Nos anos 1970 e 80, Las Vegas
cresceu a uma velocidade alucinante, mas o atual estado cambaleante da
economia global faz com que a cidade americana famosa por seus cassinos
olhe com um pouco de inveja para suas semelhantes na China - ainda que
estas possam estar seguindo o mesmo caminho.
Las Vegas ilustra o quanto a arquitetura de
cassinos é variada: abriga desde pirâmides a castelos medievais e
circos. "Vale tudo", diz Paul Steelman, arquiteto especializado na
construção de cassinos.
Mas Steelman revela que existe uma regra de ouro: nada de espelhos.
"Isso porque a chave dos cassinos é a ilusão",
explica ele. "Você entra num cassino para sentir-se como James Bond. A
última coisa que quer é dar uma olhada em si mesmo pelo espelho. Você
verá sua barriga flácida ou as espinhas na sua cara e, num segundo, a
ilusão se desintegrará e você parará de jogar."
Mas, na conhecida Strip, em Las Vegas, a
indústria do cassino - assim como o apostador que acaba de se olhar no
espelho - está sendo forçada a lidar com seus entraves.
A cidade ainda anda cheia de visitantes e de
atrações, mas uma construção específica exemplifica os problemas
enfrentados por Las Vegas: o Fontainbleau era para ter sido um complexo
com 3.889 quartos de hotel, 24 restaurantes e - é claro - um enorme
cassino. Mas ele nunca abriu suas portas.
Seus financiadores foram à falência após gastar US$ 3 bilhões no local. Agora, o Fontainbleau é apenas um esqueleto na paisagem.
A construção do complexo - bem como a boa fase
de Las Vegas - foi interrompida em plena crise financeira global,
quando, após décadas de crescimento ininterrupto, a "Sin City" tornou-se
a capital da reintegração de propriedades nos EUA.
Competição chinesa
Ainda assim, Paul Steelman tem trabalhado
bastante. Isso porque a liderança de Las Vegas está sendo superada por
concorrentes chineses.
Steelman está projetando cassinos em Macau, o pequeno território localizado em Mar do Sul da China.
Em 2006, Macau eclipsou Las Vegas ao superá-la
nas receitas produzidas pelos jogos de azar. Agora, a ilha fatura US$ 30
bilhões com o setor anualmente, cinco vezes mais do que a "Sin City".
Um detalhe, porém: neste ano, o crescimento de
Macau perdeu fôlego pela primeira vez desde que o jogo de azar foi
liberado na ilha, há uma década. O motivo pode estar na concorrência de
diversos cassinos construídos na China continental, inclusive imitando o
Fontainbleau.
O impressionante é que, assim como o
Fontainbleau, muitos desses empreendimentos estão vazios, apesar dos
bilhões investidos nas construções de suas enormes torres, muitas com
prédios residenciais nunca ocupados.
Um exemplo é Kangbashi, uma verdadeira cidade
fantasma no interior da China. Ali há centenas de prédios nunca
ocupados, rua após rua.
A cidade foi projetada para abrigar mais de 1
milhão de moradores, mas hoje tem apenas um bar - e a reportagem da BBC
era a única clientela na noite em que visitou o local.
Apostas malsucedidas
Um empreendedor de Las Vegas comentou que, antes
da crise, em 2006, cerca de um terço da população da cidade americana
estava empregada na construção civil. Vegas estava "apostando no jogo de
azar do crescimento", ele ironizou.
Hoje, vemos que essa aposta não se pagou: o
ciclo de crescimento foi quebrado e a riqueza da cidade evaporou à
medida que os preços dos imóveis entraram em colapso, assim como em
outras cidades americanas.
A China é, atualmente, um dos poucos pontos de
expansão econômica do mundo. Mas, diante de seus empreendimentos
fantasmas, talvez precise pensar na advertência de Paul Steelman quanto a
olhar-se no espelho em cassinos.
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