Que bom. Fique aí. |
Esses dias estava passando pelo largo da Epatur, em Porto Alegre, e me deparei com um cartaz do movimento anarquista que dizia: Não vai ter copa.
Além disso, vejo com certa frequência aqueles chavões bizarros (“imagina na Copa”) que já pegaram, são ditos aos quilos e estão inseridos no odioso senso comum de parte da população brasileira.
A principal crítica se refere aos vultuosos gastos com a organização do evento, de aproximadamente R$ 28 bilhões, como se todo esse dinheiro fosse utilizado única e exclusivamente para a construção de estádios.
Vamos fazer uma leve discriminação desses 28 bilhões:
R$ 8,9 bilhões estão sendo gastos em obras de mobilidade urbana, como a construção de BRT’s, metrôs e melhorias no transporte público;
R$ 8,4 bilhões em aeroportos.
R$ 1,9 bilhão em segurança.
R$ 7,5 bilhões serão gastos em estádios;
R$ 1,3 será investido em desenvolvimento turístico, portos, telecomunicações e etc.
Ou seja, dos R$ 28 bilhões gastos/investidos com a Copa, a maior parte será utilizado em obras que serão de grande utilidade para a população.
Do total, R$ 5,6 bi são de investimentos privados, o que reduziria a utilização de recursos públicos, a título de financiamento ou gasto, para cerca de R$ 22 bilhões.
Mas a copa do mundo não é só despesa. Muito pelo contrário, é um investimento muito lucrativo para o país (e para as grandes empresas, é claro), tanto no aspecto financeiro quanto nas questões que transcendem às questões econômicas.
De acordo com estudos realizados por instituições como a FGV e Ernest Young, a Copa do Mundo dará um retorno financeiro que poderá variar entre R$ 142 e 183 bilhões de reais entre geração de emprego, turismo, impostos, consumo e etc. Investe 28 e retorna 180. Mau negócio?
Fugindo das questões financeiras, esses mesmos estudos apontam que a Copa trará maior visibilidade internacional do Brasil, com a consolidação da imagem do país no exterior, reconhecimento pela capacidade de organizar um evento desse porte, maior exposição de produtos e serviços para o mundo e maior aproveitamento do potencial turístico, além do fortalecimento da alta estima da população brasileira, a exemplo do que ocorreu em países anfitriões das últimas edições, como a África do Sul e, principalmente, a Alemanha em 2006. Essa última merece uma atenção especial nesse sentido.
Esses dias estava assistindo um documentário norte-americano sobre Resistência Alemã, com enfoque na famosa e fracassada Operação Valquíria. Nesse documentário, além de contar detalhes dos movimentos de resistência, falou-se de um tema complicado no qual o povo alemão enfrentou no pós-guerra, pelo menos até 2006 com a realização da Copa do Mundo na Alemanha, que é a da sua alta estima dizimada pelas bizarrices nazistas da 2ª guerra mundial.
Até então, qualquer demonstração de patriotismo era vista como algo negativo (não que não seja em alguns casos) em razão da vergonha que a maioria do povo alemão sentia e sente pelo passado de atrocidades praticadas pelos Nazistas. Se nós entoarmos por aí o famosoeu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor, não teremos qualquer problema com isso. Já na Alemanha, existem até mesmo movimentos para mudar o Deutschlandlied, o Hino Nacional da Alemanha, em razão de entenderem que uma de suas estrofes“Deutschland, Deutschland, über alles” (Alemanha, Alemanha, acima de tudo) exacerba o nacionalismo, além do fato de que essa exaltação ter sido (e ser) muito popular entre os nazistas (e neonazistas).
Esse é um dilema que o povo alemão enfrenta – Se eu for alemão demais vão pensar que sou nazista – e que a realização da Copa do Mundo no país ajudou e ajuda a superar e que, de acordo com o professor de História Contemporânea da Universidade de Berlim, Paul Nolte, “esse orgulho não tem precedente no passado recente. A nova geração não tem vergonha de ser patriota”.
A nossa eterna síndrome de vira-latas também vai nesse sentido e é possível que acabe, ou diminua, se realizarmos uma grande Copa do Mundo, apesar da enorme torcida contrária de alguns.
Ao contrário do que esse texto pode parecer, não acho que as críticas à realização da Copa sejam inúteis ou infundadas. As desapropriações de imóveis em periferias para a realização de algumas obras foram ilegais e truculentas. Não discordo nem minimizo esses fatos. Essa questão foi muito mal conduzida e planejada pelos prefeitos das cidades sedes e estes deveriam responder pelo crime de responsabilidade.
Alguns gastos podem ter sido superfaturados. Porém, os Tribunais de Contas e o Ministério Público devem exercer suas funções constitucionais para investigar autuar e punir qualquer conduta ilegal.
A corrupção é um problema crônico em nosso país. Não tenho como afirmar mas, como disse anteriormente, é provável que haja algum superfaturamento das obras da copa. Porém, sendo assim, toda e qualquer obra ou serviço público deveria ser alvo de protestos pois, independente da realização da Copa, sempre houve e sempre haverá corrupção no Brasil ou em qualquer lugar do mundo. Não é exclusividade nossa.
E o problema não é a Copa do Mundo, é o sistema como um todo.
Protestar contra a Copa (ou seus gastos), nessa altura do campeonato, é insano para quem diz que se preocupa justamente com dinheiro público. E ela já está aí, não há como voltar atrás.
Mas, supondo que se volte atrás e que o Brasil não realize a copa. Já pensaram no enorme prejuízo que seria dado aos cofres públicos? Aí sim seria dinheiro posto fora e nenhum real dos quase R$ 200 bi previstos retornaria ao país.
O momento histórico de ser contra já passou. O Brasil se candidatou como sede da Copa do Mundo no ano de 2003. Ou seja, há 11 anos. A Suíça pensou em ser sede dos Jogos Olímpicos de 2022 e o povo de lá foi contra. Resultado? Retiraram a candidatura.
É quase a mesma coisa de ser contra a contratação de determinado jogador para o seu time. Depois que assinou o contrato, amigo, é apoiar e torcer que o Perivaldo vire Pelé.
Mas isso tem explicação. Alguns movimentos ligados ao campo da esquerda mais sectária em conjunto com setores da grande imprensa, andam de mãos dadas, ainda que não saibam disso (ou saibam) com o claro intuito de desestabilizar o Governo Federal visando as eleições de outubro. A Copa do Mundo é apenas um pretexto.
A maioria da população, mesmo com os protestos, apoia a realização da Copa do Mundo no Brasil, ainda que esse apoio tenha diminuído com as manifestações do ano passado.
Protestar contra a Copa? Não, obrigado.
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