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BOPE vem realizando ações desastrosas no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Repórter relata relata o terror dos moradores
por Karla Monteiro — publicado 25/06/2013 15:22, última modificação 25/06/2013 22:45
Um post acaba de surgir na tela do meu Facebook: “A noite de terror continua na favela da Maré: dois mortos ontem, incluindo um policial, mais um rapaz morto hoje, dentro de sua casa; vários feridos. Observatório sem energia, sem telefone: Bope acertou o transformador e cortou os cabos de telefone. Qual o sentido disso? O Estado tem que ter equilíbrio; senão, quem terá?”. Quem assina é o doutor em Sociologia da Educação e fundador do Observatório de Favelas, Jaílson de Souza e Silva.
Logo cedo estive na entrada da favela Nova Holanda, uma das 17 comunidades que compõem o Complexo da Maré, na zona norte do Rio, onde a polícia continua em ação. Não consigo entrar. E ninguém consegue sair para me dizer o que está acontecendo de fato. Meu telefone toca sem parar. São amigos relatando casos de abusos da polícia. São amigos desesperados com uma situação de insanidade que começou na noite de ontem quando um grupo que realizava uma manifestação na Avenida Brasil correu para dentro da favela, fugindo da repressão da polícia, que neste lado da cidade não usa bala de borracha, usa bala de canhão.
Os jornais relatam que houve um arrastão durante a manifestação. Arrastão? Segundo os moradores, o que aconteceu foi: a cracolândia carioca ficava exatamente na entrada da Nova Holanda, em plena Avenida Brasil. A coisa foi crescendo, tornando-se assustadora e vergonhosa para o prefeito Eduardo Paes. O que ele fez? Mandou limpar o lugar e empurrou os viciados para dentro da favela. Os mesmos passaram a viver uma situação insólita. Não mais podiam circular na Brasil porque a guarda municipal estava lá para descer o sarrafo. Não podiam circular dentro da favela porque os traficantes não permitiam. Ou seja: confinamento a uma rua, a rua Sete de setembro, entre a avenida e a favela. Aproveitando o caos instaurado pelo embate entre polícia e manifestantes, os “ cracudos”, como são chamados por aqui, corrduaseram para saquear. Lei da sobrevivência.
Os helicópteros sobrevoam... E mais um post do Jaílson surge na minha tela: “Já são oito mortos, sendo um o policial morto ontem. Hoje, o sentido da ação não passa de vingança. Onde se chega? Obrigado pelas falas e ligações solidárias. Seria bom que todos vissem isso para entender como as manifestações são necessárias. Vamos lutar pela reforma política, com constituinte exclusiva”. Um minuto depois, Jailson posta de novo: “Por favor, divulguem esta exigência: Parem a operação Policial JÁ! Ela não tem sentido e só é alimentada pelo desejo de vingar a morte, lamentável, do policial”. Na verdade, Jailsom, mesmo estando lá dentro, está desatualizado. Já são 9 mortos confirmados, segundo a própria polícia.
As ações desastrosas do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) no Complexo da Maré começaram há algumas semanas, com os “caveira” invadindo casas de pessoas de bem, espalhando terror e medo. Um dos fotógrafos do OBS teve a sua casa destruída e seu equipamento quebrado, jogado dentro do vaso sanitário. Assim age a polícia da dupla Cabral/Paes. Hoje, segundo as informações difusas, estão dentro da Maré BOPE, Batalhão de Ação com Cães (BAC) e Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque). A desculpa do governo é desarticular o tráfico para a implantação da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), que os moradores chamam de Unidade de Polícia Porrada. Ou seja: Cabral/Paes estão promovendo um tiroteio pela paz.
Bom... O que eu tenho a ver com tudo isso? Em janeiro eu comecei a trabalhar no Observatório de Favelas. Conheci de perto uma das organizações mais interessantes e ativas do Rio de Janeiro, um lugar de produção de pensamento e de formação de cidadãos, no sentido mais amplo da palavra. Em 15 anos de jornalismo, jamais me deparei com tamanha força, tamanho desejo de formar e informar. A Escola de Fotógrafos Populares e a Escola de Comunicação Crítica, ambos projetos do Observatório, despejam jovens politizados, intelectualizados e dispostos a criar um canal de comunicação direto com a população - e principalmente dispostos a produzir arte engajada. Eu me apaixonei pelo projeto... E pelas pessoas. E pela Favela da Maré.
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