NESTAS CÚPULAS de nações e de povos, dificilmente haverá momento tão
esclarecedor sobre as limitações do slogan "economia verde" quanto o
propiciado ontem no Forte de Copacabana pelo Fundo Brasileiro para a
Biodiversidade (Funbio), com patrocínio do Instituto Arapyaú e apoio do
Vitae-Civilis e da Climate Works Foundation.
Ao contrário das atividades chapa-branca do Riocentro, assim como da
maioria dos eventos paralelos que pululam pelos arredores, foi possível
assistir a um ótimo confronto entre três visões sobre os rumos da
economia global, duas das quais antagônicas.
O fraco bom-mocismo do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga
contrastou com as análises dos dois acadêmicos que intervieram nessa 11ª
sessão dos "Diálogos Sustentáveis": Tim Jackson, da Universidade de
Surrey, autor do ícone sobre o tema "Prosperidade sem crescimento"
(Earthscan, 2009), e Ricardo Abramovay, da FEA/USP, que lança hoje o
livro "Muito Além da Economia Verde".
Os dois professores não creem, como Fraga, na eternidade do crescimento
econômico. Afirmam que, em países sem aumento populacional e sem
pobreza, o desenvolvimento humano não precisa mais de expansão do
sistema econômico. Todavia, como é gigantesca a inércia da exigência
inversa, absolutamente obrigatória por mais de dez milênios, vai demorar
muito para que essa ficha possa cair.
Por isso, em vez de buscar a estabilização de suas economias, essas
sociedades mais avançadas caem na pior armadilha contemporânea, ao terem
que estimular o desperdício. Fazem de tudo para que seus consumidores
gastem o que não têm para comprar o que não precisam com o propósito de
impressionar pessoas que nem sequer admiram.
Até que seja possível sair de tal labirinto, será esse "dilema do
crescimento" que dominará a macroeconomia das nações com população
estável e pobreza erradicada. Depende de esquizofrênico consumismo a
estabilidade social do capitalismo avançado.
Nesse contexto, a "economia verde" só pode ser paliativa, pois mesmo que
reduza o teor de carbono e de insumos naturais das mercadorias, é
incapaz de diminuir o resultante impacto ambiental. A expansão desse
consumo sempre ultrapassa os ganhos ambientais relativos, inviabilizando
a queda da pegada ecológica.
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