Xarope Rhum Creosotado, elixir Nutrogenol, loção Phenomeno... Conheça a história das primeiras propagandas brasileiras.
Um dos primeiros anúncios impressos no Brasil, de 1808
A primeira propaganda do Brasil, segundo a definição do escritor
Ricardo Ramos, aponta para a carta descrita pelo capitão-mor Pero Vaz de
Caminha, na qual relatava ao rei de Portugal Dom Manuel as maravilhas e
encantos da nova descoberta: "Até agora não pudemos saber se há ouro ou
prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a
terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de
Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d’agora assim os achávamos como
os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que,
querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem
(...)". Após essa ação publicitária sobre o exuberante produto, a Ilha
de Santa Cruz, a publicidade no Brasil permaneceu ainda por 300 anos
quase que exclusivamente de forma oral.
A publicidade tal qual a conhecemos atualmente surgiu no Brasil em
meados de 1800. Foi somente a partir de 1807, com a transferência da
corte portuguesa ao Brasil e, um ano depois, com a criação da Imprensa
Régia, que surgiu de fato o primeiro jornal oficial do país: a Gazeta do
Rio de Janeiro. (Em 1806, Hipólito da Costa já havia criado em Londres o
primeiro jornal não-oficial brasileiro). Em 1860 começaram a
aparecer os primeiros painéis de rua, bulas de remédio e panfletos de
propaganda. Quinze anos depois, em 1875, surgiram as primeiras peças
ilustradas em litogravura.
Anúncio da cerveja Holstia Bier no Jornal O Estado de São Paulo, de 1894
Anúncio da loja Mappin na Revista da Semana, de 1910
Anúncio do Instituto de Tuberculosos no Jornal Correio do Povo, de 1900
Anúncio do elixir Nutrogenol Granado na Revista Ilustração Paulista, de 1912
Anúncio do xarope Divino, de 1917
Tendo a família e os grupos domésticos como unidades de produção do
consumo, as propagandas no Brasil baseavam-se em temas como compra e
venda de móveis - e até de carruagens e escravos. Já os fortificantes e
elixires (considerados como os grandes anunciantes) dialogavam com as
donas de casa, prometendo-lhes vigor e bem-estar. Alguns nomes daquela
época hoje soam curiosos e até engraçados: Pós da Pérsia, Bálsamo Maravilhoso, Óleo de Fígado Bacalhau e o Rhum Creosotado.
Poetas como Olavo Billac, Augusto dos Anjos, Ari Barroso, Casimiro de
Abreu e Fernando Pessoa foram alguns dos escritores que participaram da
criação dos textos publicitários durante aquele período.
A Eclética, primeira agência de publicidade do país, nasceu em 1913,
em São Paulo. Surgiram, então, grandes anunciantes multinacionais, como a
General Eletric, a Nestlé e a Ford. Apesar de possuírem um padrão mais
elevado do que a maioria das companhias brasileiras, elas não
representavam os costumes e tampouco os hábitos de consumo nacional.
Por conta de epidemias como a gripe espanhola, além do crescimento
progressivo dos núcleos urbanos no Brasil, a partir de 1918 houve uma
incidência de diversas doenças e problemas de saneamento em geral. A
questão social começou a ser discutida e foi percebida a necessidade de
uma revisão do papel do Estado. Por conta disto, na década de 1920 houve
uma ampla abordagem na área da saúde e bem-estar; dentre eles, por
exemplo, anúncios de sabonete mostravam com nitidez a preocupação não
apenas com a higiene, mas também com a beleza e a estética.
Charge alusiva à chegada da gripe espanhola no Jornal Gazeta do Povo, de 1918
Anúncio dos produtos Tayuya, sabão Aristolino e xarope Grindelia, de 1924
Anúncio da Pomada Onken no Jornal O Farol Paulistano, de 1922
Anúncio do xarope Rhum Creosotado, de 1920
Anúncio da Cafiaspirina na Revista A Vida Moderna, de 1924
Anúncio do Lybiol na Revista A Vida Moderna, de 1924
Anúncio do Guaraná Espumante na Revista A Garoa, de 1921
Em 1926 pode-se perceber a presença cada vez mais acentuada das
empresas norte-americanas no Brasil. Entretanto, diversas questões de
ordem política que ocorreram nos anos seguintes (a crise de 1929, o
Golpe de 1930 e a Revolução Constitucionalista de 1932, que pretendia a
derrubada do Governo de Getúlio Vargas) não somente abalaram a economia
brasileira, como também paralisaram por um momento a propaganda
impressa.
Anúncio de touca onduladora FA-DA, de 1932
Anúncio da Loção Phenomeno na Revista Anauê, de 1937
Anúncio da empresa Light na Revista Anauê, de 1937
Anúncio de Mitigal na Revista Anauê, de 1937
Com a consolidação do rádio como veículo de comunicação de massa a
publicidade redescobriu-se: anúncios que até então eram somente
impressos, agora ganhavam vida com a possibilidade do uso de sons, vozes
e jingles. Esse foi o tempo da consolidação de alguns slogans, como: “É
mais fácil um burro voar que a Esquina da Sorte Falhar” e “Com
guarda-chuva Ferretti, pode chover canivete”.
Com uma visível profissionalização dos que faziam a propaganda se
principiou a dizer “a propaganda é a alma do negócio”. Alguns anos mais
tarde, em 1949, nasceram os convênios entre agências de propaganda e a
Associação Brasileira de Agências de Propaganda (ABAP). Zeca Martins,
autor de Propaganda é isso aí (Atlas, 2004) ratifica o
progresso da publicidade brasileira: "(...) como terceiro salto
histórico, temos o incansável e constante desenvolvimento dos meios de
comunicação, particularmente dos eletrônicos, a partir do final da
década de 50 (...) possibilitando o surgimento quase diário de novas
técnicas e manifestações estéticas no mundo da Propaganda".
Em 1950, o Brasil recebeu sua primeira emissora de TV, a Rede
Televisão Tupi de São Paulo. Mil pessoas foram convidadas por Assis
Chateaubriand para assistir ao evento. Cerca de 200 aparelhos de TV
foram espalhados nas casas de poucos escolhidos, não tardando a
tornar-se item recorrente em quase todos os lares do país,
principalmente em meados dos anos 1960, com a chegada da televisão em
cores.
Ouça abaixo alguns jingles veiculados no rádio durante as décadas de
1930-40 e assista às primeiras propagandas da televisão brasileira.
Artigo da autoria de Anna Anjos. Anna Anjos é ilustradora e
tem a cultura brasileira como principal referência em seu trabalho.
Alimenta-se de brilhos cósmicos na centopéia das mil faces. Viaja pela
vida sem passagem de volta
. Saiba como fazer parte da obvious.
Manoel Bastos Tigre, o primeiro bibliotecário concursado do Brasil, também foi jornalista, poeta, compositor, teatrólogo, humorista, engenheiro e, no que interessa aqui, publicitário. É o autor do slogan: "Se é Bayer é bom"; Em 1934 escreveu a letra, que foi musicada por Ary Barroso e interpretada por Orlando Silva de Choop na garrafa o primeiro jingle publicitário brazuca.
Paz e bem!
ResponderExcluirManoel Bastos Tigre,
o primeiro bibliotecário concursado do Brasil,
também foi jornalista, poeta, compositor,
teatrólogo, humorista, engenheiro
e, no que interessa aqui, publicitário.
É o autor do slogan:
"Se é Bayer é bom";
Em 1934 escreveu a letra,
que foi musicada por Ary Barroso
e interpretada por Orlando Silva
de Choop na garrafa
o primeiro jingle publicitário brazuca.