As
pessoas parecem realmente achar que a posição antipolítica é uma coisa
muito sofisticada, anticonvencional e superior. Muito superior a tudo. A
antipolítica é o pretinho básico da afetação política neste momento e
se apoia em 5 dogmas: 1) a política convencional é uma atividade indigna
e iníqua, praticada por canalhas que lutam apenas por interesses (os
próprios); 2) todo governo (não há diferença entre governo e Estado, nem
entre os 3 poderes republicanos) é uma corja; 3) todo partido político é
uma corja; 4) todos os políticos e altos funcionários públicos são
preguiçosos, encostados e delinquentes; 5) Essas coisas só acontecem no
Brasil.
Atualmente, há pelos menos duas grandes correntes de antipolítica, que sintetizo em duas figuras públicas: o boechatismo e o gentilismo. Do boechatismo (de Ricardo Boechat), já tratei algumas vezes aqui: trata-se daquela posição moralmente superior que repete e repete que Brasília é uma cloaca, não há político que preste, todo governante é um gangster. Eles adoram citar “a melô do despeitado” de Rui Barbosa: "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto." Rui, que não ganhava eleição nem para síndico, é o patrono do mimimi.
O gentilismo também é antipolítica. A máxima do seu líder, Danilo Gentili, é que “Existem (sic) níveis para otários. O otário nível máster é aquele que acredita em político”. O gentilismo provém do modelo-CQC, que partilha das mesmas premissas e do mesmo engajamento na ideia de que humilhar políticos é um ato de justiça: todo política pode e deve ser “zoado”.
Diferencia-se do boechatismo basicamente porque Boechat é bem educado e Gentili tem na grosseria um dos seus programas fundamentais. Em 2º lugar, é instintivamente conservador (no caso, anticomunista e antiesquerdista visceral), embora os recursos intelectuais arregimentados para defender a sua posição não superem os do cara que vende água de coco na barraca aqui em frente. Por fim, como o boechatismo, o gentilismos considera a política uma atividade rebaixada, mas, diferentemente deste, não se contenta em desprezar grandes categorias como “os políticos”, “os partidos” ou “o governo”; o seu desprezo precisa ser mostrado no varejo e ser “fulanizado” para não deixar dúvida: Sarney é ladrão, Dirceu é corrupto, Renan é patife... Na antipolítica grossa, pessoas e instituições precisam ser ofendidas pessoalmente.
Dois exemplos do dia:
@DaniloGentili: “Lula: o socialista pai de latifundiário, o mentor q ñ sabia de nada e agora mais um paradoxo: o sem-dedo dedo-duro”.
@DaniloGentili: “Reuna com o seu dinheiro. Não com o meu. Bitch. RT @dilmabr: É uma honra poder reunir todos os ex-presidentes”
Enquanto isso, ao seu redor, multidões (5 milhões seguem Gentili no Twitter) entram em frenesi cada vez que Dan chama a Presidente da República de “cachorra” ou Lula de “sem-dedo”. Não subestimo ninguém que fale diretamente para 5 milhões de pessoas e indiretamente para dezenas de milhões. O gentilismo pode não nos representar, mas podem ter certeza de que representa e sintetiza muita gente.
Atualmente, há pelos menos duas grandes correntes de antipolítica, que sintetizo em duas figuras públicas: o boechatismo e o gentilismo. Do boechatismo (de Ricardo Boechat), já tratei algumas vezes aqui: trata-se daquela posição moralmente superior que repete e repete que Brasília é uma cloaca, não há político que preste, todo governante é um gangster. Eles adoram citar “a melô do despeitado” de Rui Barbosa: "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto." Rui, que não ganhava eleição nem para síndico, é o patrono do mimimi.
O gentilismo também é antipolítica. A máxima do seu líder, Danilo Gentili, é que “Existem (sic) níveis para otários. O otário nível máster é aquele que acredita em político”. O gentilismo provém do modelo-CQC, que partilha das mesmas premissas e do mesmo engajamento na ideia de que humilhar políticos é um ato de justiça: todo política pode e deve ser “zoado”.
Diferencia-se do boechatismo basicamente porque Boechat é bem educado e Gentili tem na grosseria um dos seus programas fundamentais. Em 2º lugar, é instintivamente conservador (no caso, anticomunista e antiesquerdista visceral), embora os recursos intelectuais arregimentados para defender a sua posição não superem os do cara que vende água de coco na barraca aqui em frente. Por fim, como o boechatismo, o gentilismos considera a política uma atividade rebaixada, mas, diferentemente deste, não se contenta em desprezar grandes categorias como “os políticos”, “os partidos” ou “o governo”; o seu desprezo precisa ser mostrado no varejo e ser “fulanizado” para não deixar dúvida: Sarney é ladrão, Dirceu é corrupto, Renan é patife... Na antipolítica grossa, pessoas e instituições precisam ser ofendidas pessoalmente.
Dois exemplos do dia:
@DaniloGentili: “Lula: o socialista pai de latifundiário, o mentor q ñ sabia de nada e agora mais um paradoxo: o sem-dedo dedo-duro”.
@DaniloGentili: “Reuna com o seu dinheiro. Não com o meu. Bitch. RT @dilmabr: É uma honra poder reunir todos os ex-presidentes”
Enquanto isso, ao seu redor, multidões (5 milhões seguem Gentili no Twitter) entram em frenesi cada vez que Dan chama a Presidente da República de “cachorra” ou Lula de “sem-dedo”. Não subestimo ninguém que fale diretamente para 5 milhões de pessoas e indiretamente para dezenas de milhões. O gentilismo pode não nos representar, mas podem ter certeza de que representa e sintetiza muita gente.
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