A
verdade começa a vir à tona: no anonimato, um policial conta que 90%
das mortes atribuídas a motoqueiros “fantasmas” são de autoria de PMs
Um policial militar, sob garantia de anonimato, confessou ter matado 5
supostos integrantes do PCC nos últimos 20 dias. “Vingança”, disse ele,
que está fora de casa há duas semanas por fazer parte da lista do crime
organizado.
Contou que ele não mata na região em que mora, nem na que trabalha.
Faz o serviço em outras regiões, a pedido de colegas, que retribuem
favores matando os indicados por ele. Diz que todos os mortos tinham
passagens por presídios. O clima é de matar ou morrer. “Assim como eles
têm informações sobre a gente, a gente tem sobre eles”, diz.
Cresceu em um bairro pobre. Tornou-se policial, mas muitos amigos
foram para o crime. Diz que nos últimos dias o comando da PM deixou de
divulgar as mortes de policiais na frequência de rádio justamente para
evitar as vinganças.
Num bairro da Zona Norte de São Paulo, a ascensão social dos últimos
anos esbarra na violência. O bairro simples, mas acolhedor, viu quatro
mortos e dois feridos em três dias, o que nunca tinha acontecido antes.
Três dos mortos viviam próximos uns dos outros.
Dois foram executados numa pracinha por homens encapuzados. Não
tinham passagem pela polícia. As mortes são atribuídas a PMs, que teriam
vingado a morte de uma colega.
Um líder comunitário lembra que a execução, às 20h30m, aconteceu
quando outros policiais atendiam a uma ocorrência distinta no mesmo
bairro, a 100 metros de distância.
“Quem iria fazer a execução com a polícia por perto?”, pergunta.
Adolescentes do mesmo bairro dizem que quando a PM aparece o esculacho é geral.
O bairro não tem parque, não tem praça digna do nome, nem centro
esportivo. É um imenso aglomerado onde os pais agora trancam os filhos
em casa assim que as crianças voltam da escola.
O PCC controla farmácias, transportadoras, supermercados, postos de
gasolina e distribuidoras de combustível. O ciclo completo de negócios
que permite acesso a insumos para os laboratórios de refino de cocaína,
desova e distribuição de cargas e drogas e lavagem de dinheiro.
É mito que a violência em São Paulo seria resultado de confronto
entre PMs e o PCC por controle de pontos de jogos ilegais, disseminado
por um jornalão carioca. Se isso existe, é na Baixada Santista, onde o
crime organizado enfrenta a Polícia Civil.
Existe o risco de um racha interno no PCC, já que o partido fundado
supostamente para defender os direitos de presidiários exige ações dos
que estão fora da cadeia, ações que colocam em risco os negócios dos
líderes que estão na rua.
Se de fato houve acordo entre o governo Alckmin e a principal
liderança do PCC, ele é ameaçado pelo dedo nervoso de jovens recrutas do
PCC e pela tropa da PM, que diz vingar em defesa da corporação. Daí o
que parece ser uma espiral de violência incontrolável pelos “de cima”.
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