Rachel Duarte, em Sul21
Uma audiência sobre a sentença dada
ao Brasil pela Organização dos Estados Americanos (OEA) no caso da
Guerrilha do Araguaia pode ser realizada ainda este ano. Com a criação
da Comissão da Verdade e da Lei de Acesso à Informação, o país começa a
liquidar sua dívida de justiça e memória perante a Corte Interamericana
de Direitos Humanos. Ao menos esta é a avaliação feita pelo advogado
brasileiro eleito juiz da CIDH nesta semana, Roberto Caldas.
A eleição foi no último dia 5, em Cochabamba, na Bolívia. Caldas é o
segundo jurista nascido no Brasil a ocupar o cargo no organismo, que já
foi também presidido por um brasileiro — o advogado Antonio Augusto
Cançado Trindade, que hoje é juiz na Corte Internacional de Justiça. O
mandato na CIDH é de seis anos, passíveis de renovação por mais seis.
Roberto Caldas foi eleito com 19 votos, vencendo a preferência dos 24
países que integram a OEA. “Foi bastante disputado. Duas juízas que
concorriam para renovação de mandatos não foram eleitas, assim como
México e Colombia, que ficaram com 18 e 15 votos, respecativamente”, diz
Caldas.
Segundo o advogado brasileiro, só tem direito a voto os países que
ratificaram a Convenção Internacional de Direitos Humanos, o que exclui
Estados Unidos e Canadá, que não o fizeram até hoje. “Cada país votava
em até três candidatos. O Brasil obteve maior votação”, comemora. Caldas
acredita que sua eleição na Corte será importante para a imagem do
Brasil em âmbito internacional. “Os Direitos Humanos estão na pauta dos
debates e políticas públicas mundiais. É bom para o Brasil se reinserir
na CIDH neste momento. Todas as decisões da Corte, mesmo que as que não
envolvem diretamente o estado brasileiro tem caráter vinculante”, disse.
Os 24 países que ratificaram a Convenção de Direitos Humanos são
obrigados a seguir as determinações da CIDH.
Caldas é bacharel em direito pela Universidade de Brasília. Atua como
advogado nas áreas de direitos humanos, constitucional, trabalhista,
administrativo, ambiental, do consumidor, eleitoral e internacional. Ele
também é membro da Comissão de Ética Pública da Presidência da
República, da Comissão Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo
(Conatrae).
Foto: Ramiro Furquim/Sul21 |
“Eleição consolida respeito brasileiro aos Direitos Humanos”, diz Maria do Rosário
Em nota, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse que recebeu com grande satisfação a notícia
da eleição de Caldas. Segundo ela, a confirmação do candidato
brasileiro como jurista da CIDH ocorreu durante um importante momento da
história do Brasil, no qual se busca a consolidação da democracia e do
respeito aos direitos humanos.
“A atuação do dr. Roberto Caldas no campo dos direitos sociais, bem
como sua vasta experiência em assuntos relacionados aos direitos civis e
políticos, reforçará a perspectiva universal e indivisível que deve
balizar os trabalhos da Corte Interamericana na interpretação e
aplicação do direito internacional dos direitos humanos”, diz o texto
assinado pela ministra.
Antes da eleição, Roberto Caldas já integrava a CIDH, como juiz
indicado pelo governo brasileiro para julgar o caso Araguaia. Segundo
ele, “o Brasil está dando passos importantes” para o cumprimento da
sentença. Segundo ele, este ano deve acontecer uma audiência que irá
colocar diante da Corte os familiares das vítimas para avaliação do
compromisso do governo brasileiro na reparação. “A Corte acompanha e
cobra o país. Enquanto ele não cumpre tudo o caso não é arquivado”,
salienta.
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