Amelinha (d) afirmou que o colegiado agora comandado por Rosa (e) age de maneira errada |
Por Eduardo Maretti, da RBA,
A ex-companheira do jornalista Luiz Eduardo Merlino, morto nos porões
do DOI-Codi, Angela Maria Mendes de Almeida, disse na segunda-feira
(19), em audiência da Comissão da Verdade Rubens Paiva, na Assembleia
Legislativa de São Paulo, ser “inaceitável” a maneira como foi feita a
oitiva da Comissão Nacional da Verdade que colheu o depoimento do
coronel da reserva Carlos Alberto Brilhante Ustra, em maio passado.
“Naquela audiência, não foi convidado ninguém torturado pelo Brilhante
Ustra. Só o vereador (de São Paulo) Gilberto Natalini (PV), que foi mas
sem ser convidado.”
Na sessão de segunda-feira, as comissões estadual e nacional da
Verdade receberam os processos das famílias Merlino e Teles, que
processaram o coronel Brilhante Ustra. O jornalista Luiz Eduardo Merlino
foi morto em 19 de julho de 1971, quatro dias após ser preso, nas
dependências do DOI-Codi.
Maria Amélia Almeida Teles, a Amelinha, também presente à oitiva no
parlamento paulista, foi presa com o marido César e seus filhos, de 5 e 4
anos de idade. Eles foram levados para assistir aos pais sendo
torturados. Amelinha disse no depoimento de ontem ser difícil aceitar
que, na Comissão Nacional da Verdade, Ustra tenha sido tratado como
“suspeito”. “Ele é condenado em primeira e segunda instâncias e é o
único torturador no Brasil já condenado.”
Em agosto de 2012, Ustra foi condenado pelo Tribunal de Justiça de
São Paulo em ação movida pela família Teles. Na ação por danos morais do
caso Merlino, o torturador foi condenado a indenizar a família em R$
100 mil. Na sentença, a juíza Cláudia de Lima Menge mencionou “a elevada
brutalidade dos espancamentos a que foi submetido o companheiro e irmão
das autoras (Angela e Regina, respectivamente), que o levaram a morte,
ora sob comando, ora sob atuação direta” de Ustra.
Angela Mendes de Almeida disse no depoimento que “a Comissão Nacional
da Verdade se comporta como se fosse uma comissão acadêmica feita para
estudar a história brasileira e depois apresentar um relatório”. Ela
criticou o funcionamento do colegiado, que, ao contrário do paulista,
não tem audiências abertas à sociedade. “A Comissão Nacional foi criada
pela presidenta Dilma para prestar contas à sociedade e à família dos
mortos e desaparecidos”.
Presidente da comissão estadual, o deputado Adriano Diogo (PT)
afirmou, sobre o depoimento de Ustra na Comissão Nacional da Verdade,
que “todos nós nos sentimos humilhados e ultrajados quando o general e
torturador Ustra ofendeu a presidente Dilma e o povo brasileiro”. Na
ocasião, o torturador declarou: “Sempre admitimos que houve mortos
(durante a ditadura). No meu comando ninguém foi morto dentro do DOI.
Todos foram mortos em combate. Dentro do DOI, nenhum.” Sobre Dilma, ele
afirmou: “Ela pertenceu a quatro organizações terroristas que tinham
isso de implantar o comunismo no Brasil. Estávamos conscientes de que
estávamos lutando para preservar a democracia e contra o comunismo”.
Angela Mendes de Almeida disse no depoimento de ontem que “a Comissão
Nacional da Verdade se comporta como se fosse uma comissão acadêmica
feita para estudar a história brasileira e depois apresentar um
relatório”. Ela criticou o funcionamento do colegiado, que, ao contrário
do paulista, não tem audiências abertas à sociedade. “A Comissão
Nacional foi criada pela presidenta Dilma para prestar contas à
sociedade e à família dos mortos e desaparecidos”.
Presidente da comissão estadual, o deputado Adriano Diogo (PT)
afirmou, sobre o depoimento de Ustra na Comissão Nacional da Verdade,
que “todos nós nos sentimos humilhados e ultrajados quando o general e
torturador Ustra ofendeu a presidente Dilma e o povo brasileiro”. Na
ocasião, o torturador declarou: “Sempre admitimos que houve mortos
(durante a ditadura). No meu comando ninguém foi morto dentro do DOI.
Todos foram mortos em combate. Dentro do DOI, nenhum.” Sobre Dilma, ele
afirmou: “Ela pertenceu a quatro organizações terroristas que tinham
isso de implantar o comunismo no Brasil. Estávamos conscientes de que
estávamos lutando para preservar a democracia e contra o comunismo”.
A ex-companheira de Merlino cobrou investigação para apurar a
participação, nas torturas do jornalista e outras vítimas, do delegado
Dirceu Gravina. Ela defende que sejam objeto de investigação também o
enfermeiro-torturador que examinou Merlino antes de ele morrer, e três
agentes que foram buscar Merlino na casa da mãe, em Santos, em 1971, e
que, “cinicamente”, foram à missa de 30° dia pela morte de Merlino.
A advogada Rosa Cardoso, coordenadora da Comissão Nacional da
Verdade, admitiu as críticas e disse que os depoimentos das vítimas não
foram colhidos no colegiado “mais por inexperiência do que por má-fé”.
Ela prometeu trabalhar por uma nova audiência com Brilhante Ustra, desta
vez em conjunto com a comissão estadual de São Paulo. Rosa esclareceu
que o novo depoimento, se for realizado, será em Brasília, onde mora
Ustra, porque é um benefício a que o depoente tem direito.
A deputada federal Luiza Erundna, presente à audiência na Assembleia
Legislativa, elogiou a coordenadora Rosa Cardoso. “Deve estar
enfrentando dificuldades diante do que se espera da comissão nacional.
Mas Rosa Cardoso se soma aos que querem justiça, e não conciliação com
os torturadores.” A coordenadora da CNV estaria em meio a um racha com
outros integrantes da comissão, capitaneados por Paulo Sérgio Pinheiro,
que são contra a divulgação de relatórios parciais e a defesa de uma
linha explícita favorável à condenação de agentes do regime.
A deputada defendeu a “reinterpretação” da Lei da Anistia. “Senão esses facínoras continuarão a ser anistiados.”
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