Aproveito texto dos 15 anos da morte de Carl Sagan, pois não vejo nada a acrescentar nestes
15 anos da morte de Carl Sagan
Fonte: Bule Voador
Autor: André Rabelo
Hoje
completam-se 15 anos desde que Carl Sagan faleceu, no dia 20 de
dezembro de 1996. O mais estranho da data de hoje é que Carl Sagan não
parece estar morto – sua influência ainda é grande ao redor deste pálido
ponto azul que habitamos. As pessoas ainda o enaltecem, leem e
recomendam de maneira entusiasmada os seus livros, como se fossem
lançamentos recentes. Ele inspirou a vida de muitos homens e mulheres
que nunca o conheceram pessoalmente.
Carl Sagan foi, sem dúvida, um grande
cientista com uma brilhante carreira acadêmica. Mas ele foi mais além do
que muitos dos seus colegas acadêmicos contemporâneos. Ele foi um
cientista com uma incrível sensibilidade para questões sociais, éticas e
políticas que raras vezes pôde ser observada em outros cientistas. Foi,
sem dúvida, um dos maiores defensores, entusiastas e comunicadores da
ciência moderna. Sua preocupação em quebrar as “muralhas” que impedem o
compartilhamento do conhecimento científico encantou a vida de muitas
pessoas que tiveram seus corações despertados para a busca cuidadosa do
conhecimento. Ann Druyan, sua esposa em vida, descreveu esta postura de
Sagan na introdução do livro Variedades da experiência científica: Uma visão pessoal da busca por Deus:
“Quando topava com uma muralha – a muralha do jargão que mistifica a ciência e isola seus tesouros do restante de nós, por exemplo, ou a muralha que cerca nossa alma e nos impede de abraçar de verdade as revelações da ciência -, quando topava com uma dessas velhas e infindáveis muralhas, ele usava, como um Josué moderno, todas as suas muitas variedades de força para derrubá-la.”
Uma postura admirável de Sagan que vale a
pena destacar na data de hoje foi a sua imensa preocupação não só com a
razão e a ciência, mas com a humanidade, o convívio entre as pessoas e o
futuro da nossa espécie. Em muitos dos seus livros, Sagan buscou
alertar enfaticamente sobre o risco que significava o aquecimento global
e a destruição da natureza. Foi um implacável crítico do
desenvolvimento das bombas nucleares e do programa Guerra nas Estrelas,
defendendo a importância da discussão ética acerca do desenvolvimento
científico e tecnológico. Também criticou sinceramente a intolerância
religiosa, a pseudociência, a política, a educação e os deslizes éticos
de cientistas.
Sua paixão pela interrogação cética do
universo como uma maneira humilde e ousada de compreendê-lo fica
evidente ao longo da sua vasta obra literária e sua famosa série
televisiva Cosmos. Em outro trecho da introdução referida anteriormente, Ann Druyan ilustra a visão de Sagan sobre a importância da ciência:
“A convicção permanentemente revolucionária da ciência, de que a busca pela verdade não tem fim, era para ele a única abordagem humilde o suficiente para fazer jus ao universo que revelava. A metodologia da ciência, com seu mecanismo de correção de erros para nos manter honestos, apesar da tendência crônica para projetar, para nos equivocar, para iludir a nós e aos outros, era para ele o auge da disciplina espiritual”
Como descrevi em texto anterior,
Sagan demonstrou em episódios marcantes a humildade e diplomacia que
conquistou tantos admiradores e aliados ao redor do mundo. Diante
daquela que ele considerava uma das maiores ameaças para o futuro da
humanidade, a crise ambiental, Sagan reconheceu prontamente nas
religiões uma parceria necessária. A despeito de qualquer reserva que
tivesse, ele soube humildemente liderar um pedido de cooperação com as
principais instituições religiosas da época, tendo o apoio quase unânime
das mesmas na busca pela preservação ambiental. Eu penso que é deste
tipo de postura humanista, agregadora e comunitária, voltada para causas
que unam as pessoas, que o mundo necessita cada vez mais – não só de
outros cientistas, mas de políticos, religiosos e autoridades.
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