Rio de Janeiro - As 20 microrregiões brasileiras com maior
prevalência de armas de fogo têm uma taxa de homicídios, em média, 7,4
vezes mais alta que as 20 em que a presença de armamentos é mais baixa. A
constatação é parte do estudo Mapa das Armas de Fogo nas Microrregiões
Brasileiras, apresentado hoje (1º) pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea).
O diretor de Estudos e Políticas de Estado, das Instituições e da
Democracia do Ipea, Daniel Cerqueira, um dos responsáveis pelo trabalho,
disse que há uma relação de causa e efeito entre a presença de armas e a
taxa de homicídios. "Apesar de ser uma lei nacional, o Estatuto do
Desarmamento teve resultados diferentes dependendo dos esforços dos
governos estaduais para controlar a difusão de arma de fogo".
Daniel Cerqueira argumenta que os estados que mais se empenharam no
desarmamento da população - São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco -
foram os que tiveram quedas mais expressivas da criminalidade entre 2000
e 2010, enquanto na Bahia, no Maranhão e Pará, onde a prevalência de
armas não teve o mesmo comportamento, houve aumento dos homicídios.
As 20 microrregiões mais armadas possuem taxa de homicídios média de
53,3 mortes para cada 100 mil habitantes, número que chega a 101,3 em
Maceió, e 77,1 em João Pessoa. As duas capitais estão entre as 13 áreas
nordestinas no ranking de prevalência de armas de fogo, que tem
quatro do Sudeste, duas do Sul e uma da Região Norte. Outras capitais
que compõem a lista são Recife, Salvador, Belém, Vitória, Curitiba e
Fortaleza.
Já as 20 microrregiões com a população menos armada possuem 7,2
homicídios por 100 mil habitantes, em média, taxa que cai para 0,7 em
Barreiras, microrregião de 286 mil habitantes no interior da Bahia que
ostenta a menor prevalência de armas do país. Entre as cidades em que
proporção é baixa, 12 são do Sudeste, sendo dez de Minas Gerais. O
Nordeste possui quatro na lista, e o Sul, duas. Centro-Oeste e Norte
participam com uma, cada um.
Na apresentação, o diretor do Ipea mostrou que o aumento de 1% no
número de armas aumenta em 1% a 2% a taxa de homicídios de uma região.
Por outro lado, a elevação da prevalência de armas não reduz o número de
crimes contra o patrimônio: "Isso desmente o mito de que o armamento do
cidadão funciona como forma de dissuadir os criminosos a não cometerem
crimes contra a propriedade", concluiu Daniel.
Uma estatística preocupante apresentada por Daniel Cerqueira foi o
aumento de 50% dos homicídios com arma de fogo praticados dentro dos
lares. Para o pesquisador, o aumento está relacionado ao avanço da
prevalência de armas em regiões mais marcadas pela violência doméstica.
Outro problema apontado pelo mapa é o aumento do número de armas e
de homicídios em microrregiões marcadas pelo desmatamento e por
atividades econômicas em que há conflitos pela terra.
Edição: Davi Oliveira
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