Para
um certo Marco Feliciano, que se apresenta como pastor, cantor e
empresário, “a podridão dos sentimentos homoafetivos levam ao ódio, ao
crime, à rejeição” e a Aids é um “câncer gay”, sendo os homossexuais
os culpados pela doença.
Além de homofóbico, Feliciano reproduz afirmações racistas ao sustentar, por
exemplo, que “os negros descendem de um ancestral amaldiçoado por Noé”. Mas o
interessante mesmo da atuação do Pastor é sua capacidade de fazer com que
pessoas humildes doem para sua “Igreja do Avivamento Assembleia de Deus”. Em
certo momento ele diz: “É a última vez que falo: Samuel Souza doou o cartão, mas
não doou a senha. Aí não vale. Depois vai pedir milagre pra Deus e Deus não vai
dar...” Deus é grande, sabemos, e aceita carros, motos, computadores, cheques
pré-datados, assim como cartões de crédito e doações online (o desempenho do
pastor como sócio majoritário da graça divina pode ser visto em: http://migre.me/dAm9g).
Tudo isto vira “política” no Brasil e o tal Feliciano é deputado federal do
PSC. Esta semana, virou presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.
Quem permitiu que isso acontecesse foram os maiores partidos da Casa.
Interessados nas comissões rentáveis eleitoralmente, eles rifaram a Comissão de
Direitos Humanos e seus temas sempre difíceis, polêmicos e desgastantes. O
prejuízo será grande e a comissão há de produzir pouco mais que oração e
folclore. No final, quem sabe, Marco Feliciano terá gravado um novo CD.
A situação seria outra caso tivéssemos uma cultura democrática e os direitos
humanos fossem compreendidos como a pauta mais generosa da civilização. O espaço
alargado pela ignorância e pelo oportunismo, entretanto, permite a proliferação
de felicianos e de suas empresas isentas de impostos. O que ainda não foi
percebido é que, além de cheques, estes senhores depositam ameaças à democracia.
O crescimento do fundamentalismo evangélico no Brasil segue sendo largamente
menosprezado, como costumam ser os fenômenos sociais e culturais que emergem das
periferias. No Amazonas, recentemente, alunos evangélicos de uma escola pública
se recusaram a integrar projeto sobre a cultura afro-brasileira, afirmando que o
trabalho fazia apologia do “satanismo e do homossexualismo”. Nos parlamentos,
Brasil a fora, não faltam projetos obrigando a leitura da Bíblia em escolas
públicas. Enquanto isso, temas fundamentais da modernidade sobre os direitos
civis, política de drogas, direitos reprodutivos e pesquisa científica são
obstaculizados pelas chamadas “bancadas evangélicas”, eufemismo para condutas
descritas ora na Idade Média, ora no Código Penal. Em nome do respeito às
religiões, agimos como se fôssemos obrigados a respeitar as agressões, o
preconceito, o curandeirismo e a manipulação. Não o somos. O direito à liberdade
religiosa, que caracteriza o Estado laico, não impede a crítica à intolerância e
à safadeza; pelo contrário, a exige.
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