sexta-feira, 1 de junho de 2012

Obras faraônicas fazem regiões da Espanha deverem o que não têm


A Cidade das Artes e Ciências de Valência está em funcionamento
Três anos atrás, o prefeito de Alcarcon embarcou em um projeto extremamente ambicioso.
Cerca de 100 milhões de euros deveriam ser investidos em um centro cultural de relevância internacional, completo, com nove edifícios, três pisos subterrâneos, e até mesmo um circo.
Mas não deu certo.
A área onde o projeto estava sendo construído nos dá agora apenas uma triste visão.
No local, fios pendurados e construções futuristas semi-acabadas estão cobertas com grafites e permanecem protegidas por cercas de ferro.
Um projeto que era para colocar o local no mapa se tornou símbolo de um velho mau hábito na Espanha, o gasto excessivo das províncias.
Muitas regiões do país devem bilhões de euros, em parte porque políticos locais construíram de aeroportos e piscinas a gigantescos projetos culturais durante os tempos de prosperidade.
Alguns destes projetos estão inacabados, vazios ou inativos. Outros foram concluídos conforme planejado.
Mas a maioria deles têm uma coisa em comum: deixaram grandes buracos nas finanças públicas.
Observe o caso de Valência, onde a Cidade das Artes e Ciências foi inaugurada em 1998. A iniciativa cultural foi concluída, está em pleno funcionamento e é muito impressionante.
Mas o seu deficit orçamentário é de cerca de 600 milhões de euros, com a mídia local alegando que os custos dobraram para quase 1,3 bilhão de euros.

Buraco negro

Alcarcon, nos arredores de Madrid, mudou de prefeito há um ano.
David Perez Garcia é o novo homem no comando da cidade, onde cerca de 180 mil pessoas vivem.
Ele diz que as taxas de legalização e custos fora de controle empurraram o preço final do centro local de cultura e artes para para 170 milhões de euros.
"Isso está devorando todos os recursos da cidade", diz ele, apontando para a forma como a cidade foi deixada pode seu sucessor, com 612 milhões de euros em dívidas.
"Até mesmo as faturas de eletricidade não estão sendo pagas. Todo o dinheiro que foi colocado neste edifício."

Construa agora, pague depois

De acordo com Llatzer Moix, autor de "Miracle architecture", o sucesso do museu Gugenheim em Bilbao, que atrai quase um milhão de visitantes todos os anos, provocou em outras cidades espanholas "inveja cultural".
Havia uma mentalidade de "meu vizinho tem esse equipamento cultural novo e maravilhoso, então eu quero um outro como o deles, ou provavelmente até mesmo um melhor", diz ele.
Bem como grandes projetos culturais, a infraestrutura de transporte da Espanha cresceu exponencialmente durante os anos do boom.
A construção do novo aeroporto, que custou 150 milhões de euros à comunidade autônoma de Valência, no leste da Espanha, terminou em março do ano passado.
Mas sequer um único avião aterrissou em sua pista.
Em Ciudad Real, a curta distância de trem ao Sul de Madri, um outro caro aeroporto está vazio.
"Um aeroporto em Ciudad Real, para quê?", pergunta Celestino Suero, da CE Consulting, empresa de consultoria espanhola. "Ninguém usa."
Projetos falhos deveriam ser simplesmente fechados, Suero insiste, pedindo mais controle do governo central sobre as finanças das regiões espanholas.
"A Espanha tornou-se um país em que cada região faz o que quer", diz ele.
"Os problemas da Espanha não serão resolvidos, a menos que suas comunidades autônomas sejam devidamente reguladas."

Dívidas com os pequenos

O aumento do deficit no orçamento da Espanha, de 8,5% do PIB no ano passado para 8,9% em 2012, tem sido atribuído às regiões endividadas.
Como resultado, o governo central de Madri estabeleceu uma apertada meta de deficit de 1,5% do orçamento para todas as comunidades autônomas para este ano.
A administração também vai oferecer empréstimos baratos aos governos regionais para que possam pagar as suas dívidas.
A esperança é que isso ajude a acalmar a Comissão Europeia, que no início desta semana disse que estava pronta para adiar a meta de deficit orçamentário de 3% do PIB para a Espanha de 2013 para 2014, sob a condição de que as regiões espanholas também coloquem suas finanças públicas em ordem.
Grande parte da dívida dos governos regionais do país é devida a pequenas empresas locais, que realizaram trabalhos e ainda não foram pagas.
Enrique Martin é dono da Distripaper, gráfica e empresa de relações públicas em Alcarcon.
A antiga administração municipal lhe deve 80 mil euros por um trabalho em uma campanha de marketing.
Porque não recebeu, ele teve que demitir cinco de seus 11 funcionários.
Ele acredita que a ideia de construir um centro cultural de milhões de euros na cidade foi um erro desde o início.
"Era grande demais para uma cidade como a nossa", diz ele.
"O custo era muito alto."

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