domingo, 4 de novembro de 2012

"Gonzaga, de Pai pra Filho", na opinião de Joyce Moreno

amigos

Vimos o filme 'Gonzaga -  de Pai pra Filho', que está hoje em cartaz. É ficção, não documentário, e isso traz todas as possibilidades de a história contada não ser fiel aos fatos. Mas, pra minha surpresa, parece que foi, sim.
Não tive nenhuma proximidade com o pai, Gonzagão. Assim como Caymmi, era pai de amigo meu, e portanto pra mim seria sempre 'seu' Luiz
(ou 'seu' Dorival, no caso do Caymmi). Engraçado, isso. É coisa de uma geração onde os pais eram chamados de 'senhor' ou 'senhora'. Hoje em dia ninguém mais trata os pais assim, pelo menos até onde eu saiba. Mas minha geração tem, ou tinha, essa formação que nos foi imposta, de demonstrar respeito aos mais velhos dessa forma. O que eles mesmos muitas vezes achavam besteira.

(César Faria, por exemplo, o maravilhoso violonista do Época de Ouro, reclamava comigo por eu chamá-lo de 'seu' César. Expliquei pra ele que ele era pai de meu amigo Paulinho, e portanto seria sempre 'seu' César pra mim. E ele: "mas o Dino, você chama de você!" Tive de explicar que conhecera Dino Sete Cordas antes de ter conhecido o Dininho, filho dele. Portanto me sentia à vontade para lhe dar este tratamento. Assim como o Tom era o Tom pra mim, bem antes de ser o pai do xará do filho do 'seu' César, Paulinho também. E Vinicius, então, nem se fala. Mas Vinicius não vale como exemplo: ele era sempre um de nós, fosse quem fosse esse 'nós'. Imagina se alguém iria chamar o Poeta de 'seu' Vinicius???)

Mas voltando ao filme: por ter tido intimidade razoável com Gonzaguinha, em vinte anos de amizade, tendo acompanhado suas alegrias e tristezas, amores e desamores, fracassos e sucessos, acabei me emocionando com a composição do ator que o interpreta, quase perfeita
(já tinha visto um espetáculo teatral com outro ator fazendo, e estava perfeito também. Gonzaguinha talvez seja um tipo fácil de representar, ou ambos os atores são extraordinários, o que é mais provável).
O conflito central do filme, porém, são as desavenças e dificuldades de entendimento entre pai e filho, e disso não posso falar. Meu amigo Gonçalves (
como eu chamava Gonzaguinha, desde que nos conhecemos) não tocava no assunto praticamente nunca. Falávamos de música, política, direitos autorais, filhos, amigos, casamentos, das coisas do dia-a-dia, mas ele nunca falava do pai dele, assim como eu também não falava do meu. Duas encrencas que não valia a pena esmiuçar. Hoje vejo que simplesmente fugimos dessa questão porque certamente nos incomodava. Os analistas é que sabem dessas coisas.
Mas ver o filme deu um travozinho de saudade desse amigo - o melhor jogador de jogo de memória que conheci, companheiro nas lutas da Sombrás e do CNDA, frequentador do apartamento de Luizinho Eça, no Leblon 
(onde rodeávamos o piano ouvindo nosso amigo e mestre dar lições grátis de harmonia) e de algumas de minhas casas ao longo do tempo. No ano de 1986 rodamos o Brasil juntos, ele e eu, numa turnê patrocinada pela Sharp. No ano anterior, tínhamos estado juntos em Moscou, numa grande trupe de artistas de muitos gêneros de música. Enfim, foi um longo convívio, que se interrompeu com a partida prematura dele. Quando é assim, a gente sempre fica pensando no que poderia ter sido e não foi, no que a pessoa estaria fazendo hoje, como estaria envelhecendo.
Mas é aquela velha história:
"how to stay young? die young..."

PS- fiquei feliz em saber da bem-sucedida volta de Baby Consuelo, ou do Brasil, aos palcos, cantando seu repertório 'secular'. É uma grande cantora popular brasileira, que não precisaria estar no gueto da música evangélica, exclusivamente. Louva-se a Deus de várias maneiras, e uma dela é alegrando as pessoas, como ela sempre soube fazer. Benvinda!
escrito por joyce @ em Outras Bossas

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por sua opinião