Um dos grandes problemas da análise de cenário no país é a incapacidade do analista de, primeiro, entender o todo para depois se debruçar nos indicadores econômicos. E o todo inclui o entendimento sobre a concepção de país e da economia pelo governante, os aspectos ligados à psicologia dos agentes econômicos, a correlação de forças políticas etc.
São esses os ingredientes que tornam o ex-presidente do Banco Central Chico Lopes um analista privilegiado e fora da curva.
A entrevista dele às repórteres Denise Neumann e Flavia Lima, do “Valor Econômico” desta semana é uma síntese objetiva sobre o governo Dilma.
O ponto de partida é entender o que é o governo Dilma, e analisa-lo a partir do que ele é.
SOBRE A CONCEPÇÃO LIBERAL E A SOCIAL
Na concepção liberal da economia, a intervenção do governo deve ser meramente regulatória. “É irrelevante que distribuição de renda vai surgir, se 1% da população vai ter 50% da riqueza”. Já para o governo, é preferível fazer uma distribuição de renda mais intensa, permitindo que a renda dos 20% mais pobres cresça 6 ou 8%, e não 3%.
SOBRE O BAIXO RISCO DESSE MODELO
Mesmo apostando em maior distribuição de renda, o governo do PT não rompeu com a base institucional criada pelo governo FHC, diz Chico. Mesmo defendendo a concepção liberal, diz ele que o custo da opção social é um período maior de inflação alta e uma posição de dívida pior, mas sustentável. O problema do governo Dilma é ter essa concepção social, mas não ter a convicção necessária para deixar isso claro.
SOBRE OS INVESTIMENTOS NO PAÍS
Considera equivocada a ideia de que não está havendo investimentos no país. “Vejo um mundo de construção civil sendo feito, como metrô, estradas, portos. A formação bruta está crescendo 8% ao ano nos últimos anos. E vemos a indústria automobilística fazendo fábricas”. Na retórica, os empresários criticam a percepção de descontrole da economia, o excesso de intervenção. Mas quando se indaga se irão continuar investindo, a resposta é positiva, porque já estão trabalhando a plena capacidade.
SOBRE AS QUEIXAS DOS EMPRESÁRIOS
Lopes diz que a ingenuidade do governo alimenta as reclamações dos empresários. Basta um setor começar a reclamar e ameaçar com desemprego para o governo, por insegurança, reagir na mesma hora e conceder o que o setor quer.
SOBRE A POLÍTICA DE REDUZIR JUROS
Foi acertada, pois ajudou a corrigir a taxa de câmbio. Houve um custo inflacionário, mas foi feito dentro de certo parâmetros. Julga que a elevação atual dos juros é transitória.
SOBRE A QUESTÃO FISCAL
Não considera correta a ideia de que o déficit público brasileiro é grande. Há um enorme esforço fiscal desde o segundo governo FHC e a posição atual e confortável.
SOBRE A QUESTÃO DO GRAU DE INVESTIMENTO
Debita o paradoxo do burburinho com o grau de investimento (frente a uma questão fiscal tranquila) ao desastre da comunicação do governo. O governo deveria deixar claro que existe uma meta, que é estabilizar a dívida líquida como percentual do PIB, usando a folga fiscal para fazer gastos sociais.
SOBRE AÉCIO E CAMPOS
Aécio dá sinais de se voltar a uma política econômica mais ortodoxa, como no período FHC. Mas Chico não arrisca a adivinhar o que pensam Eduardo Campos e Marina Silva.
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