O deputado federal Osmar Terra (PMDB-RS) é hoje o maior
proibicionista do Brasil com relação às políticas sobre drogas. Terra,
que é médico, é autor de um projeto de lei que permite a internação
involuntária de dependentes químicos, desde que haja a autorização da
família.
Na prática, deseja também acabar com a distinção entre usuário e
traficante. Durante um discurso no plenário da Câmara, soergueu um saco
plástico, cheio até a metade, que conteria uma quantidade de crack
suficiente para cinco dias de consumo. O saco tinha pedaços de giz.
A teatralidade provocou uma enxurrada de críticas. O professor Luís
Fernando Tófoli, do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da
Unicamp, disse que “o objetivo dele era dizer que o critério objetivo
era impossível, já que a quantidade de pedras que um craqueiro fumaria
seria de 50 por dia. Usuários muito pesados raramente passam de vinte
pedras”. Terra também tem declarado que o bilionário George Soros está
financiando a proposta de liberação da maconha no Uruguai.
Seu último lance foi um tiro no pé. Terra plantou uma nota afirmando o
seguinte: “Uma delegação de autoridades brasileiras se reunirá na
próxima semana com parlamentares uruguaios para advertir dos riscos,
para o país e para a região, da legalização de compra e venda e do
cultivo de maconha prestes a ser aprovada no Uruguai. Também integram o
grupo Marcelo Dornelles, subprocurador-geral de Justiça para Assuntos
Institucionais do Rio Grande do Sul e Vitore Maximiano, diretor da
Secretária Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) do Ministério da
Justiça.”
A informação saiu na agência EFE e foi reproduzida virtualmente em todos os portais. O site uruguaio 180
resolveu apurar a história. A tal delegação de autoridades era, na
verdade, uma visita motivada por sua “preocupação pessoal” de Torres
como parlamentar e como agente de saúde pública.
Mas a mancada mais grave foi a menção ao secretário Vitore Maximiano.
Maximiano, que tem uma posição oposta à de Terra, mandou um email aos
amigos que estranharam sua suposta presença entre a trupe do médico
gaúcho: “Desconheço completamente esse assunto. Completamente. Nunca fui
convidado e, se fosse, não iria nem sob tortura acompanhar o Osmar
Terra numa atividade como essa”, escreveu.
Ao 180, ele falou que a legalização é “parte da política uruguaia,
cujas decisões cabem exclusivamente aos uruguaios. O Brasil respeita a
posição uruguaia e obviamente não vai interferir nos rumos de sua
política”.
O projeto de lei que regula a compra, venda e cultivo de maconha no
Uruguai será votado em meados de novembro no Senado. Tem os votos
necessários para sua aprovação e pode entrar em vigor antes de dezembro.
“O mundo inteiro caminha na direção da rediscussão da improdutiva
guerra às drogas”, diz Tófoli.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por sua opinião