LAURO NETO- RIO - A universitária Thays
Gonçalves, de 19 anos, apresentou uma monografia no IV Congresso
Jurídico-Científico da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, em São
Paulo, com um título um tanto quanto inusitado: “Cu de bêbado tem dono sim”. A
intenção era causar um choque inicial para chamar atenção sobre o tema,
descrito no subtítulo “estupro de vulnerável em caso de embriaguez feminina”.
Aluna do 6º período, Thays alcançou seu objetivo ao apresentar o trabalho nesta
quinta-feira (31) durante a XIII Semana Jurídica da instituição.
A primeira reação foi de susto, mas
depois, quando falei do tema e do crime, as pessoas entenderam por quê. A
apresentação foi bem tranquila, fui muito bem recebida pela sala. O título fez
exatamente o que eu queria: chamar atenção para o tema. No final, todos
aplaudiram e vieram me parabenizar pessoalmente - comemora Thays.
No trabalho, a universitária se
baseou no artigo 217-A do Código Penal: ter conjunção carnal ou praticar outro
ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos. O parágrafo primeiro descreve
que “incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém
que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento
para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer
resistência”. Para ilustrar o tema, Thays se baseou em estudos de casos:
- Teve um caso de Pinheiro Preto
(SC), em que uma moça foi chamada por conhecidos para beber e fumar num ginásio
esportivo. Após se recusar a beijar um dos caras, a menina continuou bebendo,
até ficar embriagada. Ela foi estuprada pelo rapaz, se lembra de tudo, mas não
conseguia se mexer ou pedir para parar. É agonizante. Pretendo prolongar o tema
para minha monografia do final do curso, na qual quero entrevistar moças que sofreram
esse tipo de estupro e se procuraram ajuda ou não. Muitas mulheres sentem
vergonha de pedir auxílio quando sofrem.
A estudante conta que não sofreu
resistência dos professores quanto ao polêmico título para um trabalho
acadêmico, apesar de reconhecer que “no curso de Direito são poucos os que
entendem a necessidade de desmitificar do juridiquês e deixar mais acessível a
linguagem”. Ainda assim, ela diz que sua orientadora de iniciação científica,
Gisele Salgado, e o professor de Direito Penal, disciplina na qual apresentou o
trabalho, aprovaram o tema e o título.
- A Gisele amou o título! Até quer
uma camiseta com ele - conta Thays.
Em: Globo
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