Bianca Pyl/Repórter Brasil
Jovem
cuida do filho recém nascido enquanto trabalha. O carrinho fica ao lado
da máquina de costura em fornecedora da Gregory, denunciada por
trabalho escravo
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Internautas dizem que não querem roupas da loja “nem de graça”
Isabela Azevedo, do R7, em Brasília
Depois
que 23 trabalhadores bolivianos em condição análoga à de escravo foram
resgatados durante fiscalização em quatro oficinas de costura da
Gregory, internautas têm postado mensagens no Facebook repudiando a
marca.
Foi encontrada, por exemplo, uma jovem que mantinha o filho
recém-nascido no colo amamentando enquanto costurava um vestido de
renda. Além disso, os armários permaneciam trancados para que os
funcionários não pudessem comer sem autorização.
Esses funcionários afirmaram que precisavam do consentimento do
patrão para deixar o local de trabalho — o que nem sempre era permitido.
Eles trabalhavam das 7h às 22h.
A Gregory foi autuada no último dia 15. Diante das constatações, a
internauta Tati Nogueira não poupou a marca na perfil da Gregory no
Facebook.
— Loja com suspeita de trabalho escravo não quero nem de graça!
A usuária do Facebook Aline Aguiar também se juntou ao coro.
— Decepção. Gregory produz lindas peças à custa da liberdade e da
dignidade de trabalhadores. Isso é crime e quem consome produtos da
marca está sendo conivente.
Outro lado
A Gregory postou uma mensagem na rede social para se justificar aos
internautas e argumenta que foram as fornecedoras que praticavam o
trabalho escravo e não a marca.
A nota informa que "a Gregory nunca teve qualquer tipo de relação com
as oficinas mencionadas, não remete tecido para beneficiamento e não
utiliza intermediários ou tomadores de mão de obra de qualquer espécie. A
Gregory realiza operações puramente comerciais, comprando peças prontas
e acabadas, produzidas exclusivamente por seus fornecedores. A empresa é
contra qualquer tipo de trabalho em condições consideradas análogas à
escravidão".
Trabalho escravo nas cidades
A atenção dos fiscais ao trabalho escravo em ambiente urbano tem
crescido nos últimos quatro anos. Antes disso, a ação do Ministério do
Trabalho estava mais focada nas áreas rurais, de acordo com o chefe da
Divisão de Fiscalização para a Erradicação do Trabalho Escravo do
ministério, Alexandre Lyra.
— No meio rural, a fiscalização ao trabalho escravo se desenvolve
desde 1995. Já no meio urbano ela tem acontecido nos últimos anos. Não
sei se, no meio urbano, o trabalho escravo tem crescido ou se a gente
tem se estruturado melhor para enfrentar.
Desde 1995, mais de 42 mil trabalhadores foram libertados, segundo o
Ministério do Trabalho. Ainda não há dados precisos sobre a libertação
de empregados em situação análoga à de escravo em áreas urbanas. Mas,
sabe-se que a construção civil é quem mais emprega pessoas nessas
condições, seguida da indústria têxtil. No ano passado, o trabalho
escravo em zona urbana foi muito divulgado a partir da autuação da
empresa Zara. A grife de roupas espanhola mantinha fábrica com 16
trabalhadores em condição análoga à de escravo em uma fábrica na Zona
Leste de São Paulo.
PEC do Trabalho Escravo
Uma das inovações da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) sobre o
Trabalho Escravo, aprovada na última terça-feira (22) na Câmara dos
Deputados, é a previsão de punição elevada para empregadores de
trabalhadores escravos também em zonas urbanas. Segundo o texto
aprovado, os empresários que empregam força de trabalho escrava, tanto
em meio urbano como rural, podem ter as terras ou bens desapropriados. O
deputado Valdir Colatto (PMDB-SC), membro da bancada ruralista,
criticou a proposta.
— Temos que acabar com essa história de que o trabalho escravo
prejudica a imagem do Brasil. Isso é uma desculpa para o governo pegar
os bens dos produtores de graça.
Apesar da resistência da bancada ruralista, a proposta foi aprovada
com folga. Foram 360 votos a favor, 29 contra e 25 abstenções.
O texto ainda precisa ser analisado pelos senadores.
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