsar
pessoas que tenham posições políticas que possam prejudicar o governo.
— É uma submissão a um autoritarismo que dá um tiro no próprio pé. São
bandeiras que não são toleráveis em uma democracia.O trabalho do Núcleo
de Estudos da Violência da USP também faz um
recorte da violência na infância. Sete em cada dez brasileiros já
sofreram algum tipo de agressão quando crianças. A violência foi regular
(houve agressão quase todos os dias ou pelo menos uma vez por semana)
para 20% dos entrevistados. Embora tenha ocorrido uma diminuição no
percentual de brasileiros que relataram agressões – em 1999 eram 79,6%
-, a pesquisa indica a formação de um círculo vicioso no uso de
violência sobre os filhos.— Quem sofreu agressões diz que repetiria esse
padrão com os filhos
mesmo para coisas pequenas, como faltar aulas ou grafitar. Além disso,
mesmo entre os que nunca apanharam, tem mais gente dizendo que iria
bater nos filhos. Essa agressão dentro de casa se reflete em um padrão
social de aceitação da violência — diz Nancy Cardia.Para ela, os dados
são 'preocupantes' porque mostram que não houve uma
conscientização da sociedade sobre os danos causados pela violência
contra as crianças.— Isso evidencia a necessidade de discutir a Lei da
Palmada, que tem
sido tratada até com certa ironia, com as justificativas de que 'é só
uma beliscãozinho', 'é só uma palmadinha'. Mas isso é banalizar a
agressão porque nunca fica só no beliscão e na palmadinha.
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