Na Alemanha, situação geral das profissionais melhorou nos
últimos dez anos, com nova legislação. Mas principais vítimas de
exploração vêm do Leste Europeu. E internet traz novos perigos.
Laura, de Wuppertal, é loura, de 30 e poucos anos. Num portal online,
ela atrai clientes com seu "alto nível e erotismo sem fronteiras", e
admite "interesses financeiros". É pouco provável que a cor do cabelo
seja verdadeira – a idade, talvez. Mas ela oferece "girlfriend sex"
pseudoíntimo. Em média, seu perfil alcança 18 mil cliques por ano, e
paralelamente ela faz publicidade para seu serviço de acompanhantes, em
seu site particular.
O Dia Internacional da Prostituta, comemorado neste sábado (02/06), também se dirige a call girls
como Laura. Sua meta é tornar publicamente visíveis as profissionais do
sexo, mas em especial chamar a atenção para a discriminação que sofrem e
para suas más condições de vida e de trabalho – mesmo na Alemanha, onde
há exatamente dez anos a Lei da Prostituição garante direitos mínimos,
como serviços sociais e cuidados de saúde básicos.
Desinformação
"Em especial as mulheres dos novos países-membros da União Europeia [no
leste do continente] trabalham aqui sob as piores condições", relata a
jornalista Chantal Louis. Ela escreve regularmente sobre prostituição
forçada para a revista de política feminina Emma. "Não adianta nem falar de seguro-desemprego com elas, muitas são analfabetas. Os benefícios jurídicos passam longe delas."
Sibylle Schreiber, da Terre des Femmes |
Também Sybille Schreiber, encarregada de assuntos ligados à
prostituição forçada e tráfico humano da ONG Terre des Femmes, constata:
"A maioria das prostitutas não tem nem ao menos plano de saúde", por
não conhecerem seus direitos.
Cerca de 80% das profissionais do sexo em atividade na Alemanha são
imigrantes – na Áustria a cifra chega a 90% –, a maioria do Leste
Europeu e de nações africanas. Com cerca de 20%, cada uma, a Bulgária e a
Romênia encabeçam uma estatística baseada em estimativas científicas.
Dados oficiais não existem. Como na Alemanha prostituir-se não é
contravenção, as mulheres não são cadastradas. As estatísticas
policiais, contudo, registraram em 2011 mais de 600 casos de tráfico
humano para fins de exploração sexual.
Comercialização pela internet
A ativista dos direitos da mulher Sybille Schreiber afirma que nos
últimos anos a internet "transformou todo o mercado da pornografia e
prostituição". Por um lado, está cada vez mais fácil para os homens
entrar em contato com mulheres jovens. Por outro lado, as ofertas de
ajuda alcançam com dificuldade as mulheres que se encontram no exterior.
Elas são difíceis de encontrar, costumam prostituir-se em diversos
países, antes de retornar às famílias com o dinheiro ganho.
A internet facilita tanto para as mulheres como para os traficantes
sondar o mercado nos países vizinhos e fazer publicidade própria. Em
sites especializados, as mulheres leiloam a si mesmas – ou são
leiloadas. "Em si, a linguagem nesses portais já é tão desumana, que nós
as denunciamos frequentemente ao Departamento Federal de Investigações
da Alemanha", comenta a assistente social Astrid Gabb, do centro de
aconselhamento Madonna, na cidade de Bochum.
"As jovens curiosas se informam sobre as possibilidades de renda
através da prostituição no exterior", diz Mara Dijeva, da associação
Agisra, em Colônia. Ela presta aconselhamento a imigrantes que se
tornaram vítimas do comércio sexual forçado. "As menores de idade também
utilizam espaços de bate-papo impossíveis de controlar, e lá caem nas
mãos de homens que seria melhor não terem conhecido."
Prostituta em Berlim: muitas vítimas de exploração vêm do Leste Europeu |
"Loverboys" na rede
Um fenômeno que não é novo, mas que assumiu novas formas e dimensões,
são os "loverboys": homens que constrangem as vítimas à prostituição
empregando chantagem emocional. Através da internet, eles têm acesso
fácil a grupos afins de jovens de ambos os sexos, e frequentemente
menores de idade.
Mas os criminosos também travam contato através de redes sociais como o
Facebook, supostamente partilham, em longos e-mails, todos os desejos,
sonhos e interesses, escrevem sobre um futuro comum, durante um período
relativamente longo. Até que a dependência psíquica fica forte o
suficiente e há trocas de segredos.
A partir do primeiro encontro, as meninas são pressionadas com as
informações que procuram ocultar de seus pais e amigos. "Num dos casos, o
homem violentou a moça no primeiro encontro e filmou o ato. Com esse
vídeo, ele mais tarde a chantageou e forçou à prostituição", relata
Schreiber, da Terre des Femmes.
A assistente social Gabb alerta: um dos perigos da rede é que as
vítimas não têm ideia de quem encontrarão mais tarde. "No bordel, elas
pelo menos veem o homem, pois ele tem que fazer contato diretamente."
Autor: Johanna Schmeller (av)
Revisão: Carlos Albuquerque
Revisão: Carlos Albuquerque
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