Cena do filme “A sangue frio” (1967), dirigido por Richad Brooks. Documento mostra diminuição no número de sentenças fatais em muitos países e aponta tendência a que sejam cada vez mais incomuns
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Por Gabriela Leite, em Outras Palavras
É possível extrair uma esperança, da última versão do relatório anual
sobre a pena de morte da Anistia Internacional, divulgada ontem. As
sentenças capitais estão diminuindo em várias partes do mundo, o que
permite sonhar com seu fim. A Anistia, uma das mais conhecidas
organizações internacionais pelos direitos humanos, opõe-se a tal tipo
punição em qualquer circunstância, não importando qual seja o motivo.
Considera-a violação do direito à vida, executada de forma cruel e
desumana. Lamenta que na lista das cinco nações que mais a praticam
estejam Arábia Saudita, China, EUA, Irã e Iraque.
Em números totais, em 2011 e 2012, 21 países utilizaram a
pena de morte como punição. O número é significativamente menor que em
2003, quando 28 Estados puniam certos crimes executando os supostos
infratores. Apenas um país em cada dez mantém a sentença capital, o que
reflete mudança e mostra como tal medida está se tornando cada vez menos
justificável. Também caiu o número total de sentenças de morte
proferidas: foram 1722 no ano passado, 10,5% menos que as 1923 do ano
anterior.
O avanço se deu principalmente em alguns países, que estão
retirando a pena capital de sua legislação. É o caso da Mongólia, na
Ásia, que assinou um tratado internacional a respeito; dos africanos
Benim e Gana (que está reformulando sua Constituição, na qual não haverá
espaço para a sentença); e da Lituânia, no leste europeu.
O Oriente Médio e o norte da África são as área com mais
incidência da pena de morte. Irã, a Arábia Saudita, o Iraque (onde o
número de condenações aumentou em 2012) e o Iêmen concentram 99% das
execuções na região, com níveis muito altos. Porém, os Estados Unidos
também estão no topo da lista dos que mais matam seus prisioneiros. É o
único país da América a manter a punição, que liquidou a vida de 43
pessoas em 2012, mesmo número de 2011.
Apesar de avanço nas leis de países africanos, o Sudão e a
Gâmbia tiveram um aumento no número de condenados, no último ano. O
segundo país executou nove pessoas em 2012, depois de três décadas sem
um único caso. O mesmo aconteceu na Índia, que levou a cabo sua primeira
execução desde 2004. Já no Japão, o hiato de 20 meses foi quebrado com
três mortes em março do ano passado. A Anistia acredita que a China seja
o país que mais registra de casos de pena de morte. Segundo a
organização, os números são mantidos em sigilo pelo Estado chinês.
Em todo o mundo, os “motivos” mais frequentes alegados para
aplicação da pena são crimes econômicos (corrupção) ou relacionados a
drogas; mas há casos de sentenças por blasfêmia, adultério e apostasia
(afastamento da fé). As execuções incluem métodos como enforcamento,
decapitação, fuzilamento e injeção letal, mas em um caso tenebroso na
Arábia Saudita, o corpo de um homem foi exibido em uma forma de
crucificação.
Salil Shetty, secretário geral da Anistia Internacional
afirma que há uma tendência que a pena de morte diminua até ser abolida.
Para ele, não há justificativa possível para tal punição e nenhuma
evidência que prove que ela ajude no combate ao crime. A pena capital,
prossegue, parece ter sido usada apenas como medida política de
repressão ou demagogia — e precisa ser combatida.
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