De: Terra
As
ameaças aos jornalistas Mauri König e André Caramante foram debatidas
nessa terça-feira durante a primeira reunião do Grupo de Trabalho (GT)
sobre Direitos Humanos dos Profissionais de Jornalismo. Recentemente, os
jornalistas foram obrigados a deixar o País devido a ameaças sofridas
no exercício da atividade profissional.
Criado no final de 2012, o grupo de trabalho tem por
objetivo analisar denúncias de violência e ameaças sofridas por
profissionais de comunicação. Ele é vinculado ao Conselho de Defesa dos
Direitos da Pessoa Humana (CDDPH). Inicialmente o GT deve acompanhar
perto de 50 casos envolvendo ameaças e assassinatos de jornalistas no
Brasil.
Caramante e König falaram sobre as ameaças sofridas por
eles e defenderam a necessidade de federalização dos crimes cometidos
contra jornalistas. Eles argumentaram que a investigação dos crimes
geralmente sofre interferência, em razão de interesses locais que
inviabilizam a prisão dos responsáveis, por isto a necessidade de que as
investigações ocorram em nível federal. Políticos e agentes de
segurança pública foram citados como responsáveis por interferir nas
investigações.
'Existem pressões do poder local que dificultam as
investigações. Muitos casos acabam caindo na impunidade e é essa
sensação de impunidade que faz com que os agressores sejam reincidentes.
Em boa parte dos casos, os agentes públicos ou pessoas a mando desses
agentes são quem promovem as ameaças e violências contra os jornalistas.
No meu caso e do Caramante foram os agentes de segurança', disse König.
Depois de publicar reportagens sobre corrupção na
Polícia Civil do estado do Paraná, König, que trabalha no jornal
paranaense Gazeta do Povo, passou a receber ameaças de morte. Por medida
de segurança, ele e a família estão em local desconhecido.
Caramante, que é repórter do jornal Folha de S.Paulo,
escreveu reportagens sobre a atuação do coronel reformado da Polícia
Militar (PM) Paulo Telhada. Eleito vereador em São Paulo em 2012,
Telhada é ex-comandante da Rota, grupo de elite da PM paulista. Depois
da publicação das reportagens, Caramante começou a receber ameaças de
morte, que incluíam também seus parentes.
Para proteger a família, o repórter teve que deixar o
país. 'Para mim foi muito doloroso ser mandado para fora do meu estado.
Sempre trabalhei nessa área fiscalizando o braço armado do Estado,'
disse Caramante.
Durante a reunião, a ministra da Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República (SDH), Maria do Rosário, disse que o
GT vai acompanhar com especial atenção as ameaças sofridas pelos
jornalistas. A ministra defendeu que, nos casos em que agentes do Estado
estejam envolvidos, eles devem ser afastados de suas funções e
responsabilizados.
'O que a gente faz é enfrentar lógicas de violação de
direitos humanos que muitas vezes têm o Estado como agente violador',
disse. Maria do Rosário também disse que os veículos de comunicação
também devem estar presentes na apuração dos casos e na proteção aos
jornalistas.
O caso do assassinato do jornalista Décio Sá também foi
debatido durante a reunião do GT. Assassinado em abril de 2012, o
jornalista maranhense mantinha um blog no qual veiculava denúncias
contra políticos e grupos de pistoleiros que agem no Maranhão. A
principal testemunha do caso morreu na última quarta-feira (14), após
ter sofrido uma emboscada na qual levou sete tiros no início de janeiro.
Levantamento divulgado no dia 30 de janeiro mostra que o
Brasil perdeu nove posições no ranking mundial de liberdade de
imprensa. O ranking, elaborado pela organização não governamental
Repórteres sem Fronteiras, leva em consideração elementos que vão desde a
violência contra jornalistas até a legislação do setor.
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